Há cerca de 15 dias, Geisy Arruda foi parar nos Trend Topics do Twitter ao postar uma frase sobre a cirurgia íntima que acabara de fazer. “Esta terça- feira eu acabei fazendo uma das maiores loucuras da minha vida (...)! Mas não quero que o mundo acabe e eu tendo uma couve-flor no lugar da vagina!”, comentou, imediatamente se tornando alvo de piadas e comentários.
Geisy Arruda faz cirurgia íntima para mudar sua "couve-flor"
Embora tenha sido encarado com naturalidade por Geisy, o tema é algo sério, e, para muitas mulheres, chega a ser um grande problema. A cirurgia íntima, ou ninfoplastia, é indicada para pacientes que têm os pequenos lábios aumentados. Na maioria dos casos, de acordo com os especialistas ouvidos pelo Terra, o desconforto é mais psicológico do que funcional: por sentirem que têm algo diferente do padrão, muitas mulheres se sentem constrangidas diante dos parceiros.
No caso de Geisy, que vinha dando uma importância maior ao problema há pelo menos quatro anos, não foi diferente. “Na verdade eu tinha uma relação muito conturbada com a minha vagina. Era algo que me incomodava muito, eu tinha muita vergonha. Sempre foi assim mas eu nunca tinha reparado, então comecei a ver a de amigas e reparar que eu era diferente”, contou.
O desconforto aparecia ao colocar roupas muito apertadas, e, principalmente, entre quatro paredes. “Na relação o que mais me constrangia era o sexo oral, era algo que eu não deixava fazer em mim, tinha vergonha de que o meu companheiro percebesse esse exagero nos lábios. Isso me atrapalhava muito. Não tinha preliminares, era uma coisa que eu pulava”, relembra.
De acordo com a ginecologista Paula Marcovici, de São Paulo, a procura pela correção é grande, especialmente entre meninas de 16 e 17 anos, que estão se iniciando na vida sexual. Mas a recomendação dos médicos é que o procedimento só ocorra sob indicação médica, depois dos 18, quando a vagina já está completamente desenvolvida. Confira abaixo as principais recomendações sobre esta cirurgia.
Principais queixas
Além da insatisfação com a parte estética, a maioria das pacientes se queixa do constrangimento causado pela hipertrofia dos pequenos lábios, segundo observa André Colaneri, cirurgião plástico e especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “Muitas mulheres dizem que achavam que tinha algo diferente, mas esse é o tipo de coisa que não se comenta com as amigas”.
Ele observa que, na maioria dos casos, o problema tem a ver mais com a parte comportamental – refletindo na vida sexual – do que na funcional. “Tem mulher que não tira a roupa na frente do marido. A maioria dos homens não repara, não sabe que é diferente, mas a mulher se sente totalmente constrangida”.
Sob o ponto de vista clínico, os relatos mais recorrentes tem a ver com incômodo ou dor na relação sexual e maior exposição à infecção, mas também acabam passando pelo âmbito psicológico. “Muitas pacientes têm a sensação de que as pessoas estão vendo através da roupa”, observa Paula.
Mudança de hábito
André relata um sensível aumento da procura por este procedimento, atribuído à maior divulgação do tema e, consequentemente, ampliação do conhecimento a respeito. “Essa cirurgia tinha uma procura reprimida porque, diferente da prótese de mama, que as meninas mostram para as amigas, quem faz a ninfoplastia geralmente não conta para mais ninguém, porque tem vergonha. É uma cirurgia íntima não só no nome, mas também porque é algo que a mulher faz somente para ela”, explica, ressaltando que por várias vezes operou mulheres que foram para o consultório sozinhas, e voltaram de táxi, para que ninguém ficasse sabendo.
Paula reforça a tese, dizendo que antigamente a cirugia era mais procurada por motivos funcionais do que estéticos. “Acho que hoje a mulher está muito mais preocupada com o corpo, inclusive com a região genital, e tem menos vergonha de falar sobre isso”.
O procedimento
O cirurgião André explica que a ninfoplastia é feita com anestesia local. O excesso dos pequenos lábios é retirado e a a sutura é feita com pontos absorvíveis, que não precisam ser retirados. “Depois de duas a três semanas, o fio cai sozinho, não precisa tirar”, afirma, acrescentando que o procedimento não altera a sensibilidade na região.
É importante ressaltar que os pequenos lábios têm uma função fundamental para a saúde – são eles que previnem contra infecções, segundo explica a ginecologista Paula. “É uma pele com mucosa, que cicatriza com mais retração do que qualquer outro lugar do corpo. Se cortar demais, pode haver exposição da uretra e causar infecção”, destaca.
Principais recomendações
De acordo com Secretário Geral da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Dênis Calazans, este tipo de cirurgia não carrega uma nuance exclusivamente da cirurgia plástica. “É preciso pensar no âmbito da sua funcionalidade. E para isso, os ginecologistas são os profissionais mais capacitados para esse tipo de procedimento”, ressalta.
A ginecologista Paula reforça, explicando que nem todos os ginecologistas fazem esse tipo de cirurgia, mas o ideal é que ele seja o primeiro profissional a ser consultado, ainda que encaminhe para um cirurgião plástico. “O ginecologista é o profissional que acompanha a mulher, então o ideal é que ela converse com ele para que ele oriente sobre a cirurgia. É ele quem vai poder dizer o quanto será reduzido e se a cirurgia pode ser feita no hospital ou no próprio consultório, para os casos mais simples”, pontua.
Pós-operatório
Apesar dos resultados agradarem na maioria dos casos, Paula avisa que o pós-operatório é dolorido e desconfortável, por isso, exige cuidados especiais que suaviam estes sintomas. “Os pequenos lábios são muito vascularizados, têm muita sensibilidade. Ao fazer xixi, a paciente pode sentir certo incômodo”, explica.
No entanto, o retorno às atividades pode ocorrer relativamente rápido, desde que as orientações sejam seguidas. A especialista explica que a volta ao trabalho pode ocorrer de três a quatro dias após o procedimento, mas atividades físicas só devem voltar à rotina após 15 dias e relações sexuais depois de, no mínimo, 20 dias. “É preciso ter cuidado para que os pontos não infeccionem. O ideal é evitar o papel higiênico ao urinar, e lavar bem o local sempre que for ao banheiro. Também são recomendados banhos de assento”, afirma Paula.
Benefícios
Mais do que eliminar o desconforto causado pelos excessos, a redução dos lábios trazem muitos ganhos psicológicos, conforme observa o cirurgião André. “Na consulta eu falo que vai existir a mudança física, mas a psicológica é muito maior, porque ela vai se sentir mais livre, mais à vontade. Acaba melhorando a vida sexual porque ela passa a curtir mais o momento”, analisa.
Geisy se diz satisfeita com os resultados. “Essa cirurgia trouxe para mim uma libertação. Esteticamente está muito mais bonito, e também posso usar a roupa que eu quiser”, conta, acrescentando que da parte sexual ainda não pode falar. “Eu brinco que estou na seca esse ano e só vou ‘voltar’ no ano que vem. Brincam comigo que eu tenho que leiloar, pois agora está seminova”, conta.
O apelido “couve-flor” ficou no passado. Agora, ela recebe sugestões de novos nomes. “Borboleta, flor de laranjeira, botão de rosa”, enumera, rindo. Às mulheres que se sentem desconfortáveis com essa condição, ela dá a dica. “Procurem um especialista e façam a operação. A recuperação é chata, trabalhosa, mas o resultado final é impagável, você se sente mais mulher, mais bonita”, finaliza.