O governo de Mato Grosso do Sul, no Centro-Oeste, decretou situação de emergência nesta segunda-feira (24/06) por causa dos incêndios que já consumiram cerca de 600 mil hectares no Pantanal em 2024.
No total, o fogo já destruiu 148 mil hectares no estado vizinho de Mato Grosso e 480 mil no Mato Grosso do Sul. As estatísticas são do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Segundo dados do início de junho, área afetada por queimadas no Pantanal é 700% maior do que no mesmo período de 2020 (Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS)
O decreto de emergência vale para as cidades atingidas pelos incêndios, mas o texto publicado no Diário Oficial não cita quais são os municípios. A medida deve permitir, por exemplo, que ocorram licitações sem edital para ações emergenciais.
O texto é válido por 180 dias e autoriza ainda a convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desastre e a realização de campanhas de arrecadação de recursos com o objetivo de facilitar as ações de assistência à população afetada pelo desastre, sob a coordenação da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil (CEPDEC/MS).
Ainda de acordo com o texto, as autoridades administrativas e os agentes de defesa civil, diretamente responsáveis pelas ações de resposta aos desastres, em caso de risco iminente, estão autorizadas a entrar nas casas, para prestar socorro ou para determinar a pronta evacuação; bem como a utilizar propriedades particulares.
A União também anunciou que vai enviar mais três aeronaves do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e outras quatro de grande porte do Exército para combater as queimadas - dois modelos Air Tractor já estão em Corumbá, um dos municípios mais atingidos pelo fogo.
O governo federal também autorizou o envio de 50 homens da Força Nacional para atuarem diretamente contra os focos.
Queimadas na região em 2024
Mato Grosso do Sul vem enfrentando, desde o início do ano, uma seca, com estiagem prolongada em grande parte do território. Dados do Monitor de Secas da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), mostraram que, desde o final de maio, houve uma intensificação nas condições de seca no estado, levando a um aumento exponencial dos focos de calor.
O Pantanal pode estar diante da temporada mais destruidora de toda a sua história em termos de queimadas. Nas duas primeiras semanas de junho, o número de focos de incêndio era de quase 700% maior do que no mesmo período de 2020, o ano da pior crise até então.
O fogo chegou mais cedo em 2024 e pegou algumas equipes de combate em fase de contratação de pessoal. No calendário oficial, as brigadas temporárias contratadas pelo Ministério de Meio Ambiente começam a atuar em junho e costumam, entre agosto e outubro, enfrentar a fase mais crítica.
A temporada precoce de incêndios em 2024 encontra um Pantanal ainda em recuperação. Em 2020, os grandes incêndios no bioma em território nacional consumiram 43% de locais nunca antes queimados e provocaram a mortalidade em massa da vida selvagem.
Ao todo, naquele ano, foram 39 mil quilômetros quadrados atingidos pelas chamas. Um estudo publicado na Scientific Reports, do grupo Nature, estimou a morte de 17 mil animais vertebrados em decorrência de incêndios.
Além disso, o último período chuvoso terminou com pouca água nos rios da região. O monitoramento feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB) aponta que, de todo o volume de chuva esperado, 60% se confirmaram. O mapa que mostra as regiões sob seca produzido pela ANA alerta para zonas críticas justamente sobre o Pantanal.
Uma pesquisa divulgada recentemente pela rede de pesquisa MapBiomas apontou que, proporcionalmente, o Pantanal é o bioma mais afetado por queimadas ao longo dos últimos 39 anos. Foram 9 milhões de hectares, o que representa 59,2% do território que abrange os estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Entre 1985 e 2023, o município de Corumbá (MS) foi o que mais registrou queimadas em todo o país.