Os rios do mundo tiveram o ano mais seco em três décadas. A informação é do novo relatório Estado dos Recursos Hídricos Globais 2023 da Organização Meteorológica Mundial, OMM. (Leia o relatório aqui, em inglês)
A publicação apresentada nesta segunda-feira (7/10), em Genebra, ressalta que os ciclos da água são cada vez mais erráticos devido às mudanças climáticas e exigem maior monitoramento.
Seca na comunidade Nossa senhora de Fatima, no Rio Tarumã Açu, afluente do Rio Negro - Am
(Foto: Clóvis Miranda-Fotos Públicas/ set 2024)
Condições anormais
O estudo destaca que 50% das áreas globais de captação de água subterrânea apresentaram condições anormais. A maioria foi de um déficit idêntico às situações ocorridas nos anos 2022 e 2021.
Entre as regiões mais caracterizadas por seca severa e condições de baixa vazão de rios estão os grandes territórios da América do Norte, Central e do Sul. A situação inclui níveis recordes de água abaixo da média nos rios Amazonas e Mississippi.
Em oito estados do Brasil, as chuvas abaixo do normal na Amazônia causaram a menor precipitação em mais de 40 anos entre julho e setembro. Em outubro, o Rio Negro, em Manaus, registrou o menor nível desde 1902 ao atingir 12,70 metros.
Entre 2022 e 2023, a região amazônica sofreu uma perda de armazenamento na bacia hidrográfica com a maior seca já registrada por causa da crise climática. No Centro e no Nordeste houve um ganho no armazenamento de águas subterrâneas associado "a processos intensos de precipitação" ocorridos nos dois anos.
Casas flutuantes e barcos encalhados
Ainda do território brasileiro ficaram registros de casas flutuantes e barcos encalhados no leito seco do lago Puraquequara por causa da seca severa ocorrida em outubro de 2023.
O caso de Moçambique está entre os eventos hidrológicos de alto impacto que mais marcaram África. A passagem do ciclone Tropical Freddy causou 165 mortes e milhões de dólares em perdas após descargas fluviais acima e muito acima do normal.
Já na Ásia e na Oceania, as grandes bacias dos rios Ganges, Brahmaputra e Mekong conheceram condições abaixo do normal em quase todos os territórios.
As alterações do clima estariam mudando o curso da água provocando inundações e secas extremas num ano confirmado como o mais quente. Os níveis baixos dos rios e secas enfrentadas pelos países foram seguidos por inundações arrasadoras.
A OMM revela ainda que essas situações extremas também foram influenciadas pela mudança do fenômeno La Niña para El Niño em meados de 2023.
Reservatórios abaixo do normal
O relatório enfatiza ainda a situação de estresse severo observado no abastecimento global de água, com cinco anos consecutivos de fluxos de rios e influxos de reservatórios abaixo do normal.
Para a secretária-geral da OMM, Celeste Saulo, os níveis hídricos baixos "se tornam o indicador mais revelador do tempo de angústia climática" atual. Ainda assim, ela destaca que a sociedade global não tem tomado medidas para proteger essas reservas.
Saulo ressaltou que um dos principais fatores de mudança dos ciclos da água são as mudanças climáticas e pediu maior monitoramento hidrológico para rastrear e responder às mudanças.
A agência das Nações Unidas destaca haver 3,6 bilhões de pessoas com acesso inadequado à água por pelo menos um mês por ano. Esse total deve aumentar para 5 bilhões até 2050.
Escassez hídrica ainda maior este ano
O diretor de hidrologia da OMM, Stefan Uhlenbrook, disse que uma escassez hídrica ainda maior está prevista para este ano em partes do mundo onde foram relatados novos recordes de calor.
A situação extrema de 2023 também acelerou a perda de massa de geleiras do mundo que alcançou 600 gigatoneladas de água. O nível é considerado um dos maiores em 50 anos.
Os níveis de água subterrânea estiveram abaixo do normal no sul da Europa, incluindo em Portugal, Espanha, na maior parte da França e na Europa Central. No verão, as geleiras da Europa e do Cáucaso mostraram tendências de equilíbrio ligeiramente reduzidas em 2023, tal como em anos anteriores.
Os rios alimentados por águas originárias de geleiras como as da Europa e Escandinávia tiveram altos fluxos. Com o desaparecimento das geleiras nos próximos anos prevê-se uma situação ainda mais dramática.
Fonte: ONU News