O papa Francisco pedirá a toda a humanidade para agir rapidamente para salvar o planeta, vítima de seus excessos, em uma encíclica muito aguardada e que será publicada na quinta-feira, a seis meses da conferência do clima em Paris.
Francisco designa claramente a mão do homem como o principal culpado pelo aquecimento global, de acordo com várias fontes que tiveram acesso a esta encíclica, uma mensagem expressando a posição do Papa sobre um tema atual, e destinada a todos os católicos.
"Esta encíclica terá um grande impacto. Francisco está diretamente envolvido como nenhum papa antes dele. Ele está animado com o que esta encíclica comunicará", afirmou Christiana Figueres, presidente da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), em uma recente reunião em Bonn, na Alemanha.
Siga o Terra Notícias no Twitter
De acordo com uma versão preliminar divulgada pelo jornal italiano L'Espresso, que o Vaticano não reconhece como oficial, o Papa considera ser essencial reduzir drasticamente as emissões de dióxido de carbono e outros gases altamente poluentes.
Ele também faz um apelo, de acordo com esta versão do texto, em favor de acordos que estabeleçam as responsabilidades dos Estados que devem pagar o custo mais elevado da transição energética.
Estas declarações farão hesitar alguns conservadores americanos "céticos do clima", que garantem que o aquecimento global é resultado apenas de causas naturais. O Papa se junta a maioria dos especialistas que afirmam a complexa complementaridade das duas causas: natural e humana.
De acordo com os trechos vazados, o Papa também acredita que a propriedade privada continua sujeita à destinação universal dos bens, observando que o homem não é Deus, mas recebeu de herança a terra.
Esses vazamentos, reproduzidos por parte da imprensa mundial, irritaram muito o Vaticano, que excluiu indefinidamente o jornalista do L'Espresso que publicou o texto.
No texto final e oficial, o Papa lembrará "a responsabilidade de todos pelas gerações futuras", pedindo coragem antes da conferência a ser realizada em dezembro, em Paris, segundo a revista italiana Civiltà Cattolica, cujos textos são revisados pelo Vaticano.
Em 12 de maio, o papa Francisco adveritiu as "potências que seriam julgadas por Deus" se não respeitassem o meio ambiente.
Durante o Angelus de domingo, Francisco insistiu que sua encíclica "era dirigida a todos" - e não apenas aos 1,2 bilhão de católicos - para defender a "'casa' comum".
O Papa argentino, denunciando a cultura do lixo, convidou a todos a conduzir a sua própria reciclagem.
"A sobriedade não se opõe ao desenvolvimento, ela tornou-se sua condição", disse ele na semana passada.
De acordo com uma fonte que teve acesso ao documento confidencial, a encíclica não é um inventário de soluções, mas dá uma "visão global" da "ecologia", querendo convencer a todos, desde o consumidor médio aos chefes de Estado e multinacionais.
Ela afirma que as causas, primeiramente humanas, devem ser controladas: "Existem fortes evidências científicas de que os fatores humanos causam grandes danos, não só para a própria natureza, mas também à vida, especialmente as dos mais pobres. Isso exige novos modos de produção, distribuição e consumo", indicou a fonte.
"Ninguém, depois de ter lido a encíclica, poderá dizer: 'tenho a consciência tranquila, porque não foi endereçada a mim', ou: 'o Papa se dirige a tal grupo", acrescentou a fonte do Vaticano.
"Laudato si" ("Louvado Sejas", um título inspirado no Cântico das Criaturas de Francisco de Assis) é a primeira encíclica inteiramente escrita por Jorge Bergoglio.
O Papa consultou vários especialistas, incluindo sacerdotes que trabalham na Amazônia, para redigir este documento. Ele será apresentado à imprensa internacional por um dos seus auxiliares, o cardeal Peter Turkson de Gana, chefe do ministério da Justiça e da Paz.
"Laudato si" fala sobre a "ecologia humana", tema mais amplo que a defesa da natureza e que afeta a maneira como a sociedade defende a vida, administra a "criação de Deus" e distribui aos homens.
O Papa tem criticado repetidamente os excessos do capitalismo desenfreado com base apenas no lucro, e não no bem-estar social.
Para Francisco, a "ecologia não é apenas uma questão de economia, mas também da ética e da antropologia", explica Civiltà Cattolica.