Resultado da COP-26 adia respostas à crise climática

Segundo cientistas, eventos climáticos extremos - como inundações, secas e incêndios - serão cada vez mais comuns

14 nov 2021 - 05h10
(atualizado às 08h35)

O acordo fechado na Conferência do Clima (COP-26), em Glasgow, é pouco ambicioso diante da urgência de conter o aquecimento global e adia, mais uma vez, a solução para a catástrofe ambiental que se desenha para as próximas décadas. Essa é a avaliação de especialistas e organizações da sociedade civil sobre o resultado da negociação, que reuniu 197 países. Eventos extremos - como inundações, secas e incêndios - serão cada vez mais comuns, alertam cientistas.

Presidente da COP-26, Alok Sharma
Presidente da COP-26, Alok Sharma
Foto: Ewan Bootman via Reuters Connect

O objetivo era discutir ações para conter o aquecimento global a 1,5ºC ante os níveis pré-industriais, com base nas metas do Acordo de Paris, pacto assinado em 2015. Foram estabelecidas na COP regras para o mercado de créditos de carbono, promessas de reduzir o desmate e emissões do gás metano e houve avanços ao mencionar no texto final, pela primeira vez em um documento, o esforço para a redução de uso de combustíveis fósseis.

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Mas as expectativas de elevar verbas de países ricos para que nações pobres se adaptem às mudanças climáticas foram frustradas. "É pouco ambicioso. Foi uma COP muito voltada para o artigo 6 (regulação do mercado de carbono), como se ele fosse resolver todos nossos problemas", avalia Maureen Santos, professora de Relações Internacionais da PUC-RJ.

Em 2009, os países desenvolvidos haviam se comprometido a criar, até o ano passado, um fundo climático de US$ 100 bilhões. A promessa, porém, não foi cumprida. Segundo os cálculos mais recentes, o montante oferecido para essa finalidade não passava de US$ 80 bilhões. O acordo de Glasgow fala em dobrar os recursos para essa finalidade, mas não detalha como serão os esforços.

Para a especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, o fato de a COP-26 ter finalmente regulamentado o artigo 6 do Acordo de Paris, que trata do mercado de carbono, é positivo, uma vez que a questão se arrastava desde 2015. No entanto, a falta de definição e propostas concretas para o financiar a mitigação e adaptação climática é um problema que marcará a edição da Escócia. "Isso é muito ruim para os países pobres, que são os mais vulneráveis", diz ela, ex-presidente do Ibama.

"A salvação do clima foi adiada mais uma vez, para 2022, quando o mundo volta a se reunir em Sharm el Sheikh, no Egito", avaliou, em nota o Observatório do Clima, rede com 70 organizações da sociedade civil. A próxima edição da conferência será realizada na cidade do país africano

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"O prazo para mantermos o aquecimento global em limites seguros para a humanidade está se encerrando. Os resultados desta COP foram decepcionantes e não podemos mais ficar esperando a próxima", disse Maurício Voivodic, diretor executivo da WWF-Brasil.

A ativista sueca Greta Thunberg, de 18 anos, também criticou os resultados. "Um breve resumo da COP: Blá, blá, blá", escreveu no Twitter.

Já Roberto Waack, ofundador da iniciativa Uma Concertação pela Amazônia, vê o resultado final como positivo, apesar da ausência de um compromisso mais forte sobre financiamento. A Concertação é uma rede de pessoas, instituições e empresas para buscar soluções para a conservação e o desenvolvimento sustentável.

Ele credita ao Itamaraty o desempenho das negociações brasileiras e os compromissos assumidos pelo País. "Sem o (o ex-ministro do Meio Ambiente) Ricardo Salles, os negociadores ficaram mais à vontade e livres para fazer seu trabalho." Mas o descompasso entre a imagem que o Brasil vendeu e a realidade com os sucessivos recordes de desmate na Amazônia cobra seu preço. "O Brasil só fica de pé se a floresta ficar de pé. Caso contrário, vamos permanecer de joelhos."

Sobre o mercado de carbono, a avaliação é de que o modelo abre oportunidades para o Brasil. "O País tem posição privilegiada, com um dos maiores potenciais de venda de créditos de carbono no mundo", diz Marina Gross, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), que reúne grupos responsáveis por quase 50% do PIB do País.

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Ela pondera, no entanto, que "a ausência de um mercado regulado doméstico vai gerar prejuízos e perda de competitividade internacional para asempresas brasileiras". Elas não conseguirão, destaca, assegurar que produzem seguindo exigências de proteção climática adotadas no mercado mundial e "poderão enfrentar barreiras comerciais".

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