Uma pesquisa descobriu que golfinhos e botos possuem um 'sétimo sentido' para caçar presas no fundo do mar, usando a eletrorrecepção. Esta habilidade pode ajudar a desenvolver tecnologias que combatam as consequências das mudanças climáticas.
A descoberta de um 'sétimo sentido' que ajuda golfinhos a caçar pode ajudar a humanidade a desenvolver tecnologias que auxiliem no combate às consequências das mudanças climáticas. Uma série de estudos provou que os botos-cinzas e, mais recentemente, os golfinhos-nariz-de-garrafa, podem buscar presas no fundo do mar usando a eletrorrecepção.
Enquanto a maior parte das espécies tem cinco sentidos (visão, paladar, audição, tato e olfato), morcegos e mamíferos marinhos - como golfinhos e baleias - podem usar a ecolocalização para caçar. Mais recentemente, pesquisadores alemães apontam que alguns golfinhos e botos também podem detectar campos bioelétricos para encontrar presas escondidas sob o leito dos oceanos.
Um dos responsáveis pela descoberta, o biólogo Guido Dehnhardt, da Universidade de Rostock, na Alemanha, explicou ao Terra como os golfinhos tiram proveito da habilidade e como isso pode ser aplicado contra o aquecimento da água do mar.
Co-autor do estudo publicado em 2011, quando descobriu a eletrorrecepção em botos-cinzas, Dehnhardt também ajudou a encontrar vestígios da habilidade nos golfinhos-nariz-de-garrafa, em um artigo publicado em 2023. Ambas as espécies habitam o litoral brasileiro e da América do Sul.
"O sistema nervoso é baseado em pulsos elétricos, o corpo é cheio de eletricidade. Na água, peixes podem criar um campo elétrico fraco ao seu redor só pela respiração ou um movimento leve. Alguns animais são sensíveis a esses campos", explica o biólogo. A habilidade, segundo ele, é considerada rara.
Em animais terrestres, vestígios de eletrorrecepção foram encontrados somente no ornitorrinco e na equidna australiana. "Até então, nenhum outro mamífero tinha apresentado esse sentido especial", acrescentou.
Combate às mudanças climáticas
"Fomos os primeiros a descobrir a eletrorrecepção em golfinhos nativos do Atlântico sul", afirmou Dehnhardt. A novidade surgiu a partir do estudo de vestígios de vibrissas, popularmente conhecidas como bigodes, como os de gatos e focas, em golfinhos. Os recém-nascidos nascem com os pelos sensoriais na região do focinho, que caem quando chegam à idade adulta.
"Apontamos uma câmera infravermelha para a face dos golfinhos e percebemos que as áreas onde ficavam os bigodes eram mais quentes e haviam circulação de sangue mais intensa. Se há mais sangue, quer dizer que essas regiões tem alguma função para o animal", explicou o biólogo.
Segundo Dehnhardt, a água do mar estimula terminações nervosas nos orifícios deixados pelos bigodes dos golfinhos. "Fizemos alguns testes nos botos-cinzas e percebemos que, sim, eles respondem a campos elétricos de baixa voltagem".
Além de ajudar a entender a anatomia dos golfinhos, os resultados das pesquisas podem ajudar a produzir tecnologias para detectar distúrbios no oceano, como o aquecimento da temperatura da água.
"Esses animais podem detectar campos elétricos e entender quando devem se afastar. Com essa tecnologia, especialistas em robótica podem entender a mudança das correntes marítimas, com robôs submarinos ultrassensíveis capazes de medir essas mudanças e entender suas causas", afirma.
Dehnhardt ressalta, por exemplo, as turbulências causadas pela mistura entre água fria e quente: "É algo crítico para os efeitos climáticos, que tem um grande efeito para o equilíbrio dos ecossistemas. Ainda não temos tecnologia para medir com tanta eficiência essas turbulências, que às vezes podem ser mínimas, mas é onde as mudanças climáticas começam no mar".