A 55ª edição da Casa de Criadores começou nesta quinta-feira (5) com passarela montada sob o Viaduto do Chá, recebendo 6 desfiles dos 40 que acontecerão até o próximo dia 10. Um ode ao saberes dos povos originários da Amazônia, à umbanda, além de protesto contra o assassinato de travestis marcaram o dia. Apesar da chuva torrencial, que causou alguns problemas técnicos no inicio dos defiles, o cenário com o prédios que circundam o Vale do Anhangabaú levou um ar urbano e de rua às apresentações.
O público que passa pelo local também tem acesso visual à passarela, o que leva a uma relexão sobre a democratização da moda. Tanto que, mesmo sob chuva, algumas pessoas paravam para ver os desfiles.
Sioduhi Studio
O primeiro a mostrar suas peças foi o Sioduhi Studio, do designer indígena Sioduhi, que do povo Pitatapuya do Alto Rio Negro, com a coleção "Kahtiridá: Fio da Vida". O estilista levou peças confeccionadas por artesãs de São Gabriel da Cachoeira e Novo Airão, e utilizou biomateriais fornecidos pela Ilha de Cotijuba, de Belém do Pará.
Trabalhos em algodão emborrachado, recortes inesperados, looks em tecidos leves, com estilo urbano, além de outras peças trabalhadas em tear, em cores como laranja, azul e vermelho, permeadas por neutros, como bege, se cruzaram no desfile, até culminar com o look todo vermelho, que representava a "Duhigó", a primeira mulher responsável pela criação do mundo conforme transmissão oral do Alto Rio Negro. A mulher que segura o Kahtiridá - Fio da vida, que batiza a coleção.
Riddim
Com a coleção Ori, a Riddim misturou peças de streat style com trabalhos manuais, como crochê e tricô. Um pouco da moda periférica com elementos da Jamaica fizeram um desfile dançante, em que uma saia balonê, por exemplo, vinha acompanhada de uma blusa toda trabalhada à mão em crochê, ou a bermuda larga com top de crochê.
Leandro Quaresma
O estilista Leandro Quaresma transformou a passarela em terrero de umbanda, ao criar roupas inspiradas em sua religião. Daí babados, cores como vermelho, preto, azul, branco, verde e amarelo-ouro se cruzavam na passarela ao som de atabaques e músicas de matizes das religiões com matizes africanas.
Studio Ellias Kaleb
Tules tingidos, tramas com aspecto de veludo, volumes em babados, sobreposições de tiras ganharam vida e alma num movimento em tons variados no desfile performático e irrevente do Studio Ellias Kaleb, que teve como tema "Entrelaçamento".
Daí tantos fios misturados. Na passarela, a maquiadora trans Maxi Weber, responsável por segurar no final um enfeite com frutas penduradas, que foram distribuídas à plateia.
Mockup
A marca Mockup, do estilista Jair Baptista, apresentou a coleção MKP3000, numa São Paulo meio Blade Runner, futurista e distópica, com belos trabalhos em materiais de descarte, como resina, látex e retalhos, que criam peças que combinaram perfeitamente com o caos de um futuro de caos, mas com fios de esperança. "Cada peça interage com o corpo em movimento, ondulando e se transformando a cada passo, refletindo a beleza dos momentos transitórios e a constante mutabilidade em meio ao caos", explicou no material de divulgação. E foi exatamente isso o que foi visto na passarela.
Guma Joana + Sukeban
A última a se apresentar no primeiro dia foi a Guma Joana, em parceria com Sukeban realizam um desfile-manifesto-intalação, contra a morte de travestis e transexuais brasileiras, ainda em alta no Brasil, país que mais mata homossexuais e transgêneros, mas com foco nas operações deflagradas na época da ditadura militar, chamada "Operação Tarântula". A grife também colocou na roda a moda circular, usando peças que já existiam e seriam abandonadas, dando nova vida às roupas, feitas principalmente de tricôs e crochês.