Projeto de alunas de escola pública no Paraná transforma óleo de cozinha em biodiesel

Iniciativa de meninas cientistas permitiu que um dos ônibus escolares municipais funcionasse com o biodiesel criado por elas no Paraná

23 ago 2023 - 05h00
Projeto de alunas de escola pública no Paraná transforma óleo de cozinha em biodiesel
Projeto de alunas de escola pública no Paraná transforma óleo de cozinha em biodiesel
Foto: Divulgação

Um grupo de alunas desenvolveu um projeto sustentável em que transformam óleo de cozinha em biodiesel no Colégio Estadual Conselheiro Carrão, uma instituição de ensino médio em tempo integral em Assaí, no Paraná. O projeto de iniciação científica completamente feminino possibilitou que um dos ônibus escolares municipais funcionassem com o biodiesel criado pelas estudantes. 

Sob a mentoria do professor de Química e Física Matheus Rossi, e com o apoio da Universidade Federal do Paraná (UFPR), as jovens Eduarda Pietra, Fabiane Hikari, Letícia Ayuimi, Eduarda Miura e Luiza Alves criaram uma startup júnior chamada "BIOSUN", quem tem como objetivo principal aproveitar o óleo de cozinha descartado e convertê-lo em biodiesel de alta qualidade.

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Segundo o professor, a principal meta do "BIOSUN" é centralizar a produção de biocombustível na escola e, paralelamente, estimular a criação de uma "linha verde" na cidade. Esta linha exclusiva de ônibus seria movida unicamente pelo biodiesel gerado localmente, contribuindo assim para a redução do descarte irregular de compostos orgânicos, além de incentivar uma abordagem eco-friendly para a mobilidade urbana e a sustentabilidade.

"A intenção das alunas é, em parceria com a prefeitura, transformar alguns dos ônibus escolares em uma rota especial abastecida somente com o biodiesel produzido pelo projeto. Isso resolveria a questão do descarte inadequado de resíduos orgânicos e, ao mesmo tempo, proporcionaria uma experiência enriquecedora tanto do ponto de vista científico quanto empresarial", afirmou Rossi. 

Eduarda Pietra, uma das alunas participantes do projeto, afirmou que a ideia do grupo surgiu após paletras e mentorias que elas tiveram na escola: "Dentro das palestras tinham alguns ODS [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] que eles apresentaram para gente, e nosso projeto precisava solucionar algum deles. A gente escolheu o de reciclagem, que seria como reciclar o óleo descartável."

O conceito do projeto é baseado na premissa de que o óleo de cozinha, em sua forma usada, geralmente é reciclado na produção de sabão. Entretanto, também é possível transformá-lo em um combustível alternativo, ecológico e de baixa emissão de poluentes.

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"Fizemos essa escolha porque muitas vezes as pessoas não descartam o óleo de cozinha corretamente. As vezes é descartado direto no esgoto, na pia. Então o que a gente pensou para solucionar seria usá-lo para produzir biodisel. Geralmente, a primeira coisa que se pensa ao reciclar o óleo é o sabão, mas como já era uma ideia que todo mundo conhecia, junto com nosso professor de Química tivemos a ideia de misturar o óleo filtrado com o álcool e gerar combustível", explicou Pietra. 

Ônibus operou com combustível sustentável

A iniciativa rendeu bons frutos e, durante as comemorações do aniversário da cidade, um dos ônibus escolares municipais foi abastecido e operou eficientemente com o biodiesel produzido pelas estudantes. Além disso, o veículo continuou em operação por quase uma semana, transportando alunos pela cidade usando exclusivamente o combustível produzido pelo grupo de meninas cientistas. 

No âmbito do "BIOSUN", o óleo coletado é aquecido e combinado com álcool e uma base forte. As primeiras experiências de produção foram realizadas na escola, enquanto versões subsequentes foram refinadas na UFPR, mais precisamente no polo Jandaia do Sul.

Construído sobre os pilares pedagógicos do ensino médio em tempo integral, como tutoria, aprendizado prático e orientação de estudos, o projeto proporcionou o desenvolvimento da autonomia e da criatividade das estudantes, conforme destacou Luiza Alves, outra aluna que compõe a iniciativa. "O projeto fez a gente perceber, que até mesmo na nossa vivência na escola, podemos fazer muito mais coisas sustentáveis do que imaginávamos."

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Letícia Ayumi, aluna também envolvida no projeto, afirmou que sempre teve interesse na área de ciências e que a ação permitiu que ela adquirisse mais conhecimento. "Para mim, meu projeto de vida foi fortalecido e grandemente influenciado pelas experiências que a equipe e o ensino médio em tempo tntegral me proporcionaram. Tenho um forte interesse na área de ciências naturais, adoro trabalhar em laboratórios e estou entusiasmada com a perspectiva de conduzir pesquisas científicas para resolver problemas cotidianos. O "BIOSUN" me proporcionou a oportunidade de vivenciar tudo isso, além de me permitir mergulhar no ambiente de pesquisa diário, com todos os desafios que ele apresenta", compartilhou.

Com relação ao futuro, as jovens cientistas contam que, além de aguardar a avaliação de viabilidade para a criação da "linha verde", elas aspiram expandir o escopo do projeto para reutilizar integralmente os subprodutos do processo de produção de biodiesel.

O professor Matheus Rossi também revelou que os próximos passos incluem buscar parcerias na indústria química para obter reagentes a custos acessíveis e a possibilidade de estabelecer um novo laboratório com o apoio de um investidor, para que o projeto continue sendo realizado dentro da escola nos próximos anos.

"A gente não tem a estrutura adequada para produzir o biodiesel no nosso laboratório e é isso que queremos. Dessa forma, o projeto poderia proporcionar que o estudante venha para escola com um combustível que ele fez dentro do colégio", destacou o educador ao Terra.  

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Por fim, Rossi destacou a importância de serem incentivadas atividades práticas de sustentabilidade dentro das escolas: "O mais importante para mim, foi que três delas, durante o projeto, se encontraram e decidiram o que seguir na faculdade. Quando tratamos de assuntos sustentáveis, é muito importante mostrarmos atividades na prática aos alunos, porque assim eles têm muito mais interesse em aprender. Por exemplo, na próxima etapa do projeto, estamos calculando quantas gramas de CO2 as linhas de ônibus vão emitir a menos usando o biodiesel. Acho que as coisas práticas tendem a ajudar no aprendizado."

Fonte: Redação Terra
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