O estudo publicado na revista científica Nature aponta que a meta de aumento da temperatura global prevista para 2100, estabelecida no Acordo de Paris de 2015, deve ser atingida em 2030.
O planeta está próximo de alcançar a meta negativa de aumento de temperatura global prevista para 2100, segundo um estudo publicado na revista científica Nature nesta segunda-feira, 5. A marca, estabelecida no Acordo de Paris, de 2015, deve ser atingida em 2030, se considerado o atual ritmo do aquecimento global.
Os sucessivos recordes de temperatura registrados em 2023 acenderam um alerta entre os pesquisadores de clima. Uma das metas do tratado internacional, por exemplo, consiste em impedir o aumento da temperatura global em 2°C até 2100. Porém, segundo o estudo, o patamar pode ser alcançado 70 anos antes.
Uma submeta importante do Acordo de Paris também já foi descumprida. Os países signatários concordaram em evitar que a alta das temperaturas chegasse a 1,5°C nas próximas décadas, no entanto, o aquecimento global já alcançou a marca de 1,7°C, segundo os pesquisadores da Universidade da Austrália Ocidental, responsáveis pelo estudo.
As pesquisas utilizaram um novo método de medição a partir de amostras de esponjas marinhas coletadas no Mar do Caribe. As escleroesponjas, como são conhecidas as formações de corpo macio e esqueleto de calcário, ajudam os especialistas a medir as temperaturas do oceano superior, que interage com a atmosfera.
Com esses animais, é possível analisar temperaturas de até 300 anos, do período pré-industrial, uma vez que o lugar onde se encontram é protegido contra correntes marítimas e apresenta menos variações de temperatura em comparação a outras regiões do oceano.
O parâmetro pré-industrial é utilizado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) como referências para o aumento das temperaturas globais. Esse período consiste nas décadas entre 1850 e 1900, quando os primeiros instrumentos de medição passaram a ser utilizados para medir a temperatura dos oceanos.
Com a análise das amostras de esponjas marinhas, porém, os pesquisadores puderam ir além e perceber que os dados sobre o aquecimentos global estavam defasados.
O que as esponjas mostram
Os esqueletos das esponjas mostram que os oceanos tiveram aquecimento de 0,2ºC entre 1700 e 1850. Assim, os pesquisadores apontam que, na verdade, o planeta está 1,7ºC mais quente, 0,5ºC do que apontava o relatório do IPCC.
"É uma diferença enorme em comparação ao aquecimento global total", afirmou o autor do estudo, o oceanógrafo Malcolm McCulloch.
Segundo o IPCC, esse aumento pode desencadear catástrofes ambientais cada vez mais frequentes. Para evitar o patamar negativo, seria necessário zerar a emissão de gases poluentes até 2030, o que parece improvável, aponta o painel.
"A conclusão permanece: a humanidade entrou num território climático novo, jamais visto pela nossa espécie em 250 mil anos de existência, e a culpa é inteiramente das atividades humanas ao longo dos últimos 150 ou 200 anos", afirma Claudio Angelo, coordenador de Incidência Climática do Observatório do Clima.