Morto na capital, Rio Tietê vira 'paraíso' turístico e fonte de renda no interior de SP

Em homenagem ao Dia do Rio, celebrado nesta sexta, o Terra visitou o balneário de Rio Bonito, uma das regiões onde o Tietê tem boa qualidade

24 nov 2023 - 05h00
(atualizado às 09h29)
Trecho do rio Tietê no balneário de Rio Bonito, em Botucatu (SP)
Trecho do rio Tietê no balneário de Rio Bonito, em Botucatu (SP)
Foto: Gabriel Gatto/Terra

Você mergulharia no Tietê? Para milhões de pessoas que trafegam todos os dias às margens do maior curso d'água de São Paulo, a ideia pode parecer inconcebível. O cheiro forte e as toneladas de lixo que  tomam conta do rio favorecem a repulsa mediante qualquer aproximação. No entanto, a cerca de 240 quilômetros da capital paulista, o 'mergulho' é convidativo em uma impressionante mostra da capacidade de regeneração da natureza, como a própria população que habita no entorno do Tietê afirma.

Um levantamento feito pela ONG SOS Mata Atlântica ao longo de 500 quilômetros do rio Tietê mostra que, no último ano, a mancha de poluição no curso d'água aumentou em 31%, passando de 122 a 160 quilômetros de poluição na área mapeada. Atualmente, 10,2% dessa área apresenta água de boa qualidade, segundo a instituição.

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Para o Dia do Rio, celebrado nacionalmente nesta sexta-feira, 24, o Terra visitou uma dessas regiões onde a água é boa e proporciona 'paraísos' turísticos, como é o caso do balneário de Rio Bonito, em Botucatu, no interior de São Paulo.  

"O Tietê é o ar que eu respiro, minha vida toda sempre foi ligada ao rio, desde a minha infância, na década de 50, até hoje, e é daqui que a gente tira o sustento", conta o guia de turismo Ruy Carlos Pirré, 70, que além de morar há 43 anos no balneário, administra uma empresa de passeios de barco, pesca e entretenimento nas águas do Tietê. 

À primeira vista, é impossível não se emocionar com a beleza do Tietê em Rio Bonito. Ao passar pela capital, o rio é considerado morto devido aos níveis alarmantes de poluição. Mas ao chegar no balneário, as águas renascidas, cercadas por natureza e biodiversidade, proporcionam um verdadeiro espetáculo ambiental. Lagartos, aves e quatis passeiam tranquilamente pelo lugar, alheios à sujeira que uma vez tomou conta do afluente. 

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Guia de turismo náutico Ruy Pirré em Rio Bonito, Botucatu (SP)
Foto: Gabriel Gatto/Terra

Paraíso turístico

Longe dos grandes centros urbanos, o Tietê ganha nova vida e se torna essencial à sobrevivência de parte da população paulista. Pirré conta que o balneário de Rio Bonito recebe durante todo o ano turistas em busca de sossego à beira do rio. "É um lugar muito tranquilo, tranquilo até demais. Mas no calor, fica lotado, é difícil até de andar por aqui". 

Os passeios favoritos, segundo o guia, são as viagens de barco ao longo do reservatório de Barra Bonita, até a foz do Rio Piracicaba. A pesca de corvina, tilápia e outras espécies também é um atrativo em todas as épocas do ano. 

"O pessoal vem mesmo para curtir a água. O forte é o verão. Mas dá para manter um movimento tranquilo ao longo do ano, até mesmo no inverno. As pessoas gostam da tranquilidade", explica o guia. 

Empreendedores também aproveitam o fluxo de turistas e banhistas para investir no balneário às margens do Tietê, como é o caso do comerciante Tarciso Garcia, que recebeu a reportagem do Terra e apresentou parte do potencial turístico da região. Segundo ele, mesmo com o movimento menor de turistas em comparação a anos anteriores, o local tem muita procura, principalmente em meio ao calor. 

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"A pandemia e a situação econômica do país assustaram as pessoas daqui. Hoje, temos 30% do movimento que tínhamos antes de 2020, mas muita gente ainda vem conhecer, ainda mais nesse calor que tem feito nos últimos meses", afirma Garcia.  

Trecho do rio Tietê em Rio Bonito, Botucatu (SP)
Foto: Gabriel Gatto/Terra

Conservação do Tietê

Para conservar os cerca de 1.100 quilômetros de extensão do rio, o Tietê conta com colaborações entre prefeituras, Governo do Estado, Sabesp e instituições ambientais que auxiliam no monitoramento das águas. Segundo Pirré, a instalação de unidades de tratamento de esgoto em cidades que fundeiam o Tietê contribuiu para a melhora da qualidade da água na região. 

"Na década de 80, chegou uma época em que acabaram os campeonatos de nado porque a água estava muito suja e eles se recusavam a nadar, a poluição das cidades tinha chegado aqui. Hoje, isso mudou e dá para nadar no balneário", conta o guia. 

Pirré acompanhou, ao longo de décadas, as transformações no Rio Tietê e afirma que, hoje, a água é boa para os turistas que a procuram, inclusive para banho e pesca. "Hoje, essa região aqui é muito boa, a natureza se regenerou e a gente tem esse paraíso." 

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Enquanto a manutenção da orla de Rio Bonito fica sob responsabilidade da Prefeitura de Botucatu, a qualidade e o monitoramento das águas do Tietê estão sob os cuidados do Governo de São Paulo, com apoio da Sabesp e da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb). 

Maior rio paulista, o Tietê é dividido em seis unidades de gerenciamento de recursos hídricos (UGRHs), também chamadas de bacias hidrográficas. A bacia do rio abrange 365 municípios em uma área de 9.172.066 hectares, com 79% do seu território inseridos no bioma da Mata Atlântica, com mais de 7,2 milhões de hectares, e o restante no Cerrado.

Ao Terra, a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) aponta que vem trabalhando em ações para reduzir a mancha de poluição do Rio Tietê, destacando a ampliação da cobertura de tratamento de esgoto em dois anos, a retirada de mais de 13 milhões de m³ de sedimentos do alto Tietê, até 2026, e monitoramento trimestral da qualidade da água do rio pela Cetesb.

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Fonte: Redação Terra
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