SÃO PAULO - A Marinha confirmou neste sábado, 2, que fragmentos do óleo que atinge as praias do Nordeste foram encontrados em uma das ilhas do arquipélago de Abrolhos, localizado no sul da Bahia, região que é umas das áreas mais ricas em biodiversidade da América da Sul. As partículas foram detectadas na Ilha de Santa Bárbara, que não faz parte do Parque Nacional de Abrolhos.
Equipes atuam no local para a remoção do material, que também foi encontrado em Ponta da Baleia, em Caravelas. A localização dos fragmentos encontrados foi informada pelo Grupo de Acompanhamento e Avaliação (GAA), formado pela Marinha do Brasil, Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Na última quarta-feira, 30, uma equipe do Ibama sobrevoou o local e não encontrou vestígios de óleo na região. Com a possibilidade de chegada das manchas, que estavam se deslocando para o sul da Bahia, o monitoramento na área do entorno do arquipélago tinha sido intensificado.
Guilherme Dutra, diretor da Estratégia Costeira e Marinha da Conservação Internacional, que atua no Parque Nacional de Abrolhos desde 1996, diz que o local nunca viveu uma situação de ameaça tão crítica. Segundo Dutra, equipes da entidade estão na região e entraram em contato com representantes do parque.
"Estamos bastante preocupados com a chegada do óleo nos recifes pelo impacto físico da mancha, que se instala e impede a chegada de luz, e pela contaminação química, porque sabemos pouco sobre os efeitos dela."
Há preocupação com os corais. "Eles são a base do ecossistema dos recifes, principal espécie construtora deles e onde os animais marinhos se abrigam e buscam alimento."
Ele relata que, ao longo da última semana, uma grande quantidade de óleo foi retirada de regiões que têm relação com a área. "Canavieiras é o portal de Abrolhos no norte (da Bahia) e, no total, foram retiradas 11 toneladas de óleo."
A situação está sendo acompanhada pela Rede Abrolhos, que reúne pesquisadores do Brasil e do exterior. Segundo Rodrigo Leão Moura, professor adjunto do Instituto de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vários pontos foram afetados nesta semana.
"A Reserva Extrativista de Canavieiras está recebendo quantidade significativa de manchas nas praias e uma quantidade grande de óleo chegou à reserva extrativista do Corumbau e também em Arraial d'Ajuda, que fica ao norte de Corumbau. A contaminação está progredindo rapidamente para o sul. E o prognóstico é que atinja a porção mais central do Banco Abrolhos, que é a mais crítica, porque tem recifes de corais que ficam afastados da costa."
Moura relembra que Abrolhos já sofreu com os impactos do desastre de Mariana, pois corais foram atingidos por lama da barragem.
"A chegada do óleo em Abrolhos é um evento de natureza catastrófica, porque não há como limpar. Se os recifes forem atingidos em massa, a recuperação, se acontecer, leva décadas. A região já está sofrendo com os estressores derivados do desastre de Mariana. A gente precisa ampliar o engajamento das frotas locais."