Uma espécie de cobra tem causado preocupação entre os biólogos e provocado um desequilíbrio ambiental devido a um hábito incomum entre os animais. A cobra-arbórea-marrom (Boiga irregularis) causou a extinção de algumas espécies de pássaros que vivem em Guam, um território no Oceano Pacífico pertencente aos Estados Unidos. O motivo? Ela mata pássaros maiores do que consegue comer.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
O réptil foi inserido acidentalmente na região depois da 2ª Guerra Mundial, e, agora, um estudo da revista científica Ecology and Evolution mostra os impactos ambientais causados pela cobra. Segundo o estudo, a cobra já extinguiu algumas espécies nativas de lagartos, morcegos e 11 aves.
Os pesquisadores relataram que os danos ecológicos causados pela cobra-arbórea-marrom se deram pelo fato de elas matarem animais maiores do que são capazes de comer. Para tanto, essas cobras se lançam de galhos e troncos de árvores, o que facilita que elas matem duas vezes mais aves do que conseguem consumir, segundo a revista Science. Uma das principais presas é a ave estorninho-micronésio (Aplonis opaca).
Quando filhotes, as cobras-arbóreas-marrons comem lagartos pequenos, mas, ao crescerem, a preferência alimentar muda para roedores e pássaros. Ao se tornarem adultas, as cobras podem chegar a 3 metros de comprimento.
Os répteis dessa espécie foram responsáveis pela extinção da ave papa-moscas-de-guam (Myiagra freycineti) em 1983. O martim-pescador-de-guam (Todiramphus cinnamominus) ainda sobrevive, mas apenas em cativeiro, devido à atividade predatória das cobras.
Controle da população
O impacto da espécie no meio ambiente tem chamado a atenção de pesquisadores do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS). Os especialistas se esforçam em capturar a população de cobras-arbóreas-marrons em Guam por armadilhas ou por envenenamento. Para essa última tática, eles adotam uma estratégia curiosa: lançam nas florestas ratos envenenados com paracetamol, a partir de helicópteros.
Os especialistas avaliam que as cobras menores poderiam associar que os pássaros muito grandes não serviriam como alimentação, e, por isso, elas não representariam um risco para o ecossistema.
No entanto, segundo Martin Kastner, estudante de doutorado na Universidade Estadual da Virgínia (Virginia Tech), em entrevista à Science, não é esse o comportamento observado na cobra-arbórea marrom.
Kastner é um estudioso da preservação do estorninho-micronésio, e relatou que os adultos dessa espécie só estão seguros de possíveis ataques da cobra quando estão no ninho. Porém, os filhotes são presas mais fáceis por ficarem fora do ninho nas primeiras semanas de vida, quando ainda não sabem voar.
A investigação dos pesquisadores mostrou que, dos 461 pássaros monitorados, 171 foram mortos. Metade deles foram encontrados dentro de cobras e cerca de 48% estavam abandonadas e com muco, um forte indício de que as cobras os mataram, mas não conseguiram comer.
Dessa forma, o estudo provou que as cobras ingeriam aves com 30% de seu peso corporal. Para comparação com seres humanos, isso equivaleria a uma pessoa engolindo um castor com uma mordida.
Preservação
Agora, o projeto National Park Service busca remover as cobras-arbóreas-marrons em Guam, e os pesquisadores esperam que esse método seja capaz de restaurar a biodiversidade nativa, principalmente entre os pássaros.
A meta é que as aves possam se reproduzir sem intervenções extremas de predadores. Algumas espécies foram protegidas em cativeiro ou nas Ilhas Marianas, o que traz a esperança de que o bioma de Guam possa ser restabelecido.