O ano é 2007. Na Suécia, pela primeira vez em todo o planeta, um governo nacional decidiu implementar uma lei que obrigava as empresas estatais do país, por serem propriedade do povo, a divulgar informações ESG, práticas que envolvem ações nas vertentes ambientais, sociais e de governança. Se nos primeiros anos os avanços em termos de transparência foram tímidos, hoje, quase 15 anos depois, a realidade sueca serviu de base tanto para o próprio país avançar quanto como forma de inspiração para outras nações, até em outros continentes.
"Quando olhamos agora para o processo de Green Deal Europeu podemos dizer que a regulação lá atrás facilitou a adaptação das empresas suecas ao novo conjunto de leis e a normas ambiciosas do continente, que busca ser carbono neutro até 2050", afirma Glaucia Terreo, diretora da Global Report Initiative (GRI) no Brasil. A executiva afirma que há ao menos 168 regulações ou normas publicadas hoje no mundo em 67 países.
Para Glaucia, toda a cultura envolvendo as práticas ESG, que engloba até a transparência das ações, é algo que já ganhou "tração" no mundo pelo fato de que reguladores e investidores entraram com ênfase no debate. "Não há como uma empresa ser saudável em um planeta doente. O tema deixou de ser nicho e está ficando cada vez mais clara a relação do contexto ao redor e o sucesso dos negócios", afirma a executiva do GRI no Brasil.
Questão nacional
No caso brasileiro, segundo ela, "não é diferente". "O mercado financeiro e os investidores, além dos conselheiros de administração das empresas, estão fazendo com que os relatos ESG ganhem a devida importância estratégica bem como a necessária consistência."
De acordo com os dados da GRI são aproximadamente 400 empresas que utilizam a metodologia internacional do grupo no País. "Vemos todos os dias novas empresas divulgando informações ESG. Temos bons relatos e outros que ainda estão passando pelo processo de aprendizado. Mas uma coisa não se pode negar: ESG é bom para a perenidade das empresas", diz Glaucia.
O fato de muitas empresas estarem mergulhando cada vez mais no entendimento do tema não significa que nunca praticaram ações voltadas para o ambiental, o social e para a governança. O problema é que nem sempre esses temas eram amarrados de forma eficaz. "A verdade é que ESG sempre existiu nas empresas: relações trabalhistas, meio ambiente, direitos humanos, fornecedores e governança. O que inexistia ou era frágil era a gestão desses aspectos com estratégia, metas, indicadores e a devida conexão disso tudo com a criação ou a destruição de valor", explica Glaucia.
Fatos que ilustram esse ponto de vista são os grandes acidentes relacionados às empresas do setor de mineração nos últimos anos, por exemplo, tanto no Brasil quanto no mundo. Em muitos casos, uma decisão tomada apenas pelo viés financeiro acabou tendo um efeito cascata negativo para o grupo. No novo contexto, a questão financeira deve ter o mesmo peso que os preceitos do universo ESG. O que vale agora tanto para o setor privado quanto para o público.
Público
No caso dos governos, segundo Rodrigo Perpétuo, secretário executivo do ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade na América do Sul), a transparência é fundamental para que as preocupações ESG sejam consolidadas e divulgadas. "Primeiramente, os governos precisam conhecer o território e as pessoas que nele habitam. É preciso ter dados. Quando vemos a falta de orçamento para o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (o levantamento decenal foi atrasado pela pandemia e a falta de recursos na gestão Jair Bolsonaro já levou o caso à Justiça), a gente fica muito preocupado porque essa é a base da política pública, que para ser feita de forma fidedigna precisa ter informações e ser baseada na ciência", diz Perpétuo.