Em novo discurso em evento das Nações Unidas, desta vez na Cúpula de Biodiversidade, o presidente Jair Bolsonaro voltou a atacar organismos internacionais e disse que seu governo reverteu "a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores" na Amazônia.
Dados do sistema de monitoramento do próprio governo apontaram aumento de 40% na devastação entre agosto do ano passado a julho deste ano, na comparação com os 12 meses anteriores. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
"Na Amazônia, lançamos a 'Operação Verde Brasil 2', que logrou reverter, até agora, a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores. Vamos dar continuidade a essa operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior", afirmou o presidente, em discurso gravado.
A Operação Verde Brasil 2, liderada pelo vice-presidente Hamilton Mourão, consiste no envio de militares para a área amazônica para dar suporte aos órgãos de fiscalização no combate ao desmatamento. A primeira fase da operação foi iniciada ainda em agosto do ano passado e o plano do governo, como revelou o Estadão, é prorrogá-la até 2022.
Além dos dados de desmatamento, o Inpe também apontou que apenas os primeiros 15 dias de setembro foram suficientes para superar todo o volume de queimadas registradas na Amazônia no mesmo mês de 2019. No período, foram 21.349 focos de incêndio na floresta, contra 19.925 focos em todo o setembro passado.
Apesar dos números oficiais, no discurso feito a líderes globais, Bolsonaro afirmou estar disposto a defender a Amazônia de "ações e narrativas que agridam os interessem nacionais".
Como fez no pronunciamento na abertura da Assembleia-Geral da ONU, no dia 22, o presidente voltou a atribuir as críticas sobre sua política ambiental a interesses internacionais de países que, na sua visão, querem explorar as riquezas naturais da Amazônia.
"Rechaço, de forma veemente, a cobiça internacional sobre a nossa Amazônia. E vamos defendê-la de ações e narrativas que agridam os interessem nacionais", afirmou Bolsonaro.
Apesar dos ataques a ONGs e de citar "cobiça internacional", não citou nomes nem apresentou qualquer instituição que tenha cometido crime ambiental ou que tenha interesse na Amazônia.
Na terça-feira, 29, o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, falou em "consequências econômicas" na hipótese de permanência da devastação da Amazônia. O governo brasileiro sofre forte pressão de líderes mundiais por conta de suas políticas ambientais.
"Não podemos aceitar, portanto, que informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo", disse Bolsonaro na ONU. Mais cedo, pelas redes sociais, ele já havia rebatido as declarações em português e inglês. "Lamentável, Sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável", afirmou o presidente na ocasião.
Pantanal
No discurso desta terça-feira, 30, Bolsonaro também disse que as Forças Armadas atuam para combater os incêndios no Pantanal. O número de focos de incêndio registrados na região de janeiro a agosto equivale a tudo o que queimou no bioma nos seis anos anteriores, de 2014 a 2019, segundo levantamento do Estadão a partir de dados do Inpe.
"No Pantanal, fortalecemos a integração entre as agências governamentais, com o apoio das Forças Armadas, para atuar de maneira coordenada e, assim, combater os focos de incêndio no entorno dessa região", disse o presidente. "Isso mostra que mantemos firme nosso empenho em buscar o desenvolvimento sustentável do País, com esteio em uma agricultura baseada na biotecnologia, de comprovada eficiência, e também na preservação do nosso patrimônio ambiental."