Cerca 37,8% de toda água potável produzida no Brasil foi perdida antes de chegar às residências em 2022. Este volume poderia abastecer 54 milhões de brasileiros por um ano ou garantir o acesso a água tratada por mais cinco anos a toda população do Rio Grande do Sul (estado com 10,6 milhões de habitantes). Os dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil (ITB) mostram também que a redução de perdas da água tratada poderia trazer ganhos de R$ 40,9 bilhões até 2034.
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O País desperdiça diariamente quase 7.636 piscinas olímpicas de água tratada. Ainda segundo o estudo, a proporção é a seguinte: a cada 10 litros de água tratada, 3,78 litros são perdidos.
"Ano após ano, observamos uma lenta evolução nos indicadores de perdas de água, enquanto milhões de brasileiros continuam sem acesso regular e de qualidade a água potável para ter uma vida minimamente digna. São mais de 7,6 mil piscinas de água potável desperdiçadas todos os dias. Além de afetar o abastecimento de água dos habitantes, esse desperdício exacerbado resulta em impactos ambientais severos", avalia Luana Pretto, presidente-executiva do ITB.
Além dos benefícios sociais e ambientais da redução da perda de água potável, o cuidado também pode trazer lucro. Para calcular os ganhos econômicos, o levantamento fez análises a partir de três cenários hipotéticos: otimista, realista e pessimista. Cada um deles responde à média nacional do nível de perdas a ser alcançada em 2034: 15% para o cenário otimista, 25% para realista, e 35% para o pessimista.
No cenário realista, o estudo diz: "É possível constatar que existe um potencial de ganhos brutos com a redução de perdas de água de R$ 40,9 bilhões até 2034. Caso sejam considerados os investimentos necessários para a redução de perdas, o benefício líquido gerado pela redução de perdas é da ordem de R$ 20,4 bilhões em 11 anos".
No cenário otimista, os ganhos brutos aumentariam para R$ 72,90 bilhões e R$ 36,5 bilhões de ganhos quando são considerados os investimentos necessários. No pior cenário, pessimista, seriam R$ 8,90 bilhões de ganhos brutos e R$ 4,49 bilhões de ganhos líquidos.
Por que é importante reduzir a perda da água tratada?
Os efeitos das mudanças climáticas também são refletidos no acesso a água potável. De acordo com o estudo, reduzir as perdas significaria aumentar a disponibilidade de recursos no sistema de distribuição, sem necessariamente aumentar o volume de água captado e explorar novos mananciais. Isso resulta, conclui o estudo, em menores custos e evita prejudicar o meio ambiente.
"A calamidade recente enfrentada pelo Rio Grande do Sul, com enchentes devastadoras, destaca a necessidade urgente de uma gestão mais eficiente dos recursos hídricos no Brasil. A despeito do elevado volume oriundo das chuvas, essa água não é potável, de modo que muitas residências ficaram desabastecidas, pois as estações de tratamento estavam literalmente submersas. Neste sentido, com perdas de água na casa dos 40% no Brasil, onde muitas regiões ultrapassam esse valor, fruto de vazamentos e de gestão ineficaz, é crucial investir em infraestrutura, tecnologia e políticas públicas eficazes", avalia Gesner Oliveira, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EAESP-FGV) e Sócio-Executivo da GO Associado.