As queimadas constantes na região do Pantanal no Mato Grosso do Sul têm afetado a sobrevivência de aves da região. Pescadores flagraram pássaros caindo em rios de Corumbá após serem afetados pelo fogo e fumaça de um dos incêndios. Parte dos animais foram resgatados por pessoas que passavam de barco pela área, mas muitos outros não sobreviveram.
Imagens captadas pelo guia de pesca esportiva Rogério Lima, de 43 anos, mostram o momento em que é possível ver os pássaros em um rio da região do Pantanal. Apesar das queimadas, ele tem levado turistas para pescar no Rio Paraguai a serviço de pousadas da localidade e no domingo, 26, se deparou com o efeito dos incêndios sobre as aves na área que fica entre Albuquerque e Porto Morrinho. "Estava fazendo a pesca, automaticamente começaram nuvens de fogo e os passarinhos começaram a cair tudo do céu", relata o guia ribeirinho.
Veja as imagens do resgate dos pássaros
Então, com celulares à mão, o guia e o turista passaram a recolher do rio os pássaros que pareciam estar vivos. "Se eu ficar aqui a tarde inteira pegando passarinho que está morrendo, vou encher o barco", diz Lima em um dos vídeos. Nas filmagens, é possível ver resgatadas na embarcação pelo menos 15 aves de diferentes cores, a maioria imóvel e em silêncio.
Chororó-do-pantanal, ariramba, japacanim e pipira-vermelha foram algumas das espécies que o pesquisador de ecologia Rudi Laps, professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), identificou pelas imagens. De acordo com o professor, são pássaros pequenos e sensíveis, mas que atravessam o rio em incêndios típicos do Pantanal. No entanto, pela velocidade e altura do fogo, podem não ter conseguido escapar a tempo e se intoxicaram com o monóxido de carbono da fumaça.
A cena de passarinhos caindo na água não era comum até 2020, quando ocorreram as maiores queimadas no bioma, com 3,909 milhões de hectares atingidos no ano. Antes disso, conta Laps, os incêndios provocados por raios no mês de setembro duravam pouco, tinham chamas mais baixas e perdiam força ao chegar nas matas ciliares - o que não tem ocorrido.
Segundo o guia de pesca, entre vivos e mortos, foram levados cerca de 50 pássaros para uma pousada próxima, "fora no rio, que tinha mais". Depois de jogar água nas aves, conta ele, algumas conseguiram voar.
O impacto da morte dos animais ainda será avaliado por especialistas, afirma Laps. Mas é possível saber que os pássaros exibidos no vídeo, além da função de controle de insetos, fazem a dispersão de sementes, fundamental para a recuperação do bioma. "Sem essas aves, como é que nós vamos recolonizar esses locais que estão queimados?", questiona o professor.
Região sofre com queimadas
Antes das queimadas, o dia a dia de Lima já estava afetado pela seca do Pantanal Sul, que o deixou sem água para consumo na casa onde vive com a mãe, na beira de um corixo. A estiagem também prejudicou o trabalho como guia, porque dificulta a navegação dos barcos de pesca. Agora, com cinzas e fuligem no rio, ele acrescenta aos problemas que os peixes estão deixando a região.
Para setembro, era esperado um pico de incêndios no bioma, que bateu recorde de focos no ano passado. Até o dia 1º de outubro, o fogo havia atingido 1,368 milhão de hectares do Pantanal, de acordo com monitoramento do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Embora menor que os dados equivalentes de 2020 - 3,195 milhões de hectares -, a área afetada em 2021 ultrapassa em quase 40% a média dos últimos dez anos para o período, de 979 mil hectares. Felizmente, a magnitude dos incêndios está sendo percebida pela comunidade, avalia o professor Laps. "Apesar de o Pantanal estar longe, tem um turismo de pesca muito forte, então as pessoas estão vendo e divulgando."