O anúncio de que o Brasil pretende cortar as emissões nacionais de gases de efeito estufa em 50% até 2030 e as metas de combate ao desmatamento foi alvo de elogios por autoridades internacionais, como o enviado especial para o Clima do governo americano, John Kerry, e do embaixador britânico no Brasil, Peter Wilson. Outros países emergentes - como China, Rússia e Índia - têm apresentado postura mais resistente às agendas ambientais das nações desenvolvidas na Cúpula do Clima (COP-26), em Glasgow.
Para o diplomata do Reino Unido, porém, a palavra-chave é implementação. Se quiser atrair investimentos de fundos públicos, incluindo o do Reino Unido, e também de fundos privados, o governo Jair Bolsonaro vai ter de provar que protege efetivamente o meio ambiente.
"O Brasil quer mais investimento em sua economia, mas, no futuro, não vai ser possível atrair os fundos maiores sem uma política ambiental clara nos níveis federal e estaduais", diz Wilson em entrevista ao Estadão. "Os fundos públicos de outros governos, incluindo o do Reino Unido, vão ser usados onde são mais efetivos."
O governo Bolsonaro chegou à conferência climática sob desconfiança internacional. Desde o início da gestão, o Brasil ganhou destaque negativo diante do aumento do desmate na Amazônia e da falta de diálogo do presidente com os países ricos para tratar da preservação da floresta.
O saldo da atuação da delegação brasileira em Glasgow, avalia o embaixador, tem sido positivo até agora. Wilson destaca que a assinatura de acordos e a apresentação de metas mostram que "o governo pretende atingir a meta de zerar emissões". Para que os planos saiam do papel, porém, ele aponta dois aspectos importantes: criar uma estrutura de crescimento verde e fazer com que o plano de combate ao desmatamento funcione, com foco na fiscalização.
A transparência, nesse sentido, será essencial. "O financiamento privado, que é muito valorizado, vai para países onde os riscos ambientais são bem conhecidos e os investimentos serão responsáveis", destaca. De acordo com ele, há uma cobrança do próprio consumidor, que vai buscar produtos em que consegue rastrear o impacto ambiental
Wilson destacou que o Reino Unido pretende ajudar o País a atingir as metas anunciadas e cumprir os acordos firmados. Ele diz que seu papel como diplomata será o de criar um espaço de cooperação para combater uma ameaça comum, a mudança climática. "Trabalhamos com todos os níveis de governo brasileiro. Com o governo federal, temos uma série de programas para ajudar a agricultura, a ciência, o monitoramento e o conhecimento sobre o clima", conta o embaixador. "Com os governos estaduais, temos investimentos e oportunidades de abrir novos caminhos para uma economia mais verde."
Quanto ao isolamento internacional do presidente Bolsonaro, evidente na reunião entre as 20 economias mais ricas do mundo (G-20), e a ausência do brasileiro em Glasgow, o embaixador preferiu não comentar. Apenas afirmou que as relações entre Brasil e Reino Unido são "fortes". "Nosso primeiro-ministro (Boris Johnson) encontrou com Bolsonaro na ONU (Organização das Nações Unidas), há três semanas, para falar sobre o clima e temos uma troca muito importante. A chave da COP é a substância, e o Brasil fez uma contribuição muito importante nos últimos dois dias", afirmou ele.
Chefe de Estado do país anfitrião da COP, Johnson tem se esforçado para conseguir o êxito da conferência. Embora reconheça as dificuldades na negociação climática, o premiê estimou no começo da Cúpula que as chances de êxito eram de aproximadamente 60%.