Um ciclone extratropical chegou segunda-feira, 4, ao Sul do País, com rajadas de vento de até 100 km/h, deixando pelo menos sete mortos e milhares de pessoas desabrigadas. Em julho, um outro ciclone provocou a morte de duas pessoas em São Paulo e uma no Rio Grande do Sul. O fenômeno estaria se tornando mais frequente no País?
Especialistas dizem que, por enquanto, não há dados que indiquem um aumento no número de ciclones que atingirem o Brasil. No entanto, há alguns indícios de que o fenômeno pode estar se tornando mais intenso por causa do El Niño e também das mudanças climáticas em curso no planeta.
O ciclone extratropical se caracteriza por ser uma área de menor pressão atmosférica (em relação ao ambiente do seu entorno), em que os ventos giram ao redor do centro, em sentido horário. Em geral, eles estão associados a frentes frias que avançam por áreas de temperatura mais elevadas. Esses sistemas provocam a formação de nuvens, chuvas, ventos fortes e queda na temperatura por onde passam.
O fenômeno meteorológico é considerado comum nas regiões Sul e, em menor escala, Sudeste do País, mas o aumento da temperatura do ar e do oceano em função do El Niño pode estar tornando os ciclones mais intensos. Da mesma forma, as mudanças climáticas em curso podem provocar um efeito semelhante.
Há duas áreas consideradas mais propensas à formação dos ciclones na América do Sul: no extremo Sul, na costa da Patagônia; e na bacia do Prata, na região Sul do Brasil, Norte do Uruguai e Nordeste da Argentina. Na Patagônia a frequência de ciclones é maior durante o verão. No Sul do Brasil, no entanto, o fenômeno é mais comum nos meses de inverno e primavera. Uma terceira região propensa à formação de ciclones é perto da costa de São Paulo.
É sabido que as chuvas tendem a se tornar mais intensas e mais frequentes no Sul do País em períodos de El Niño, o que pode levar à formação de mais ciclones.
"Estamos na época mais propensa à formação de ciclones, inverno e primavera; praticamente todo dia tem um ciclone em algum ponto do oceano", explicou o meteorologista Marcelo Seluchi, coordenador de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). "A diferença, neste ano, é que tivemos uns dois ciclones formados sobre o continente (não sobre o oceano), isso é mais raro."
Estabelecer a relação entre os ciclones e o El Niño ou mesmo as mudanças climáticas é difícil porque temos poucos dados sobre os ciclones. Segundo Seluchi só temos informações mais precisas e confiáveis dos últimos 30 anos, o que não é suficiente para uma série histórica de peso. A sensação de maior frequência dos ciclones também pode estar relacionada ao fato de que a detecção do fenômeno se tornou mais precisa nos últimos anos.
"Não temos estudos que mostrem uma maior frequência de ciclones associada ao El Niño ou ao aquecimento global.", sustenta o climatologista José Marengo, coordenador do Cemaden. "O fato é que os ciclones são comuns nessa região do Atlântico e que existe a possibilidade de que aumentem com o aquecimento global, mas ainda há muita incerteza."