Os detritos plásticos estão por toda parte no oceano — e até no nosso cérebro. Uma investigação conduzida pela Faculdade de Medicina da USP, em colaboração com pesquisadores estrangeiros, identificou fibras e partículas de plástico no cérebro de indivíduos já falecidos que não tiveram contato direto com a indústria de produção desse material. O polipropileno, comum em roupas, embalagens de alimentos, garrafas e pneus, foi o tipo mais comum encontrado, possivelmente por ser inalado.
Essa descoberta mostra como os microplásticos estão espalhados por todos os lugares, até onde menos esperamos. Diante desta crescente preocupação ambiental e de saúde, a ciência continua buscando soluções. Uma equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) está usando nanotecnologia para criar novas embalagens biodegradáveis capazes de minimizar a poluição causada por microplásticos.
A pesquisa, coordenada pela professora Maria Inês Bruno Tavares, do Instituto de Macromoléculas da UFRJ, integra bioativos naturais a polímeros biodegradáveis, resultando em embalagens mais sustentáveis e eficazes. Os avanços já renderam dois artigos publicados recentemente na revista científica internacional Journal of Applied Polymer Science (em português, Jornal de Ciência Aplicada de Polímeros), incluindo um destaque na capa de maio.
Aplicações industriais
A equipe multidisciplinar composta por 34 integrantes, incluindo estudantes de graduação, mestrandos e doutorandos, emprega métodos ecológicos inovadores em suas pesquisas. Trabalhando com resíduos como casca e caroço de manga, a equipe demonstra como a nanotecnologia pode ser uma poderosa aliada na luta contra a poluição por microplásticos. A inovação promete posicionar o projeto como uma referência global em sustentabilidade e abrir caminho para uma nova era de embalagens ecológicas no mercado.
A escolha pelo nanoencapsulamento dos bioativos, uma técnica que permite o uso eficiente de pequenas quantidades de bioativos, é guiada pelo uso de fontes renováveis e pela garantia de que não haverá competição com os alimentos. "A extração é realizada de maneira extremamente verde, refletindo nosso respeito pelo meio ambiente", reforça a coordenadora.
Segundo Ítalo Braga, professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), o principal desafio da produção de plásticos biodegradáveis é sua aderência ao mercado. Embora já existam produtos desenvolvidos nesse sentido, eles ainda enfrentam obstáculos significativos para ganhar popularidade.
"Esses materiais ainda enfrentam baixa competitividade de preço e a falta de versatilidade. Por exemplo, enquanto os plásticos convencionais podem ser utilizados tanto para bebidas quentes quanto frias, os biodegradáveis geralmente apresentam limitações nesse sentido", explica.
Atualmente em fase de patenteamento e com um financiamento de R$ 5 milhões da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a pesquisa agora busca parcerias empresariais para a produção em escala industrial, especialmente no setor alimentício, onde frutas, queijos e outros alimentos podem se beneficiar dessa tecnologia.