Paris: "bola de pano" chama atenção para mendigos em desfile

Em frente ao desfile de Jean Paul Gaultier, performance questiona a indiferença a moradores de rua

9 jul 2014 - 13h32
(atualizado às 13h32)

Quem chegava à maison de Jean Paul Gaultier para o desfile de alta-costura do estilista, na tarde desta quarta-feira (9), em Paris, era surpreendido por um outro espetáculo, inesperado e bem menos glamouroso. Na calçada, ao lado da conturbada fila de entrada do desfile, um grande emaranhado de tecidos se contorcia sob a chuva fina, provocando reações que iam do susto à indiferença total dos convidados mais apressados. A mistura de panos, onde se podia identificar algumas plumas, paetês e uma manga em couro, escondia uma artista que dava movimento à escultura Cloc, idealizada pela artista francesa Anaïs Lelièvre.

“Quando vi de longe, achei que fosse um mendigo”, disse a estudante Kim Nader, que parou para saber mais sobre a performance e gravou um vídeo para postar na rede social Instagram. “É engraçado, mas algumas pessoas têm medo. De qualquer forma, é impossível ignorá-la,” disse, enquanto convidados para a apresentação de Jean Paul Gaultier desviavam do monte de tecidos em movimento.

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Anaïs Lelièvre, que criou a ideia há um ano e meio, pensa que a dimensão social é um aspecto importante da obra. “O modo como as pessoas reagem diz muito sobre como vemos o mundo ao nosso redor, sobre nossa relação com seres que não identificamos ou não entendemos, como moradores de rua, por exemplo”, disse a artista, em entrevista ao Terra. “Mesmo sabendo que há uma pessoa ali dentro, se não a vemos, é inquietante”, disse.

A também artista Claire Labastie soube da iniciativa pela internet e veio até o local do desfile especialmente para assisti-la. “Estava curiosa para ver, especialmente pela interação com o público. Estou surpresa com a variedade de reações das pessoas, principalmente quando se trata de indiferença”, contou.

Os “clocs” são feitos a partir de roupas usadas e costurados por fios elásticos, criando uma espécie de casulo que envelopa o corpo dos artistas que participam da performance. “É uma maneira de desconstruir as roupas, de modo formal, mas também simbólico”, disse Anaïs, explicando a relação de sua obra com a moda. Para esta intervenção durante a semana de alta-costura, a artista produziu também um novo “cloc”, todo em sacolas plásticas.

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Desde janeiro de 2013, a performance já foi executada em diferentes espaços públicos pela França, como estações de trem, shopping centers, vagões de metrô ou a avenida Champs-Elysées.

Fonte: Especial para Terra
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