A degradação florestal da Amazônia apresentou alta de 497% em 2024 em relação ao ano anterior, segundo dados do Imazon, instituto de pesquisa que monitora a floresta por imagens de satélite desde 2009. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu até a publicação do texto.
De janeiro a dezembro do ano passado, foram degradados 36.379 km², área maior do que a da Bélgica, o que representou aumento de seis vezes em relação a 2023, chegando ao pior índice desde o início da série histórica.
Já a área desmatada no bioma diminuiu pelo segundo ano consecutivo, com 3.739 km² derrubados de janeiro a dezembro de 2024, redução de 7% em relação ao ano anterior. O País assumiu o compromisso de zerar o desmatamento até 2030.
A degradação difere do desmatamento, em que a cobertura vegetal de uma área é removida totalmente, e está associada aos danos decorrentes da exploração madeireira e das queimadas.
Especialistas apontam que o risco de estiagem severa e de queimadas aumenta por causa das mudanças climáticas. A gestão Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ter ampliado a quantidade de brigadistas e as estratégias para combater crimes ambientais, mas mostrou falhas na prevenção do fogo nos últimos dois anos.
A escalada de incêndios deve ser uma dor de cabeça para o governo neste ano, uma vez que o Brasil vai sediar a Cúpula do Clima das Nações Unidas (COP-30) e pretende se colocar como um protagonistas nas negociações globais para frear o aquecimento do planeta.
Sede da COP-30, em novembro, o Pará foi responsável pelas maiores áreas de desmatamento e degradação no País.
A Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade informou, em nota, que o Estado "segue intensificando os esforços para combater o desmatamento, incêndios florestais e queimadas, fenômenos agravados pelas mudanças climáticas globais" e que monitora e fiscaliza esses eventos a partir da Operação Curupira e Amazônia Viva.
O Imazon atribui a alta ao aumento das queimadas principalmente nos meses de agosto e setembro, quando a degradação cresceu mais de 1000%. Em dezembro, houve queda de 40%.
"Tivemos em 2024 áreas queimadas históricas em extensão, o que mostra que é necessário inserir o combate à degradação de forma mais eficiente no planejamento de fiscalização da Amazônia", disse ao Estadão a pesquisadora do Programa de Monitoramento da Amazônia do Imazon Larissa Amorim.
Por que a degradação é preocupante
Ao comprometer a cobertura florestal e a qualidade do solo, o aumento da degradação intensifica as emissões de gases estufa, causa destruição da flora, perda de habitat e morte da fauna.
Há ainda o problema da fumaça das queimadas, que piorou a qualidade do ar em cidades de todo o Brasil no ano passado, levando a uma explosão de atendimentos no sistema de saúde pública, o SUS.
Para a pesquisadora do Imazon, Larissa Amorim, os impactos da degradação florestal para o ambiente são tão graves quanto os do desmate.
"Os dois são prejudiciais. O aumento alarmante das áreas de degradação preocupa, mas ambos devem ser combatidos", afirma.
Ela avalia que as ações de controle do desmatamento já são mais sistemáticas, enquanto o combate às queimadas costuma ser mais intenso nos meses mais críticos, de setembro a outubro.
Para evitar que o desmate e a degradação aumentem em 2025, ela considera que "os órgãos responsáveis precisam se planejar para a estação seca que virá a partir de maio, além de dar continuidade às ações de fiscalização que já existem".
Por um lado, áreas degradadas por extração madeireira ou por queimada têm a capacidade de recuperar sua cobertura florestal muito mais rápido do que uma área desmatada, em que há retirada completa da vegetação.
Quando as queimadas são recorrentes, porém, a degradação pode atingir patamar "bem próximo ao desmatamento", levando à perda da cobertura florestal, segundo explica a pesquisadora.
Sede da COP30, Pará foi campeão na devastação e desmatamento
O Pará foi o Estado que mais degradou a Amazônia em 2024, sendo responsável por quase metade da área degradada em todo o País: foram 17.195 km², número cinco vezes maior do que no ano anterior, conforme os dados do Imazon
Foi também o que teve a maior área desmatada no bioma, com 1.260 km² perdidos, destaque negativo que se mantém há nove anos consecutivos. No ano passado, o Estado concentrou ainda as Unidades de Conservação e Terras Indígenas mais desmatadas e degradadas em todo o País.
O governo estadual afirma que ações integradas dos órgãos estaduais embargaram, em 2024, mais de 37 mil hectares de áreas utilizadas para atividades ilegais, como desmatamento e garimpo. A Operação Fênix ganhou reforço de 40 novos bombeiros, totalizando 120 profissionais no combate às queimadas, além de oito novas viaturas e abafadores de incêndio e dois helicópteros para o combate aéreo.
Cita ainda o "avanço na implementação de alternativas econômicas que mantém a floresta em pé, incentivando a economia sustentável", por meio do Plano de Recuperação da Vegetação Nativa (PRVN-PA) e do Projeto Valoriza Territórios Sustentáveis (Valoriza TS), parte do o Plano Estadual de Bioeconomia (PlanBio), além do fortalecimento da regularização ambiental rural.