A estilista Gloria Coelho, que comemora 40 anos de sua grife em setembro, tem um novo amor: Neymar. “Eu o amo há dois anos. É a pessoa por quem estou mais apaixonada na vida”, disse. Mas Bruna Marquezine não precisa se preocupar. Gloria Coelho, que nunca tinha ido a uma partida de futebol até a abertura da Copa do Mundo, no dia 12 de junho, no Itaquerão, admira muito a alma e a energia do craque brasileiro. “Neymar é o Einstein, é o Picasso do futebol. É um gênio”, disse. “Escrevi no Instagram há dois anos que meus gênios eram Einstein, Pedro (seu filho Pedro Lourenço) e Neymar. “Eu admiro a alma das pessoas. Se a alma é boa, como a dele, pouco importa a roupa.”
Gloria recebeu o Terra em seu escritório em Pinheiros, no fim do expediente, e falou um pouco de sua história, a peça que ela elege como icônica em sua carreira, sobre os bazares que realiza (até 25 de julho há peças que podem ser compradas no showroom de sua fábrica por 90% de desconto) e sobre essa sua nova paixão: Neymar. Contou como foi sua primeira experiência em um estádio de futebol e disse achar que a Copa tem dois lados: o bom e o ruim.
A estilista é assim, tem suas opiniões formadas, mas sempre está um pouco com a cabeça na Lua, ou em Leão, em Câncer, em Urano ou em qualquer planeta ou signo que regem sua vida. É leonina, signo regido por Sol, assim como era Chanel. Adora novidades, tem três iPads, 10 astrólogos e também faz seu mapa astral, mas tem o pé no chão ao falar de impostos sobre a área da moda e de como sobreviveu aos altos e baixos da economia brasileira nas últimas quatro décadas.
“A palavra que guia minha carreira é amor.” Ao mesmo tempo, ela diz que está sempre em busca de um “iPhone da moda”, ao comparar o aparelho criado por Steve Jobs à necessidade da consumidora ao buscar uma roupa. Em pouco mais de duas horas de conversa, falou de muitas coisas e cravou: “Sou feliz com o que faço.” Confira trechos da conversa regada a muita água mineral.
Neymar
“A pessoa que eu mais amo há dois anos é o Neymar. É por quem estou mais apaixonada na vida. Amo a energia dele. Fiquei sabendo que ele tem muitas casas de seu mapa astral em Urano. É por isso que tem muita agilidade. Há dois anos, escrevi que meus gênios eram Einstein, Pedro, meu filho, e Neymar. Ele é um gênio. É o Einstein, o Picasso do futebol. Não ligo para o estilo dele. Tem gente que é tão maravilhosa de alma que não estou nem aí com o a roupa que usa. Ele é energia pura.”
Copa do Mundo
Estou torcendo para o Brasil ganhar a Copa. Fui pela primeira vez a um estádio na abertura da Copa. Amei, pretendo ir mais. Se receber outro convite, eu vou. Amei a energia dos torcedores fazendo a ‘hola’, levantando os braços. É o mesmo movimentos dos átomos. Estavam todos conectados, na mesma energia. Fui de verde-e-amarelo. Nos desfiles, uso cor escura como preto, porque é como um uniforme de guerra, de operário. Mas no jogo usei as cores do Brasil. Já a abertura do evento, achei triste, não estava conectada ao novo mundo. Levou muito tempo para tirar as coisas de lá depois da apresentação. Foi triste.”
Vaias
“Senti que as vaias não eram apenas para a presidente Dilma, mas foi um grito de insatisfação ao governo como um todo. Foi como se um vírus tivesse sido solto lá e disseminou.”
Copa e economia
“A política econômica do governo não ajuda os empresários, há muitos impostos. Além disso, não concordo com feriado em dia de jogo. Esse dia não trabalhado vai fazer falta depois. Nas outras Copas, parávamos na hora do jogo e depois voltávamos a trabalhar. Todo mundo assistia junto. Por outro lado, a Copa está sendo boa para receber turistas. Isso é positivo, mas não se deve esquecer dos empresários.”
“Quando crio, sempre busco um ‘iPhone da moda”, uma peça que a mulher estava buscando e não sabia, que foi o que aconteceu com a criação de Steve Jobs. Hoje ninguém mais vive sem”, diz Glória Coelho
“Olha, em 2011 lancei um livro e fiz uma exposição. Vendo todo o material, percebi como trabalhei. A palavra para resumir minha vida profissional é amor. Sobrevivi neste tempo todo por isso. Tem empresas que não sobrevivem porque não têm paciência. E também porque é difícil bancar uma estrutura de contabilidade apenas para entender as regras econômicas que mudam sempre, ficar atento a funcionários que podem roubar. Existe um problema na sociedade brasileira: 30% são honestos, 30% são ladrões, e 40% estão entre esses dois tipos. Um empresário tem de estar atento a isso. Mas aqui na empresa, todos os funcionários trabalham com amor, colocam amor em cada detalhe. A roupa chega à consumidora com essa energia.”
Felicidade
“Sou muito feliz fazendo o que faço. E, claro, vendo o mar, a natureza, a areia da praia, sentindo o sol na pele, mas percebi que quando faço um desfile, um círculo se fecha e isso me traz felicidade. Quando a Clô Orozco morreu (amiga de Gloria, a estilista faleceu em março de 2012 ao cair da janela do prédio onde morava, em São Paulo), fiquei muito triste, muito mesmo, deprimida, tomei remédios homeopáticos e coincidentemente tinha uma apresentação na sexta-feira seguinte. Na quinta, ao terminar de organizar as roupas, percebi que estava feliz. Isso mostra que o trabalho me fez sair do estado de tristeza em que me encontrava.”
Criatividade
“Não fico insegura quando crio. Sei o que estou fazendo. O que sempre penso é em encontrar um ‘iPhone da moda”, uma peça que a mulher estava buscando e não sabia, que foi o que aconteceu com a criação de Steve Jobs. Hoje ninguém mais vive sem. E a criatividade tem de fluir. O Pedro gosta de me mostrar o que está fazendo. Eu vejo e não falo nada. Nem adianta dar palpite, mas também não gosto de dar minha opinião. Tenho uma frase sobre isso: o julgamento acaba com a criatividade. O Reinaldo (Reinaldo Lourenço, ex-marido da estilista e pai de Pedro) acha que a gente tem de fazer igual a ele, mas não é assim. Cada um se expressa de seu jeito.”
Peça-ícone
“Não sei se posso falar em peça-ícone, mas elejo a calça feita com o tecido Tecno K, desenvolvido por mim e que lancei no ano 2000. Ela está em linha até hoje. É responsável por 40% das minhas vendas e as clientes amam. O preço do modelo gira em torno de R$ 1 mil, mas o tecido é especial, tem memória, não deforma, pode ser usado no frio, no calor, não amassa. Uso em cada calça 1,60 m de tecido duas vezes e ainda tem um tratamento especial nesta tela. Tudo começou quando comecei a fazer calças com tecido de cintas. Eu tinha uma máquina especial para costurar esse tecido na modelagem das calças. A máquina era velha, quebrou e não teve conserto. Aí tive de criar um tecido que se adaptasse a outra máquina. Criei o Tecno K, que também modela o corpo das mulheres. Faço a calça em várias modelagens, como legging, skinny, flare, tipo masculina e em várias cores. Coloco detalhes diferentes em cada coleção, mas o modelo clássico tem sempre, assim como uma gama enorme de cores. Este é o segredo das vendas. É como a camiseta polo da Lacoste, a modelagem clássica existe desde 1925, e a empresa produz em várias cores. Com o uso, claro que uma peça assim ou como a minha calça se estraga, mas as clientes voltam e compram outras.
Mulheres
“Me inspiro muito nas minhas amigas para criar. Digo que existem as mulheres lindas e as mulheres lindas e especiais. As lindas são as mulheres de 15, 20 anos que tem um corpo perfeito e mesmo as mais velhas que mantém este corpo. As especiais são maravilhosas, adoram comer, beber vinho, pensar, sentir os prazeres da vida. Para estas, tenho modelagens diferenciadas também. Para uma das minhas amigas, em 1984, fiz uma calça bem mais comprida do que as da grade, porque ela é muito alta. A partir daí, comecei a fazer sempre. Isso ocorreu em outras peças também pensadas primeiro para minhas amigas.”
Musas
Tenho várias musas, além de minhas amigas. Gosto muito da realeza e penso muito em rainha Elizabeth 1ª, da Inglaterra, quando crio, e em mais atuais, como as princesas Stephanie e Caroline de Mônaco. A filha dela, Charlotte Casiraghi, é linda. Hoje a monarquia é bem street. No Brasil, adorava vestir a atriz Laura Neiva, mas a Chanel roubo ela de mim (Laura é uma da embaixadoras da Chanel no mundo). Gosto muito de vestir também Isabella Fiorentino, que parece uma princesa, e Cléo Pires. Gosto do estilo de Mariana Ximenes, que hoje veste muita roupa de Pedro Lourenço. E também já vesti Paolla de Orleans e Bragança.
Concorrência com fast fashion
“Não acho que exista concorrência com fast fashion. Há espaço para todos. Passo no shopping, vejo as vitrines, e quando chego à minha loja, vejo que minha roupa tem personalidade. Agora, se e empresa tiver um marketing incrível, pode não criar nada, mas vai vender. Já vi vestidos de festa de outras marcas que eram iguais aos meus.”