O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, convidou o ator Leonardo DiCaprio, nesta quarta-feira, 19, a conhecer "como as coisas funcionam na Amazônia". Mourão disse que as queimadas da região amazônica só ocorrem em "área humanizada", e não na floresta. Ele também afirmou que apresentar resultados na área da preservação ambiental é a sua "maior angústia".
"Eu gostaria de convidar nosso mais recente crítico, o nosso ator Leonardo DiCaprio, para ele ir comigo a São Gabriel da Cachoeira, nós fazermos uma marcha de oito horas pela selva entre o aeroporto de São Gabriel e a estrada de Cucuí. E ele vai aprender em cada socavão que ele tiver que passar que a Amazônia não é uma planície e aí entenderá melhor como funcionam as coisas nesta imensa região", afirmou Mourão em evento sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia promovido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Nesta terça, 18, DiCaprio disse, em uma rede social, que o presidente Jair Bolsonaro "duvidou publicamente da gravidade" dos incêndios na região e que há "preocupação crescente de que o desmatamento em andamento não esteja recebendo atenção suficiente".
Nesta quarta, o vice-presidente também afirmou que a sua "maior angústia" é a cobrança interna e externa por resultados do governo na área da preservação ambiental. "Óbvio que nós seremos julgados por nossos resultados e não por nossas intenções. E essa é a minha maior angústia o tempo todo. Nós temos que apresentar resultado. E os resultados estão centrados nos eixos de preservação, proteção e desenvolvimento sustentável."
Para Mourão, há "muita desinformação sobre a Amazônia". "Uma primeira coisa que tem que ficar clara: onde ocorre queimada na Amazônia é naquela área humanizada. A floresta não está queimando. No entanto, a imagem que é passada para o resto do Brasil e para a comunidade internacional é que tem fogo na floresta. Não adianta você mostrar o mapa da Nasa, o mapa do Inpe, que a turma não aceita o dado", disse.
64% das queimadas de 2019 ocorreram em área recém-desmatada ou de floresta
Diversos estudos têm apontando que muito do que queima na região é de área recém-desmatada ou na própria floresta. No ano passado, cerca de 1/3 apenas foi nos tais locais "humanizados", como define Mourão. Nota técnica do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia divulgada no começo do mês revelou que 30% do fogo registrado na Amazônia ao longo do ano passado foi de incêndio florestal. Outros 36% estão associados ao manejo agropecuário e os demais 34%, a desmatamentos recentes.
O trabalho mostro ainda que a parcela de focos em áreas recém-desmatadas vem crescendo nos últimos anos. Era 15% em 2016 e 2017, subiu para 25% em 2018 e chegou a 34% no ano passado. Neste ano, foram detectados em julho 6.803 focos de fogo na Amazônia, de acordo com o Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). É uma alta de 28% em relação a julho do ano passado.
Neste mês, em 18 dias, já foram registrados 18.343 focos no bioma. Em agosto de 2019, esta marca foi alcançada mais ou menos na metade do mês e ao final agosto fechou com 30.900 focos, o pior desde 2007. Neste ritmo, este ano pode ficar com níveis também muito altos.
O governo federal decretou a proibição de queimadas no dia 16 de julho. Mas em pouco mais de um mês a Amazônia continuou queimando, assim como o Pantanal. Entre 16 de julho e 15 de agosto, o Greenpeace compilou, a partir dos dados do Inpe, que houve 20.473 focos na Amazônia. É uma queda de apenas 8% em relação ao mesmo período do ano passado. Com a proibição, a expectativa era de uma redução maior.
Um sobrevoo realizado pela equipe do Greenpeace neste domingo, 16, registrou imagens de queimadas ocorrendo no sul do Amazonas e em Rondônia, incluindo em áreas protegidas.
"Os números evidenciam que a estratégia adotada pelo governo federal é ineficiente para conter a destruição da floresta mais biodiversa do planeta. Proibir queimadas no papel não funciona sem um trabalho eficiente de comando e controle exercido por órgãos competentes. Os números e as imagens falam por si: a Amazônia está em chamas e não é através da militarização da fiscalização que conseguiremos enfrentar a crise do desmatamento e das queimadas na Amazônia", afirmou Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, por meio de nota.
O desmatamento também teve alta desde que começou, em maio, a Operação Verde Brasil 2, de atuação das Forças Armadas contra crimes ambientais na Amazônia. De acordo com dados consolidados do sistema Deter, do Inpe, entre agosto do ano passado e julho deste ano, os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram um aumento de 34,5%, na comparação com os 12 meses anteriores. É o maior valor dos últimos cinco anos.