Para ONU, agora é a hora de agir contra iminente crise da água

20 mar 2015 - 20h42
(atualizado às 20h42)

Sem mudanças, o mundo irá mergulhar numa crise hídrica que pode ser incapacitante para os países quentes e secos - alertou a Organização das Nações Unidas nesta sexta-feira.

Em um relatório anual, a ONU afirmou que o desperdício de água é tão grande atualmente, que o mundo irá enfrentar um "déficit global da água" de 40% em 2030 - a diferença entre a demanda e a reposição da água.

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"O fato é que há água suficiente para satisfazer as necessidades do mundo, mas não sem mudar drasticamente a forma como a água é utilizada, gerenciada e compartilhada", disse a ONU em seu relatório anual sobre o Desenvolvimento Mundial da Água.

"Mensurabilidade, acompanhamento e execução" são urgentemente necessárias para fazer uso sustentável da água, afirmou Michel Jarraud, chefe da Organização Meteorológica Mundial (OMM), agência da ONU para a água.

O crescimento desenfreado da população é um dos maiores impulsionadores da futura crise, disse o relatório.

O atual número de cerca de 7,3 bilhões de seres humanos da Terra aumenta por volta de 80 milhões ao ano, atingindo a provável marca de 9,1 bilhões até 2050.

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Para alimentar essas bocas a mais, a agricultura, que já responde por cerca de 70 por cento de todas as retiradas de água, terá de aumentar a produção em cerca de 60 por cento.

A mudança do clima - que irá depender de quando, onde e como a chuva vier no nosso caminho - e a urbanização irão impulsionar a futura crise.

O relatório apontou para uma longa lista de abusos atuais, da contaminação da água por pesticidas à poluição industrial, passando pelo escoamento de esgoto não tratado, a super-exploração, principalmente para irrigação.

Mais da metade da população do mundo obtém abastecimento potável a partir de águas subterrâneas, que também fornecem 43 por cento de toda a água utilizada para a irrigação.

Cerca de 20 por cento destes aquíferos estão sofrendo uma super-exploração perigosa, disse o relatório.

Tanta água doce tem sido sugada da rocha esponjosa, o que resulta na subsidência, ou seja, a intrusão salina na água doce em zonas costeiras.

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Em 2050, a demanda mundial de água deve aumentar 55 por cento, principalmente em resposta ao crescimento urbano.

"As cidades terão de ir mais longe ou cavar mais fundo para terem acesso à água, ou terão que depender de soluções inovadoras e de alta tecnologia para atender às suas demandas de água", prevê o relatório.

O panorama, que deve ser lançado em Nova Délhi, reúne dados de 31 agências do sistema ONU e 37 parceiros da ONU-Água.

O documento coloca os holofotes sobre regiões quentes, secas e sedentos que já estão lutando contra a demanda implacável.

Na planície norte da China, a irrigação intensiva fez com que o lençol freático diminuísse mais de 40 metros em alguns lugares, segundo o relatório.

Na Índia, o número de chamados de poços artesianos, puxando água subterrânea para a superfície, passou de menos de um milhão em 1960 para quase 19 milhões 40 anos mais tarde.

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"Esta revolução tecnológica tem desempenhado um papel importante nos esforços do país para combater a pobreza, mas o desenvolvimento da irrigação que se seguiu tem, por sua vez, resultado em estresse hídrico significativo em algumas regiões do país, como Maharashtra e o Rajastão", ressalta o relatório.

O especialista em água Richard Connor, principal autor do relatório, afirmou que a perspectiva é desoladora para algumas áreas.

"Partes de China, Índia e Estados Unidos, bem como do Oriente Médio, foram contando com a extração subterrânea insustentável para atender às demandas de água existentes", disse Connor à AFP.

"Na minha opinião pessoal este é, na melhor das hipóteses, um plano B míope. Na medida em que esses recursos de água subterrânea forem se esgotando, não haverá plano C, e algumas dessas áreas pode de fato tornar-se inabitáveis", prosseguiu.

No ano passado, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vencedor do prêmio Nobel, estimou que cerca de 80 por cento da população do mundo "já sofre sérias ameaças à sua segurança hídrica, medida por indicadores como disponibilidade de água, demanda por água e poluição".

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"A mudança climática pode alterar a disponibilidade de água e, portanto, ameaçar a segurança da água", alertou o IPCC.

Corrigir os problemas - e atender às necessidades dos 748 milhões de pessoas sem água potável melhorada e dos 2,5 bilhões sem rede de esgoto - exige inteligência e agilidade dos governos, pontuou o novo relatório da ONU.

Em termos reais, isto significa colocar juntos regras e incentivos para reduzir os resíduos, punição à poluição, incentivo à inovação e fomento de hábitats que proporcionam paraísos para a biodiversidade e água para os seres humanos.

Significa, também, aprender a neutralizar possíveis conflitos por água - já que diversos grupos disputam um recurso precioso e cada vez mais escasso.

"As tarifas de água praticadas atualmente são, em geral, muito baixas para realmente coibir o uso excessivo de água pelas famílias ricas ou pela indústria", observou o relatório, que alerta para uma futura revisão de preços.

Mas o documento pondera: "o uso responsável às vezes pode ser mais eficazmente promovido através de ações de sensibilização e apelando para o bem comum" do que somente pelo bolso.

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