O Rio Tietê sobrevive. Neste 22 de setembro, data em que é comemorado o Dia do Tietê, o maior rio do Estado de São Paulo apresentou alguns índices de melhora na qualidade de sua água em trechos que percorrem o interior paulista. Na capital, porém, a situação segue crítica.
A organização SOS Mata Atlântica faz um acompanhamento anual sobre a qualidade da água e a evolução dos indicadores de impacto do Projeto Tietê. O levantamento se baseia em dados coletados entre setembro de 2020 e agosto de 2021 e foi realizado na bacia hidrográfica do rio, ao longo de um trecho de 576 km, desde a nascente, em Salesópolis, até a eclusa do reservatório de Barra Bonita, no município de mesmo nome.
Depois de analisar a qualidade de água em 53 pontos de amostragem de 21 afluentes que se conectam ao Tietê, foi verificada uma tendência de melhora nas bacias próximas a Sorocaba, Piracicaba, Capivari e Jundiaí, que correspondem à metade da bacia hidrográfica do rio. A melhora mais significativa foi verificada nos pontos de Santana do Paranaíba, Itu e no município de Tietê, além Botucatu, no reservatório de Barra Bonita.
Do total de pontos de amostragem, 36 apresentaram um índice regular de qualidade e seis tiveram condição boa. Outros sete foram classificados como ruim e outros quatro como péssima. Nenhum ponto teve classificação ótima. Dos quatro pontos péssimos, três estão no Rio Pinheiros, na capital paulista.
Segundo o levantamento, os indicadores apontam leve tendência de melhora em alguns rios da bacia, como o Jundiaí, em Salto. O córrego São Luiz teve melhora em dois pontos de coleta, no município de Itu. Além do rio Caicatinga e o Tietê, na região de Botucatu.
A qualidade de água ruim, imprópria para usos e inadequada para a vida aquática, ficou restrita a dois trechos do Rio Tietê, entre o município de Suzano e a Ponte das Bandeiras, na cidade de São Paulo, e no município de Porto Feliz. Esses dois trechos impróprios totalizam 85 quilômetros de extensão, o que representam 14,7% dos 576 quilômetros monitorados
Esse resultado é melhor do que o registrado no ciclo anterior, divulgado em setembro de 2020, quando a mancha de poluição atingiu 150 km do rio, também em dois trechos não contínuos. O trecho com qualidade de água ruim reduziu em 65 quilômetros, ou quase 50%.
A qualidade de água boa foi registrada em 124 quilômetros, enquanto o índice regular atingiu 283 quilômetros. Com isso, a condição de água boa e regular, que permite usos múltiplos e vida aquática, estendeu-se por 407 km, o que representa 70,63% de todo o trecho monitorado.
Como no ciclo de 2019-2020 foram verificados 47 pontos de coleta, o levantamento tratou de limitar a comparação ao mesmo número de pontos deste ano, para evitar distorções. O resultado mostra que os pontos com qualidade boa saltaram de três para seis locais, enquanto aqueles classificados como ruim caíram de 11 para sete pontos de coleta.
A SOS Mata Atlântica afirma que a série histórica mais longa, de 2010 a 2020, aponta uma reversão na tendência da qualidade da água. Houve um período de piora entre os anos de 2010 e 2015, quando o volume de esgotos coletados e lançados diretamente nos rios, sem tratamento ou com baixa eficiência no tratamento, aumentou significativamente. Assim, a qualidade da água ruim ou péssima saltou de 36,62% para 48,62% e houve a diminuição da água regular.
"Com o aumento nas ligações de redes coletoras de esgotos e nos volumes de tratamentos, os indicadores medidos nos rios passaram a apontar uma tendência de melhoria da qualidade da água na bacia do Tietê, a partir de 2016", afirma a organização. "Apesar da tendência positiva, é importante observar que mais de um quarto dos pontos de amostragem apresentou condição ruim ou péssima. Apenas 7,2% dos pontos foram considerados de boa qualidade e ainda não há pontos com qualidade ideal."
O Tietê atravessa o estado paulista de leste a oeste, ao longo dos seus 1.100 km de extensão, desde a sua nascente, localizada próxima da cidade de São Paulo, até o seu deságue no Rio Paraná. Sua bacia cobre 265 municípios, com 75% situado dentro dos limites do bioma da Mata Atlântica.
Segundo dados do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, iniciativa da SOS Mata Atlântica e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), restam hoje na bacia do rio 591 mil hectares de florestas nativas e áreas naturais acima de um hectare, o que correspondem a apenas 8% da área original de vegetação nativa de Mata Atlântica na bacia.