Através de oficinas de confecção de instrumentos de percussão, o músico Heraldo Santos ensina a mais de 5 mil jovens e adultos das periferias de Belém (PA) a confeccionar instrumentos com materiais recicláveis.
Garrafas pet, galões de água e cabos de vassouras quebrados são alguns dos materiais utilizados nas oficinas. A ideia de criar o projeto Orquestra Sustentável Percussão da Terra surgiu a partir das viagens que Heraldo fazia para outros estados do Brasil.
Ao retornar para casa, após shows e eventos em todo o País, o músico sempre avistava pilhas de lixo e garrafas pela cidade. Foi então que surgiu a ideia de criar produtos acessíveis que, ao mesmo tempo, contribuíssem para mitigar os impactos desses resíduos descartados incorretamente no meio ambiente.
“Em um certo dia, olhei para aquela pilha de lixo e pensei, eu vou transformar isso tudo em arte”, disse Heraldo para a equipe de reportagem do Terra.
O projeto já atendeu mais de 5.000 pessoas, tanto na confecção de instrumentos musicais, quanto nas oficinas de percussão. Para manter o projeto ativo, Heraldo conta com a ajuda de voluntários, trabalha na composição de músicas para diversos artistas e também participa de alguns eventos de música pelo País, além de inscrever seu projeto em editais públicos e privados.
Com o dinheiro que arrecada com os trabalhos que realiza, o músico investe em equipamentos e paga as despesas do espaço físico onde há algumas oficinas para a comunidade. “O Ponto de Cultura Tambores Sustentáveis da Amazônia surgiu em 2020 com o principal objetivo de promover atividades culturais para a comunidade local. Hoje, o meu maior sonho é ampliar o espaço e expandir as atividades dele para outras regiões do Brasil”
Nessa trajetória, Heraldo também se orgulha de ter formado alunos e profissionais que hoje trabalham com a confecção de instrumentos e que conseguem gerar renda para os seus lares através disso. “O luthier [artesão especializado na construção, reparo e ajuste de instrumentos musicais] que me atende é um ex-aluno. Ele é bem conhecido e já até exportou instrumentos para fora do Brasil”, conta.
Preço dos instrumentos
Heraldo explica que um par de maracás tradicionais custa em média de R$ 150 a R$ 200 in natura; Por ser um instrumento feito numa cabaça seca e oca com pequenas pedras, caroços ou sementes em seu interior, torna-se extremamente frágil.
O maracá confeccionado com materiais recicláveis tem um preço médio de apenas R$ 50. Devido à sua composição sustentável, a margem de lucro do produto chega a quase 100%. O músico respeita a origem do instrumento e sabe de sua importância histórica e cultural. Os maracás criados por ele servem como uma forma de reaproveitar resíduos que demoraram mais de 100 anos para se decompor.
“Com essa iniciativa, além de economizar recursos financeiros, também incentivamos a reciclagem de materiais, diminuindo o desperdício e fomentando métodos mais sustentáveis na produção de instrumentos musicais” , explica Heraldo.