No que diz respeito à alimentação saudável, os ursos polares quebram todas as regras. Eles comem, sobretudo, gordura, mas não têm doenças cardíacas da forma que nós, humanos, teríamos se seguíssemos a mesma dieta.
Cientistas afirmaram que a razão está nos genes dos ursos, segundo artigo publicado nesta quinta-feira na revista Cell.
Alguns truques evolutivos, particularmente nos genes que atuam na forma como as gorduras são metabolizadas e como são transportadas no sangue, permitiram aos ursos polares sobreviver no Ártico, explicaram.
E tudo isto aconteceu nos últimos 500 mil anos, depois que os ursos polares se separaram de seus primos, os ursos pardos, de acordo com um estudo que comparou os genomas dos dois animais.
Os cientistas descobriram que os ursos polares são muito mais jovens do que se pensava anteriormente, já que estimativas anteriores situavam a época de separação entre os ursos polares e os ursos pardos entre 600.000 e um milhão de anos atrás.
"É realmente surpreendente que o tempo de divergência seja tão curto", afirmou Rasmus Nielsen, professor de biologia integrativa e estatística da Universidade da Califórnia em Berkeley.
"Todas as adaptações únicas que os ursos polares têm no ambiente do Ártico devem ter ocorrido em um período de tempo muito curto", disse.
Ainda não está claro o que levou o urso polar a evoluir em um grupo separado dos pardos, embora isto tenha acontecido em uma época que coincide com um período interglacial quente que pode ter encorajado os ursos pardos a se aventurarem mais ao norte do que tinham feito no passado, afirmaram os cientistas.
Então, quando o clima voltou a esfriar, um grupo de ursos pardos pode ter ficado isolado e sido forçado a se adaptar em um novo ambiente de neve e frio.
Os ursos polares comem, sobretudo, focas, ricas em gordura, e amamentam seus filhotes com leite também rico em gordura.
Cerca da metade do peso total dos ursos é composta de gordura e não de músculos e ossos.
Comparativamente, o percentual de gordura de uma pessoa saudável pode variar entre 8% e 35%.
"A vida de um urso polar gira em torno da gordura", disse Eline Lorenzen, pesquisadora da UC Berkeley e uma das principais autoras do estudo.
"Para os ursos polares, a obesidade profunda é um estado benigno", acrescentou Lorenzen. "Nós queríamos entender como eles conseguem lidar com isto".
Os pesquisadores compararam amostras de sangue e tecido de 79 ursos polares da Groenlândia com material de 10 ursos pardos de Suécia, Finlândia, Glacier National Park, no Alasca, e nas ilhas Admiralty, Baranof e Chichagof (ABC), na costa do Alasca.
Eles descobriram que um dos genes mais intensamente selecionado é o APOB, que nos mamíferos codifica a principal proteína do colesterol "ruim", conhecido como LDL (lipoproteína de baixa intensidade), permitindo que se mude do sangue para as células.
Alterações neste gene sugerem como o urso polar consegue administrar açúcar e triglicerídeos altos em um nível que seria perigoso para o ser humano.
Os autores do estudo, cientistas da Dinamarca, China e Estados Unidos, afirmaram que um dia, as secreções digestivas do urso polar poderão ajudar a melhorar a saúde das pessoas em uma época de obesidade crescente.
"A promessa da genética comparativa é que aprenderemos como outros organismos lidam com condições às quais também somos expostos", disse Nielsen.