A advogada, personal stylist e estudante Osanita Rodrigues tem 40 anos e saúde, disposição e corpo que enganam direitinho quem cruza com ela pelos corredores de academias e não sabe de sua história.
Ela levanta às 5h da manhã, faz faculdade de jornalismo, administra três lojas de roupas fitness, cuida do blog Projeto Massa Magra e tem ainda abdômen trincado, pernas torneadas, braços fortes e bumbum durinho. Mas essa rotina e, principalmente, a imagem são novidades na vida da pernambucana criada em São Paulo. “Antes eu só tinha gordura, comia uma pizza de calabresa inteira com um litro de refrigerante, imagina?”.
(Foto: Rodrigo Dionisio / FramePhoto)
Pelas fotos que ela posta no Instagram e as histórias que conta em seu blog, é difícil mesmo acreditar que seja a mesma pessoa. Com short curto e top, ela circulava pela academia - onde recebeu o Terra - à vontade com o próprio corpo, bem diferente de alguém que só tinha usado maiôs até 2007. “Meu sonho era andar na praia de biquíni e sem canga”.
O sonho foi realizado quando, aos 33 anos, ela contratou um personal trainer, passou a seguir à risca cardápio feito por uma nutricionista e eliminou 18 kg em seis meses. “Meu personal era muito rígido, pegava muito no meu pé. Se ele falasse que eu tinha que escalar uma parede para emagrecer, eu escalava. Várias vezes saí do treino chorando, não é mentira. Várias vezes, quis desistir”. O resultado foi pular do manequim 46 para o 34 e, claro, se livrar das cangas e maiôs e comprar o primeiro biquíni P da vida.
Com novo corpo e novos hábitos, Osanita começou a desfilar na praia e encontrou na musculação e no esporte um estilo de vida. Mas, em 2013, começou a estudar em período integral, a fazer as refeições em restaurantes na rua e ir à academia apenas uma ou duas vezes na semana. Resultado? Engordou de novo e recuperou todos os 18kg perdidos. “Nessa época eu já tinha músculo, então fiquei muito grande. Não tinha muita barriga, mas tinha muita celulite”, lembra. O grito de alerta veio quando as calças tamanhos 42 e 44 voltaram a aparecer no armário, além da saúde. “Ficava indisposta, perna inchada, pé doendo”.
Foi aí que o Projeto Massa Magra começou a surgir. Em setembro do ano passado, Osanita voltou à academia com treino pesado todos os dias e a preparar cuidadosamente em casa as marmitas no domingo para comer durante a semana. Em três meses, foram 12 kg eliminados. Mais 90 dias e outros 8 kg a menos. Hoje, ela mantém a saúde com 60 kg distribuídos em 1,68 m e 14% de gordura corporal. Em entrevista ao Terra, ela conta detalhes desse duplo processo de emagrecimento e do sucesso do blog que tem mais de 43 mil curtidas no Facebook e 15 mil no Instagram.
Terra: Você sempre foi gordinha ou teve fases de controlar melhor o peso?
Osanita Rodrigues: Foram fases e fases. Nunca fui gordinha quando era mocinha, mas também não era magrinha. Minha mãe é gordinha, bem gordinha, mas só me dei conta de que a coisa realmente estava feia quando fui usar 46. Já estava com 33 anos e pesava quase 80 kg. E eu não tinha massa magra, só gordura, porque não treinava, não praticava atividade física, tinha uma vida bem sedentária.
Terra: Quando percebeu que precisava fazer alguma coisa em relação à sua saúde e ao peso?
OR: Primeiro, trabalhava como advogada, mas em 2007 fui convidada a montar uma loja de roupa fitness na academia. Lá, começava a ver as meninas malhando e resolvi que era hora de mudar. Contratei o personal e, nessa época, meu corpo mudou. Mas acho que não é só questão de corpo, é questão de mente também. Eu tinha uma mente gordinha, eu comia muito. Não gosto muito de doce, por exemplo, mas comia muita fritura, gordura, McDonald’s. Eu comia uma pizza inteira com um litro de refrigerante, imagina? Você vai perdendo a noção. Até então, eu não usava biquíni, não usava a roupa que queria, apesar de ser vaidosa. Sempre falava “ah, amanhã eu começo” ou então fazia essas dietas malucas em que você fica sem comer.
Terra: Como você conseguiu se livrar desses maus hábitos e mudar sua rotina?
OR:
A academia, que era o ambiente onde eu estava, colaborou muito para isso. Claro que lá têm pessoas acima do peso, mas todas têm um objetivo, querem melhorar o corpo, a autoestima. Na época, meu personal era muito rígido, pegava muito no meu pé. Várias vezes saí chorando, quis desistir e ele me dizia: 'você tem seis meses para conquistar seu objetivo porque você é capaz. Se você não conseguir, não te dou mais aula'. Nesses seis meses, se ele falasse que eu tinha que escalar uma parede para emagrecer, eu escalava. Foram 18 kg em seis meses, até então eu usava 46 e, em seis meses, pulei para o 34. Hoje eu uso 36 com meu atual peso (60 kg). Quando começa a ver resultado, você começa a querer mais. Hoje isso não é sacrifício nenhum, se eu não treino, não faço
corrida, caminhada, ginástica, musculação, meu dia não funciona, parece que está faltando alguma coisa. Sempre faço uma hora de musculação por dia e ainda outro trieno combinado. E gosto de tudo, muay-thai, boxe, MMA, pilates, ioga, dança, bike.
(Foto: Rodrigo Dionisio / FramePhoto)
Terra: Acha que se o seu personal não tivesse ficado tanto no seu pé, teria desistido?
OR:
Ah, acho que se não tivesse uma pessoa, teria sido pior. Não que nós não somos capazes, mas às vezes você precisa de alguém para puxar o seu pé e falar “vamos que você consegue!”. Os primeiros dias, principalmente as primeiras três semanas, são complicadas.
Terra: Fazia muitas dietas antes de decidir emagrecer pela primeira vez há sete anos?
OR:
Muito, muito não, mas algumas. É horrível, porque você fica sem comer, emagrece muitos quilos, mas depois volta a comer tudo porque não passou por uma reeducação, mas por uma catástrofe. Mas hoje, levo uma vida tranquila, saio com meus amigos, e não deixo de tomar uma taça de pró-seco uma vez por semana. Tem o dia que posso sair do que como habitualmente e comer uma massa, por exemplo. Eu como pizza, mas pizza integral. Ela é tão gostosa ou até mais gostosa que a massa comum. Não deixo de fazer minhas coisas por causa da alimentação, mas cortei algumas coisas como refrigerante, que hoje eu não gosto e não me faz falta.
Terra: O que mais você cortou do cardápio?
OR:
Gordura, fritura, fastfood. Um tempo atrás, fiz uma experiência porque eu estava com vontade. Comi um lanche e não me senti bem, passei mal. Seu organismo não aceita mais coisas que não sejam saudáveis, não faz mais parte da minha vida e não me faz falta. Comia uma pizza de calabresa com
queijointeira, mas nunca mais comi calabresa . Não como chocolate porque não consigo gostar. Só como um doce de leite que eu mesma faço. É saudável, mas não é nada sacrificante, é uma coisa que me faz bem. A
pelemelhorou, o
cabelomelhorou, o corpo melhorou, por que eu vou abrir mão disso?
Terra: Como é seu cardápio hoje?
OR:
Quando acordo às 5h, como tapioca com cottage, tomo um copo de suco sempre natural detox. Cada dia faço um diferente. Às 10h, tomo uma dose de proteína, que é uma mistura de whey protein com glutamina (usado para aumentar a imunidade). No almoço, como muita salada, arroz integral, lentilha no lugar do feijão, carne, frango ou peixe. De sobremesa, como uma fruta. No lanche da tarde, posso comer algumas castanhas. Não como carboidrato à noite, então no jantar é salada e proteína. Antes de dormir, tomo uma dose de caseína, que é uma proteína de absorção lenta que vai me fazer não acordar com fome de comer as paredes. São pelo menos seis refeições por dia.
Terra: Abre alguma exceção nesse cardápio? Ainda tem um momento de enfiar o pé na jaca?
OR:
Eu vou ao restaurante japonês, mas não como nada cru. Como pizza integral, geralmente na sexta ou no domingo. Se tiver uma festa e não tiver salgadinho integral, vou fazer o quê? Vou comer!
Terra: Nesse primeiro processo de emagrecimento, alguma coisa te surpreendeu?
OR:
Achei que eu nunca fosse gostar de proteína, de suplemento. Pensava “gente, como vou tomar esse negócio, essa água suja?”. No começo é ruim porque não fazia parte da minha vida, mas hoje faço coisas incríveis com proteína. Ando com o meu shake o dia inteiro.
Terra: Você manteve o peso e o corpo por seis anos até começar a engordar de novo. Como foi esse período?
OR:
Eu fazia tudo para manter. A
dietanão é mais tão rígida, você pode aumentar a quantidade de comida e, como meu treino já estava muito acelerado e meu organismo tinha se acostumado, consegui manter tranquilamente.
Terra: O que aconteceu quando voltou a se descuidar do peso e engordou novamente?
OR:
Emagreci em 2007. Em 2013, estava fazendo curso de apresentadora de TV, curso de locutora e faculdade e passei a estudar em período integral, das 7h às 18h. Abri mão de ir todos os dias à academia e, de janeiro a setembro de 2013, eu engordei 18 kg. Eu não comia daquela como antes de emagrecer e acho que, por isso, não me dei conta que estava engordando tanto ao longo desses nove meses. Não levava mais a marmita do almoço nem os lanches de três em três horas. Não comia fritura, nem nada, mas, num restaurante, se não tinha arroz integral, acabava comendo do branco mesmo. Você fica o dia inteiro sentada, come errado e não pratica atividade física. Eu engordei demais e não estava me dando conta. Como eu já tinha músculo, uma massa magra bacana, eu só fui aumentando, fui ficando aquela mulher grande, não ficava aquela gorda barriguda, mas grande e cheia de celulite.
Terra: E quando você percebeu que tinha voltado ao antigo peso?
OR:
Em setembro, estava comprando roupa nova porque minhas calças não me serviam mais. Eu já estava usando 44 de novo! No dia 10 de setembro, decidi que ia voltar a fazer tudo o que fazia antes: minha dieta, minha academia. Falei com o Robert: “vamos voltar e acelerar esse treino”. A nutricionista fez todo o cardápio de novo, mais uma vez. Em dezembro, eu já tinha emagrecido 12 kg. Saí de
fériasda faculdade e quando voltei, em fevereiro,já tinha emagrecido os 18 kg e mais 2 kg. Já estava usando de novo meu 36, 34. Estava maravilhosa e aí que surgiu a ideia do blog, o projeto Massa Magra.
(Foto: Rodrigo Dionisio / FramePhoto)
Terra: Como foram as primeiras postagens?
OR: Percebi que as pessoas têm muita, mas muita carência. Elas precisam ter alguém para seguir, para se espelhar. Recebo tantas mensagens bacanas. Não imaginava que isso poderia acontecer em seis meses. Hoje preparo o que vou postar. Para mim é bom, porque estou me aplicando e posso ajudar as pessoas. Acho isso fantástico.
Terra: Algum dia se imaginou com esse corpo?
OR:
Não. Nunca. Sempre quis, mas nunca tinha feito nada para isso. Meu sonho era uma coisa bem boba, colocar um biquíni e passear na praia sem canga. Colocar um biquíni já era uma barreira, imagina caminhar na praia? Eu sou vaidosa, gosto quando chego na loja e pego o biquíni P. Hoje sou uma mulher 100% realizada, adoro meu corpo e cuido bem dele porque é meu. Aos 40 anos você é mais segura, não liga mais para os outros. Claro que é bom ganhar elogios, mas me sinto realizada pela força de vontade, pela saúde e não por ser gostosa.
Terra: O que você via antes e vê agora no espelho?
OR:
Outra mulher, né? Não me reconheço nas fotos. Tudo agora me agrada. Meu corpo me agrada, minha mente me agrada. Primeiro, não me vejo com 40 anos, assim como não consigo acreditar que naquela foto de 2007, em que eu tinha 33 anos. A impressão é que ali eu tinha 40 e hoje tenho uns 30, 25.
(Foto: Rodrigo Dionisio / FramePhoto)
Terra: Antes de você emagrecer, quem era seu ideal de beleza, tinha alguém que servia como inspiração?
OR:
Eu queria ter o corpo de toda gostosa da televisão. Mas eu só queria, não fazia nada para ter. Semprei achei a Claudia Raia linda, um mulherão, bailarinas das coxas grossas. Nessa época, em 2007, eu não me ligava muito em mulher sarada, me ligava em mulher bonita. Mas, depois que emagreci e comecei a acompanhar a Bella Falconi, acho ela linda porque não é aquela musculosa exagerada, ela é definida, magra. Hoje ela é a minha inspiração. Não quero ter o corpo dela porque ela é muito magrinha, mas acho o corpo fantástico, maravilhoso.
Terra: Hoje, o que é um corpo perfeito para você?
OR:
Para mim é uma mulher magra, mas sem exagero, e definida. Não acho bonito aquele coxão, aquela coisa exagerada, não almejo isso para mim.
Terra: Um corpo definido estilo Gracyanne Barbosa?
OR:
Não acho o corpo dela feio, mas não quero para mim. Ela diminui bastante nos últimos meses e acho bem bonito, mas não quero porque deve ser muito sacrifício para manter.
Terra: Tem alguma parte do corpo que incomodava mais e você cuida?
OR:
A barriga. Minha barriguinha era uma pochete. Qualquer descuido é fatal. Se você coloca um biquíni e tem uma celulite, as pessoas não reparam. Mas se você está com a barriguinha caída, todo mundo olha, é um horror.
(Foto: Rodrigo Dionisio / FramePhoto)
Terra: Faz algum tipo de tratamento estético?
OR:
Sim, desde 2007, quando comecei a emagrecer, mas é muito caro, né? Acho que ajuda muito, mas não resolve sozinho. Estou com 40 anos e tudo fica mais difícil. O metabolismo é mais lento, aparece celulite. Eu treino como uma louca, mas olho no espelho e a celulite está aqui. Aparece, vou fazer o quê? Não tem jeito. Aí vou para massagem, drenagem e outros aparelhos.
Terra: Além da celulite, como lida com a flacidez, estrias?
OR:
Quando emagreci, não fiquei muito flácida porque fiz musculação. Não gosto nada da flacidez, mas eu tenho. Que mulher não tem? Mas procuro tomar bastante água, colágeno. Não existe mulher que não tenha uma celulite, uma estria, só se for de plástico.
Terra: Já fez cirurgia plástica?
OR:
Coloquei silicone com 32 anos, ainda era gordinha. Mas há três anos troquei porque, quando emagreci, o peito caiu.
Terra: O que mudou na sua vida sexual e social com esta nova rotina?
OR:
Você fica mais vaidosa. Pode colocar uma
lingeriebacana, você se mostra mais. Quando tem vergonha do seu corpo, você vai se mostrar para quem?
Terra: O que seus amigos e familiares acharam?
OR:
No começo, minha mãe falava que eu estava muito magra, mas foi a única que falou isso. Hoje ela já não liga. Meus amigos, minhas irmãs, todos aprovaram. Hoje encontro pessoas da época em que era gordinha e tem gente que não me reconhece.
Terra: Como foram as mudanças no seu guarda-roupa?
OR:
Eu nem usava roupa fitness, usava no máximo uma
calçapreta e uma camiseta. Hoje não, meu guarda-roupa é repleto. Amo treinar de top, não consigo treinar de camiseta. Não sei se isso é psicológico: como eu não podia antes, agora eu posso, então faço. Já no dia a dia, não mudou muito, sou mais tranquila, gosto muito de jeans, muita roupa social também,
vestido. Minissaia e short curto só uso na praia.
Terra: Você fez curso de personal stylist e atendia às clientes de suas lojas em casa. O que falava para uma mulher que estava começando e nunca tinha usado nada de estilo fitness?
Osanita Rodrigues: Sempre procuro incentivar a colocar uma roupa confortável e o mais justa possível. Quando estamos acima do peso temos aquela mania de tudo é G ou GG. E na realidade não é. Às vezes a mulher usa um M, mas ela quer colocar um G e fica aparentando mais gordinha com roupa larga.
Terra: Está satisfeita com o corpo e a saúde que tem hoje?
Osanita Rodrigues:
Meu plano é continuar bem. Ficar feliz. Não quero ser aquela maluca de perder a noção. Às vezes, as pessoas perguntam se eu emagreci, mas a roupa é a mesma, o peso é o mesmo. Só que, quanto mais você treina, mais modela o músculo. Não quero emagrecer mais, do jeito que estou, está fantástico.