Gentileza fez história: Mensagem do Profeta são patrimônio do Rio
Foto: Domínio Público /Wikimédia Commons
O pregador urbano mais famoso do país fez história no Rio de Janeiro e hoje dá nome a um terminal de ônibus na cidade. José Datrino, o Profeta Gentileza, nasceu em Cafelândia (SP) em 11/4/1917 e ficou conhecido por fazer inscrições peculiares nas pilastras do Viaduto do Gasômetro, no Rio.
Foto: Domínio Público /Wikimédia Commons
O Terminal Intermodal Gentileza foi inaugurado em fevereiro de 2024, integrando diferentes modais de transporte: o BRT Transbrasil (ônibus articulados com faixa exclusiva), linhas de ônibus municipais e linhas do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), com movimento diário de 150 mil pessoas em média.
Foto: Marcelo Piu/Prefeitura do Rio
A homenagem a Gentileza se deve à sua popularidade. Dizendo-se profeta, ele andava pela Zona Central do Rio com túnica branca e longa barba, transmitindo mensagens de paz. Ele criou o bordão "Gentileza gera gentileza". E disse que, ainda criança, teve premonição de que, após constituir família, deixaria tudo para trás na missão de fazer o bem.
Foto: Reprodução de Facebook
Na infância, José lidava diretamente com a terra e com os animais. Para ajudar a família, puxava carroça vendendo lenha nas proximidades. Aprendeu a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, como profeta Gentileza, se dizia "amansador dos burros homens da cidade sem esclarecimento".
Foto: Reprodução de Facebook
Antes de tornar-se “Profeta Gentileza”, Datrino possuía uma empresa de transporte de cargas e residia, com sua família, no bairro de Guadalupe. Também morou na cidade de Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais, onde fazia pregações de frente ao prédio do INSS, nos anos 1977 e 1978.
Foto: Famacruz /Wikimédia Commons
Em 17/12/1961, ocorreu a Tragédia do Gran Circus Norte-Americano, em Niterói, uma das maiores fatalidades do mundo circense, com mais de 500 mortos (na maioria, crianças). Seis dias depois, José disse ter ouvido "vozes astrais" que o mandavam abandonar o mundo material e se dedicar ao espiritual.
Foto: Reprodução do site vellamo.eng.br/noticias
O Profeta pegou um de seus caminhões e foi para o local do incêndio onde hoje encontra-se a Policlínica Militar de Niterói (foto). Plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo.
Foto: Divulgação Portal do Exército Brasileiro
José Datrino, então, passou a difundir o sentido das palavras Agradecido e Gentileza. Foi um voluntário, que confortou os parentes das vítimas da tragédia. Daquele dia em diante, passou a se chamar "José Agradecido", ou "Profeta Gentileza".
Foto: Reprodução Globoplay
Gentileza começou, então, a sua jornada como personagem andarilho. A partir de 1970, era visto em ruas, praças, nas barcas da travessia entre as cidades do Rio de Janeiro e Niterói, em trens e ônibus, fazendo sua pregação.
Foto: Reprodução Globoplay
Aos que o chamavam de louco, ele respondia: - "Sou maluco para te amar e louco para te salvar". O Profeta Gentileza também oferecia, em gesto de gentileza, flores e rosas para as pessoas que cruzavam seu caminho nas ruas do Rio de Janeiro.
Foto: Reprodução Globoplay
A partir de 1980, escolheu 56 pilastras do Viaduto do Gasômetro, que vai do Cemitério do Caju até o Terminal Rodoviário do Rio, numa extensão de 1,5 km. Ele encheu as pilastras com inscrições em verde e amarelo propondo sua crítica do mundo e sua alternativa ao mal-estar da civilização.
Foto: Reprodução Globoplay
Durante a Eco-92, o Profeta Gentileza colocava-se estrategicamente no lugar por onde passavam os representantes dos povos e os incitava a viver com gentileza.
Foto: Flickr Cesar Senatore
Em maio de 2000, os murais foram tombados como Patrimônio Cultural do Município do Rio. Entretanto, em 2016 sofreram atos de vandalismo. Foram pichados e depois cobertos por tinta cinza. Mas houve reação popular cobrando a restauração e a prefeitura providenciou a recuperação da obra de Gentileza.
Foto: Reprodução Globoplay
Ele criou uma tipologia nova e uma escrita própria, com algumas letras triplicadas. Amorrr, por exemplo: ele sempre dizia: "amor material se escreve com um R, amor universal se escreve com três: um R do pai, um R do filho, um R do espírito santo: Amorrr.
Foto: Arquivo Nacional
Nos anos de 1970 e 1980, Gentileza viajou por mais de 40 cidades levando seu lema. Quando chegava a um novo município, ia à rádio local e anunciava sua missão. Após um incidente em Aquidauana, em que foi preso, passou a pedir cartas de referências nas delegacias de cada localidade.
Foto: Flickr Claudia Ferreira
No final do ano 2000, foi publicado pela EdUFF (Editora da Universidade Federal Fluminense) o livro Brasil: Tempo de Gentileza, do professor Leonardo Guelman. A obra introduz o leitor no "universo" do profeta Gentileza através de sua trajetória, estilização de objetos, caligrafia singular e os 56 painéis criados por ele.
Foto: Reprodução Globoplay
Nas artes, Gentileza foi homenageado na música pelo compositor Gonzaguinha, nos anos 1980. Também recebeu a homenagem da cantora Marisa Monte, nos anos 1990. As duas canções levam o nome Gentileza.
Foto: Reprodução Youtube
A canção "Gentileza" de Marisa Monte é repleta de mensagens positivas que transmitem a ideia de gentileza, amor e cuidado com o próximo, no álbum "Memórias, Crônicas e Declarações de Amor" (2000). O clipe e a letra fazem referência direta ao Profeta Gentileza e os ideais que pregou ao longo da vida.
Foto: Reprodução Youtube
Em 2001, o Profeta Gentileza foi enredo da Acadêmicos do Grande Rio, no carnaval carioca. O carnavalesco Joãozinho Trinta surpreendeu apresentando um voo de astronauta em plena Sapucaí. Ele explicou a ligação desse voo com Gentileza: "Vivemos uma era espacial e temos tanta fome, pobreza e violência. É um contraste que ainda não foi resolvido".
Foto: Divulgação LIESA
Eric Scott era dublê de uma empresa de efeitos especiais de Dallas, no Texas, e virou a celebridade do desfile. Ele fez quatro voos na avenida, numa máquina de propulsão a jato chamada "rocket belt", criada pela Nasa, agência espacial americana.
Foto: Divulgação LIESA
Gentileza morreu em 28/5/1996, em Mirandópolis (SP), cidade de seus familiares, onde foi sepultado. Ele tinha 79 anos e sofria de problemas de circulação do sangue. Já estava com dificuldades de locomoção.
Foto: Reprodução Globoplay
Acompanhe o Terra
Diariamente o Terra traz conteúdos para você se manter informado. Acesse o site e nos siga nas redes.
Foto: Domínio Público /Wikimédia Commons