Bolsonaro sugere embargar dados de desmatamento: "Exagero"

Presidente contesta pela terceira vez dados de desmatamento do instituto e cobra 'mais responsabilidade' na divulgação dos números

22 jul 2019 - 17h06
(atualizado às 17h41)
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia em Brasília
19/07/2019 REUTERS/Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia em Brasília 19/07/2019 REUTERS/Adriano Machado
Foto: Reuters

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) questionou novamente nesta segunda-feira, 22, a divulgação de dados do monitoramento de desmatamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo ele, os números são "exagerados" e é necessário ter "mais responsabilidade" em torná-los públicos. Ele sugeriu que os dados sejam embargados antes de serem divulgados para ele "não ser pego de calças curtas".

"Pode divulgar os dados, mas tem de passar para as autoridades, até para não ser surpreendido. Eu não posso ser surpreendido por uma informação tão importante como essa daí. Eu não posso ser pego de calças curtas. As informações têm de chegar ao nosso conhecimento de modo que a gente possa tomar decisões precisas em cima dessas informações e não ser surpreendido", afirmou ao ser questionado sobre se ele pretende não mais apresentar os dados.

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Bolsonaro vem questionando desde sexta-feira números que mostram que o desmatamento da Amazônia disparou nos últimos meses. Em junho, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, a alta foi de cerca de 90% de acordo com alertas de desmatamento feitos pelo sistema Deter, do Inpe. Em julho, até sábado, a alta já era de 111% em relação a julho do ano passado. Em café da manhã com a imprensa estrangeira, ele falou que os números eram mentirosos e que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, estaria "a serviço de alguma ONG".

"Quando o Inpe detecta um número qualquer, tem de subir esses dados para o ministro Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, antes passando pelo Ibama, antes de divulgar. Não pode ir na ponta da linha alguém simplesmente divulgar esses dados. Porque pode haver algum equívoco. Pode. E nesse caso, como divulgou, há um enorme estrago para o Brasil. A questão ambiental, o mundo todo leva em conta", disse nesta segunda-feira, referindo-se ao Mercosul e a acordos bilaterais.

"O chefe do Inpe será ouvido pelos ministros, para conversar com ele para que isso não continue acontecendo", disse. "É o mesmo que um cabo passar uma notícia sem passar pelo capitão, coronel ou brigadeiro. Não está certo isso aí."

Bolsonaro questionou a interpretação dos dados. "Quando você pega os dados, a pessoa conduz para aquele lado", afirmou. "São (informações) exageradas, em sendo exageradas, você pode adjetivar da maneira que você achar melhor", respondeu quando questionado se mantinha a visão de que os números são mentirosos.

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Mais cedo, nesta segunda, o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Marcos Pontes, manifestou-se e disse que compartilha a "estranheza" de Bolsonaro quanto à variação dos dados e pediu um "relatório técnico completo""sobre os últimos dois anos de análises. Também afirmou que vai cobrar um posicionamento de Ricardo Galvão.

"Com relação aos dados de desmatamento produzidos pelo Inpe, organização pelo qual tenho grande apreço, entendo e compartilho a estranheza expressa pelo nosso presidente Bolsonaro quanto à variação porcentual dos últimos resultados na série histórica", escreveu o ministro, em nota divulgada pela pasta.

Na última sexta-feira, Bolsonaro, em café da manhã com jornalistas estrangeiros, disse que os dados que mostram aumento da perda da floresta em junho e neste início de julho são mentirosos. Ele também insinuou que o diretor do Inpe, Ricardo Galvão, esteja "a serviço de alguma ONG (organização não governamental)". /COLABOROU BÁRBARA NASCIMENTO E GIOVANA GIRARDI

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