À medida que o tempo avança, a sociedade também se transforma, e isso se dá por diferentes contextos que silenciosamente demandam adaptação e modificam o jeito como cada indivíduo lida com essas novas realidades. Um grande exemplo é a relação das pessoas com a comida que, ao contrário do que o senso comum indica, não se limita à nutrição, tem conexão com fatores sociais.
Quando uma criança recebe um doce como recompensa pela conclusão de uma tarefa, a ação vai muito além da simples ingestão de nutrientes, trata-se de um gatilho para liberação de dopamina, neurotransmissor que, uma vez presente no organismo, gera sensação de bem-estar. Então, afinal, a alimentação influencia as nossas emoções?
“Desde que nascemos, criamos uma conexão emocional com a comida. Ao amamentar quando o bebê chora, por exemplo, a mãe fortalece o vínculo entre o alimento e o afeto materno. A fome emocional é quando nosso comer está ligado diretamente às nossas emoções, normalmente as ruins, como tristeza, angústia, ansiedade, irritação. Para algumas pessoas, a comida é uma válvula de escape. Isso acontece porque, quando comemos, liberamos alguns neurotransmissores, como a serotonina, a dopamina e a noradrenalina. Esses neurotransmissores ativam em nosso cérebro uma sensação de felicidade, bem-estar, calma e disposição”, comenta a especialista em nutrição Paula Carretti.
Ainda segundo a nutricionista, tal conjuntura se dá também por fatores internos, quando cada um procura compensar emoções ruins com alimentos específicos, ricos em açúcar, gordura e sal. Para elas, a compensação ocorre de modo automático, mesmo sem a sensação de fome física. Por isso, alguns costumam comer mais quando estão ansiosos.
Fome: inimiga do bom humor?
Um outro aspecto interessante é a capacidade que a fome tem de influenciar o humor e até mesmo desencadear a irritabilidade. E tudo isso tem a ver com o cérebro.
“Nosso cérebro utiliza glicose como combustível, e é uma grande parte daquilo que consumimos durante o dia. Quando estamos com fome, significa que nossos níveis de glicose no sangue estão baixos e o cérebro entende isso como um perigo. Assim ele libera dois hormônios, o cortisol e a adrenalina, que são hormônios ligados ao estresse. O aumento do cortisol também inibe a produção de serotonina, e sua baixa concentração pode trazer, dentre outras coisas, a irritabilidade. Curiosamente, a irritabilidade acomete mais as mulheres que os homens, mas os motivos ainda não estão claros”, indica Paula Carretti.
A alimentação inadequada pode gerar graves problemas de saúde, além disso, a imposição de um padrão de beleza irreal afeta a própria percepção sobre o corpo. Assim como a compulsão alimentar é um transtorno, seguir regimes sem acompanhamento também coloca a saúde em risco, alerta a nutricionista:
“O maior problema de realizar regimes sem acompanhamento profissional qualificado para emagrecer é que as pessoas associam o emagrecimento à restrição. Retiram os doces, cortam os açúcares, diminuem os carboidratos, pulam refeições, deixam de comer o que gostam e focam em alimentos normalmente ligados à dieta, deixam de participar de encontros com amigos, festas de aniversário, happy hours e ter uma vida social plena. Não é à toa que, depois de alguns dias de uma alimentação restrita, se sentem irritadas.
Quando percebemos todos os malefícios das dietas restritivas, percebemos que isso não é saudável em nenhum dos aspectos mencionados.
Além disso, nosso corpo é preparado para lidar com momentos de escassez, com a liberação de hormônios que aumentam o apetite. O cortisol é um deles. Outro exemplo é o neuropeptídio Y (NPY), que eleva a vontade de ingerir carboidratos. Os níveis de NPY aumentam na mesma proporção em que diminuímos a quantidade de calorias ingeridas”, pondera Carretti.
Entrevistada: Paula Carretti
Instagram: @nutri.paulacarretti
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