Pesquisadores do Ceará criaram um cimento mais resistente, econômico e que ajuda a diminuir a emissão de gases de efeito estufa. De acordo com a Universidade Federal do Ceará (UFC), mais de 90% dos materiais usados na fabricação do produto vêm de resíduos das indústrias siderúrgicas do Estado.
Além disso, a reciclagem de resíduos é uma boa estratégia para contribuir com a economia circular, como explica o professor Lucas Babadopulos, um dos inventores da patente. "Uma vez que os materiais utilizados para produção do cimento geopolimérico são resíduos industriais de baixo valor agregado, o cimento produzido a partir desse material tende a ser economicamente competitivo no futuro, desde que haja escala de produção industrial", afirma.
A fórmula do 'ecocimento' foi desenvolvida nos laboratórios do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC) e recebeu, em março deste ano, a carta-patente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). O ecocimento é produzido a partir de resíduos industriais, como escórias de aciaria - um subproduto da fabricação de aço - e cinzas volantes, que resultam da queima de carvão nas termelétricas.
Babadopulos esclarece que "o que foi tratado como 'cimento verde' é o que se chama na literatura acadêmica de ligante álcali-ativado, algumas vezes também referido como geopolímero."
Resíduos locais
Outra inovação central da patente está no uso de resíduos locais específicos, como a escória de aciaria do tipo BSSF, em vez da tradicional escória BOF. "A diversidade de soluções locais é uma das principais justificativas para a patente. A proporção de ingredientes adequada, também coberta pela patente, é essencial para o desempenho do material," explica.
No Brasil, apesar da produção em larga escala ainda estar incipiente, já há interesse de empresas do setor. Projetos como o desenvolvimento de blocos intertravados com concreto geopolimérico, utilizando agregados de resíduos industriais, mostraram resultados promissores, conforme apresentado na dissertação de Madson Lucas de Souza, recentemente defendida na UFC.
Quanto à resistência e durabilidade, Babadopulos pontua que "dependendo da aplicação e da receita usada para fabricação, o concreto geopolimérico pode ter resistências iguais ou melhores que as de um concreto convencional." Atualmente, três empresas privadas já demonstraram interesse na tecnologia, que conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).