Foi-se o tempo que estética era preocupação feminina. O estudo de tendências aponta para a consolidação de um "novo masculino" em que o homem moderno se sente mais confortável para cuidar do corpo e da aparência.
O movimento recebe destaque na Ásia - "desde os 'beauty boys' do Japão, passando pelos 'flower boys' e K-poppers da Coreia até o little fresh meat' da China", diz um trecho do relatório “The Future of Aesthetics” ou “O Futuro da Estética”, em português, produzido pela empresa Allergan Aesthetics. Por lá, prevalece a busca por pele macia, lábios carnudos e nariz menor.
Já na América Latina, há um interesse maior em deixar a mandíbula mais marcada, observa a dermatologista Ligia Colucci, única profissional brasileira a colaborar com o estudo. "Sem exagero ou um queixo mais projetado, elegantemente", complementa, em entrevista ao Terra.
Mudança geracional
Para a dermatologista, apesar da diferença cultural nos tratamentos requisitados, um ponto em comum que explica os homens estarem mais interessados em fazer procedimentos não-cirúrgicos é o impacto geracional. É reflexo dos questionamentos às convenções de gênero.
"Eu acho que houve uma mudança de mindset da geração mais nova", destaca. "Eles sabem o que melhorar no corpo para se sentir melhor e tem uma abertura maior pra isso, independente da orientação sexual". Não tem mais aquele tabu de que 'isso é só de mulher'".
Lígia lembra que há cerca de cinco anos atrás via os homens desconfortáveis na recepção dos consultórios dermatológicos, onde o público era e ainda é majoritariamente feminino. Hoje em dia eles compõem em torno de 30% desse público - um número em crescimento -, e já demonstram estar à vontade nas salas de espera. As mulheres, por sua vez, passaram a agir com maior naturalidade ao ver que os homens também se atraem por tais tratamentos.
Não é só ficar bonito
O público masculino tem suas próprias particularidades se comparado às mulheres, pacientes mais frequentes nos consultórios médicos. De acordo com Lígia, enquanto elas são motivadas pela beleza, eles são impulsionados pelo meio profissional.
"Dependendo da idade, ele vem por conta própria, por esposa ou filhos, e não necessariamente busca estar bonito. Diferente da mulher que quer se ver melhor no espelho, eles querem dar um competitivo para o ambiente de trabalho", explica a dermatologista.
Lígia vê relação direta entre uma pele com aspecto bem tratado e um rosto com o qual o paciente se sente bem, por exemplo, com a autoestima e o empoderamento que essa pessoa vai sentir no meio corporativo. Ela defende que também não há um recorte de status social, uma vez que há opções de parcelamento, preços variados e a possibilidade de fazer os procedimentos aos poucos.
Qual o atrativo dos procedimentos não-cirúrgicos?
"Homem, a gente sabe, sente mais dor", ressalta. Na avaliação da médica, tais procedimentos são especialmente atrativos porque homens costumam fugir de intervenções cirúrgicas e seus pós-operatórios. Isso sem contar o fator praticidade.
"Quando você oferece um procedimento que antigamente você só conseguia resolver com prótese para o queixo, e aí você usa um ácido hialurônico que você consegue mimetizar, criar um efeito como se fosse osso mesmo, mas não duro igual, que vá durar dois anos ou mais a depender do indivíduo e você já vai sair em meia hora com isso pronto, eu acho que é bem tentador", pondera.
Outra vantagem é a possibilidade de reverter o procedimento. Isso não deve ser o padrão quando médico e paciente estão alinhados em relação ao procedimento e o resultado possível, mas é uma possibilidade aberta.