Moda acessível ao público e fomento da indústria têxtil local. São essas as ideias do Dragão Fashion Brasil, a semana de moda mais importante do nordeste, realizada em Fortaleza, no Ceará. Em sua 15ª edição, que aconteceu entre 23 e 27 de abril, o evento trouxe 41 desfiles de marcas consagradas, novos nomes, workshops e palestras na praça do Centro Cultural Dragão do Mar.
Curiosos, blogueiros, pipoqueiros, modelos, estilistas e jornalistas dividiram o mesmo espaço a céu aberto, em uma área onde ficam lojas de roupas montadas exclusivamente para o evento, tendas com chefs locais, um lounge com stand de maquiagem e três salas onde aconteceram as apresentações: Sala Negra, que recebeu coleções de marcas renomadas; Sala Quartzo, onde desfilaram grifes jovens; Sala Branca, destinada à nova geração de criadores.
O fato de ser aberto ao público incentiva a movimentação, mas também inibe os novatos, que repetidamente são avisados por locais e veteranos do evento sobre a violência na praça, com histórias pessoais ou do “amigo de um amigo”. Felizmente, com a segurança reforçada, a 15ª edição teve um clima tranquilo e conseguiu atingir o público esperado: quem se interessa, estuda, gosta ou vive de moda dentro e fora do Brasil.
Diferentemente do São Paulo Fashion Week (SPFW) e do Fashion Rio, o Dragão Fashion não tem o objetivo de mostrar as tendências para a próxima estação, tanto que as coleções apresentadas podem ser de verão ou inverno, dependendo da escolha da marca. A ideia é trazer visibilidade para os estilistas locais e suas criações autorais e movimentar o mercado da moda com desfiles de grandes grifes que, sem exceção, reapresentaram criações mostradas no início de abril nas semanas de moda paulistana e carioca, como Água de Coco, Ivan Aguilar, Lino Villaventura e Vitorino Campos.
Entre os pontos altos do evento estão o local escolhido, que comporta bem o número de visitantes; a interação cultural e gastronômica; o espaço dado à moda regional e ao processo criativo e acessibilidade ao público. Entre os pontos baixos, atrasos dos desfiles, que chegaram a acontecer até 1h30 depois do programado, e a falta de sazonalidade das coleções.
Primeiro dia de desfiles
O primeiro dia de Dragão Fashion Brasil trouxe Lino Villaventura e Mario Queiroz, grandes nomes de São Paulo, para Fortaleza. Lino, que nasceu na capital cearense, mostrou na passarela a mesma coleção de verão 2015 desfilada semanas antes no SPFW. "Acho que o Dragão é diferente porque ele valoriza esse trabalho de criação, apresenta os estilistas, valoriza a identidade. O modelo também é democrático, chega a mais gente e o momento da moda é esse.” Já Mario Queiroz, que passou pelo SPFW e pela semana de moda de Paris, comemorou 18 anos de sua marca homônima com um desfile com 27 looks masculinos de acervo.
Entre os estilistas locais, João Sobbar desfilou peças com recortes que formavam rica sobreposição de tecido e pele. A marca de beachwear Mar Del Castro manteve a sensualidade característica com uma coleção inspirada na “Geração Coca-Cola” dos anos 1940. O baiano Aládio Marques levou um verão leve com modelagem simples, fluida e cores claras. Teve ainda a presença da Ocksa, grife dos gaúchos Deisy Witz e Igor Bastos, com criações marcadas pela sensualidade através de transparências ousadas e detalhes mais agressivos.
Segundo dia de desfiles
O badalado maquiador Fernando Torquatto desembarcou em Fortaleza para o segundo dia do evento. Ele cuidou da beleza de oito modelos que reapresentaram a coleção Make B. Barroco Tropical, de O Boticário. O estilista local Mark Greiner foi aplaudido de pé ao colocar na passarela modelos com chifres e coroas de espinho para desfilar uma coleção inspirada na região do Cariri e criada em parceria com o designer de acessórios Roberto Dias.
O cearense Lindebergue Fernandes comemorou 20 anos de carreira com uma festa na passarela. Ao som de clássicos da época auge dos bailes de salão, a coleção começou com poás e estampa exclusiva de um casal de idosos dançando e terminou em cores neon modernas. O mineiro Ronaldo Silvestre se inspirou em Atlântida para levar riqueza de peças em azul. De Fortaleza, Bruna do Valle estreou com um desfile-protesto e abusou de rendas, brilho e jeans nas criações. Já a baiana Carol Barreto questionou os valores da sociedade com peças com ricos detalhes, como conchas, inspirada na Diáspora Africana.
Terceiro dia de desfiles
Os grandes nomes do terceiro dia foram a marca cearense Florinda e o capixaba Ivan Aguilar. A primeira apostou em uma passarela de margaridas e, ao som de uma banda folk, mostrou uma coleção com peças em jeans, estampas floridas, coroa de flores e botas de cowboy. Ivan desfilou a coleção de inverno 2015 apresentada em Nova York com cintura marcada, camisas estruturadas, golas elaboradas, mangas bufantes e muito brilho. “Eu estou apaixonado pelo evento, não sabia que era assim. O que mais me agradou é o fato de ser aberto ao público”, disse o estilista.
Com looks de festa, Ivanildo Nunes e Claudio Quinderé investiram em renda, transparência e muito tule. A Lizzi, marca da baiana Lizyane Arize, mostrou a coleção 2015 com mistura entre a história da francesa Maria Antonieta e a cultura do bumba-meu-boi. O catarinense Jonathan Scarpari trouxe toques de guarda-roupa feminino para uma coleção masculina, criando o top cropped para homens, enquanto Rebeca Sampaio uniu saias rodadas, cintura alta e bojos marcados a calças de couro com recortes na cintura. O evento ainda recebeu o estilista italiano Nico Didonna, que já participou da semana de moda de Londres e levou uma coleção com vestidos envelope para o Ceará.
Quarto dia de desfiles
Vitorino Campos e Água de Coco foram as grandes grifes do quarto dia de desfiles. O estilista baiano reapresentou a coleção para o verão 2015 mostrada no SPFW, com transparência, tecidos fluidos e organza tecnológica. A marca de beachwear cearense também mostrou o mesmo desfile da semana de moda paulistana, com estampas que remetem ao fundo do mar e textura de escamas e conchas.
A designer de joias Eliana Alcântara mostrou peças com inspiração nas estrelas e constelações. A grife local Viori desfilou criações para a mulher jovem, com peças em preto e branco orenamentadas com renda e brilho, especialmente em dourado. Gisela Franck, que faz parte da equipe de criação da Água de Coco, estreou com um trabalho solo rico em texturas e minimalismo. Tendo o ouro como inspiração, Kalil Nepomuceno e Jussara Regás apresentaram peças com renda, bordado, transparência e tons terrosos, já a grife Dois reapresentou um inverno com silhueta large que havia sido desfilado na Casa de Criadores, em São Paulo.
Quinto dia de desfiles
A sensualidade dos Alysson Aragão e Suzane Farias foi um dos destaques do último dia da semana de moda do Nordeste. A dupla mostrou uma coleção exclusivamente com looks pretos acompanhados por imagens da Madonna no telão. Na contramão dessa atmosfera, a estreante Maria Philomeno desfilou criações em homenagem à avó com uma explosão de bordados, riqueza de detalhes românticos e muita renda em vestidos artesanais.
A moda masculina foi palco para as apresentações do português Nuna Gama, que mais uma vez esteve no evento, e mostrou um inverno de criações pesadas e elegantes. O cearense de 22 anos David Lee estreou desconstruindo a idéia de homem "durão" e criou estampa inspirada do Super-Homem, além de coloridas peças florais. Alix Pinho, que entrou na passarela após o desfile segurando um bastão de baseball, mostrou uma coleção de street wear com muitas cores, t-shirts e bonés para as meninas. A rede de fast fashion Riachuelo, patrocinadora oficial do evento, encerrou a 15ª edição do Dragão Fashion Brasil com xadrex, bodies e brilho.