Secas históricas, enchentes e furacões: planeta viveu intensificação de fenômenos extremos em 2024

Ano já é considerado o mais quente já registrado pela Organização Mundial de Meteorologia (OMM)

27 dez 2024 - 05h00
Chuvas inundam a faixa do Sahel, no Deserto do Saara
Chuvas inundam a faixa do Sahel, no Deserto do Saara
Foto: REUTERS/Darrin Zammit Lupi

"A catástrofe climática está destruindo a saúde pública, ampliando a desigualdade social, ferindo o desenvolvimento sustentável e abalando as estruturas da paz": na abertura da COP29, o secretário-geral da ONU António Guterres deu tom à crise proporcionada pelas mudanças climáticas ao redor do planeta. 

Inúmeros eventos climáticos extremos ocorridos em 2024 fizeram com que a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) e especialistas mais uma vez acendessem um 'alerta vermelho' para as consequências do desequilíbrio ambiental. O ano, inclusive, já é considerado o mais quente já registrado pela OMM. 

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Entre os registros, o planeta sofreu com ondas de calor cada vez mais intensas, enchentes em diferentes continentes, incêndios florestais, perdas significativas de áreas de plantio -- o que intensificou a já grave crise alimentar na África --, e tempestades avassaladoras, que causaram bilhões de dólares em prejuízos, segundo a organização. 

Uma visão de drone mostra o telhado de uma casa próxima no meio de uma rua, causado por um tornado enquanto o furacão Milton se aproxima de Fort Myers, Flórida, EUA, em 9 de outubro de 2024.
Foto: REUTERS/Ricardo Arduengo

No relatório anual da OMM sobre as mudanças climáticas, o último apresentado durante a Conferência do Clima da ONU em Baku, no Azerbaijão, em novembro passado, a organização ressalta o aumento drástico nas médias de temperatura entre os impactos ambientais negativos. Veja os destaques: 

  • A emissão de gases de efeito estufa alcançou níveis recordes em 2023. Dados monitorados em tempo real indicam que a emissão aumentou ainda mais em 2024;
  • A temperatura média do ar na superfície do planeta, amplificada pelo El Niño entre janeiro e setembro de 2024, esteve 1.54ºC acima da média pré-Industrial, limite previsto no Acordo de Paris; 
  • A extensão do gelo marinho no Ártico e na Antártida ficou abaixo da média em 2024. Em 2023, geleiras ao redor do mundo perderam água equivalente a cinco vezes o volume do Mar Morto. 

Ao Terra, o climatologista Rodolfo Bonafim cita que o planeta vive uma 'eclosão' de eventos climáticos extremos que já ocorriam, mas em menor recorrência: "Frequência é a palavra-chave, esses fenômenos severos aumentaram muito em quantidade nas últimas décadas e a tendência é uma frequência cada vez maior em um mundo com atmosfera e mares mais aquecidos". 

Os fenômenos também são conectados pelo desequilíbrio ambiental. Por exemplo, a irregularidade das correntes de vento responsáveis pelas chuvas na Amazônia, que enfrenta seca e recordes negativos de volume de água, provocou chuvas inesperadas na região da Faixa do Sahel, ao sul do Deserto do Saara. O evento destruiu mais de 300 mil hectares de áreas de plantio em Mali e Nigéria em setembro. 

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No mesmo período, o desequilíbrio dos ventos também alimentou a temporada de tempestadres ao sul dos Estados Unidos, o que favoreceu a formação e passagem do Furacão Milton na Flórida no começo de outubro. 

"Do ponto de vista meteorológico, esse desequilíbrio fez com que a chuva que deveria chegar à Amazônia, formar os rios aéreos e levar umidade ao Centro-Oeste, a São Paulo, não chegasse. Isso somado às queimadas provoca um cenário de destruição que atinge nossos biomas, como o Cerrado, por exemplo", cita o climatologista. 

Planeta bateu temperaturas recordes e cenário pode piorar, diz meteorologista
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Brasil tomado pela estiagem

O relatório mais recente da OMM sobre as condições dos recursos hídricos globais aponta 2023 -- os dados de 2024 ainda não foram compilados -- como o ano mais seco e com rio em menores níveis nas últimas três décadas, coincidindo com a alta nas temperaturas ao redor do mundo. 

Segundo a organização, os últimos cinco anos também foram atingidos pelos menores percentuais de áreas com rios em condições normais, enquanto reservatórios naturais seguem um caminho parecido, reduzindo a disponibilidade de água para comunidades e ecossistemas. 

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Na região Norte do País, a estiagem foi um dos fatores que elevou o número de incêndios florestais na Floresta Amazônica. No Pará, sede da COP30 em 2025, foram registrados 57.551 focos de incêndio entre janeiro e dezembro deste ano, com 6,97 milhões de hectares queimados nos 11 primeiros meses deste ano, segundo relatório do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Amazônia é o bioma com maior registro de queimadas em 2024
Foto: Victor Moriyama/Greenpeace

Os prejuízos financeiros provocados pela seca superam a ordem de bilhões de reais. A baixa dos rios desde 2023 fez com que as empresas de eletrônicos da Zona Franca de Manaus, por exemplo, anunciassem gastos extras de R$ 1,4 bilhão. 

Na agricultura, produtores sofreram com o desabastecimento de produtos, tanto pela quebra de safras quanto pelas perdas de alimentos. A baixa nos rios também fez afetou a produção de energia no País, fazendo com que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) anunciasse o reforço com usinas termoelétricas, refletindo no aumento das contas de energia no Brasil.  

Para Celeste Saulo, secretária-geral da ONU, a estiagem não só no Brasil mas, no mundo como um todo é uma 'prelúdio' do futuro no planeta. 

"As chuvas recordes e enchentes, ciclones tropicais de rápida formação, calor letal, secas duradouras e incêndios florestais devastadores que temos visto em diferentes partes do mundo, neste ano, infelizmente são nossa realidade e um prelúdio de nosso futuro", declarou. 

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Fonte: Redação Terra
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