Pela terceira vez consecutiva desfilando suas criações na Semana de Moda de Londres, Paula Gerbase tem motivos de sobra para comemorar. Radicada na capital inglesa há dez anos, a estilista brasileira apresentou a coleção primavera-verão 2015 de sua marca, 1205, e recebeu elogios dos mais renomados veículos de moda no mundo.
"O desfile teve a melhor repercussão possível. Nunca tive uma reação assim. É a terceira temporada que participo da Fashion Week e nunca tive tanta gente correndo atrás. Fiquei muito feliz justamente porque tantas editoras mulheres que respeito muito vieram pro desfile desta vez. Isso é muito importante pra mim, porque o trabalho que faço é sutil. A Sarah Mower, da Vogue americana, escreveu uma resenha incrível. Não acreditei quando li. A reação foi muito, muito boa", disse Paula ao Terra durante o pop-up showroom da 1205 realizado na Somerset House neste domingo (14).
Formada na badalada Central Saint Martins em Londres, a gaúcha de 32 anos explicou ainda a essência por trás da grife, a qual criou há quatro anos."Trabalho muito com tecidos, cortes. A roupa que faço não é para se mostrar, é realmente quase para desaparecer. Acho que crio para mulheres que são ativas, inteligentes, que têm um trabalho e precisam correr pra lá e pra cá. É uma mulher discreta, que aprecia qualidade, que não quer aparecer, mas que se interessa por tecidos interessantes, por um corte que seja lisonjeiro”, acrescentou.
Para compor a coleção apresentada nesta edição da semana de moda de Londres, Gerbase se inspirou no trabalho da pintora americana Agnes Martin. "Ela morava no Novo México e fazia umas pinturas incríveis com ângulos quadrados, especialmente grades. Nesta coleção, há o contraste do trabalho dela, que é muito puro, com o meio ambiente que ela morava, que é o deserto. Também quis criar uma silhueta longa e com mais camadas. É a ideia do guarda-roupa de uma pintora que trabalha no deserto. Tudo tem bolso, tudo é calça. Há uns shorts-calça, saias e vestidos também".
Coleção neutra
Segundo Paula, a discrição das cores em suas criações é fundamental para demonstrar sua filosofia sobre a moda. "Nunca uso cores muito brilhantes. Como trabalhei muito tempo com alfaiataria na Savile Row, eles me ensinaram que a coisa mais importante é o tecido, o corte, a proporção, o detalhe, o toque. Poderia fazer roupas iguais às de outros estilistas, com cores brilhantes, vivas, mas acho que a pessoas acabam não querendo tocar, porque já dá pra ler de longe, e isso não me interessa. Acho muito simplístico. Para mim, o importante é criar o interesse e uma curiosidade de depois vir aqui e tocar nas roupas”, disse a estilista, que acredita ainda possuir uma clientela diferenciada com sua marca unissex.
"Meu cliente, na verdade, não é um cliente de moda. Meus clientes são arquitetos, artistas, designers gráficos, escritores. Acho que eles apreciam muito o fato de que não crio roupas para desfilar, mas roupas pro dia-a-dia que eles se sintam confortáveis e que também tenham um ponto de vista”, finalizou.