Consequência da exibição da quarta temporada de “Succession” ou apenas o ciclo natural da moda, fato é que o "quiet luxury" voltou a ser assunto. Até o Google registrou crescimento nas pesquisas sobre o termo e, quem pesquisar no Tiktok, vai encontrar conteúdos recentes sobre o assunto.
O termo, que em tradução livre significa "luxo silencioso", pode ser explicado como a forma de "luxar sem mostrar para o mundo inteiro que você está luxando". Quem resume é Maria Landeiro, jornalista e criadora de conteúdo na página Crônicas da Moda, em entrevista ao Terra.
"É você não usar logo nenhum e prezar pela qualidade da roupa, nem tanto pelo design, inclusive. O importante é focar na procedência da peça, em como ela foi feita, quais materiais foram usados, quem fez aquela peça, de que forma...", complementa, esclarecendo também por que não se deve confundir esse "estilo de vida e comportamento" com a estética old money que está diretamente associada a marcas (e a exposição de suas logomarcas) de alto padrão.
A definição usada por Maria é semelhante à do também jornalista Rener Oliveira, editor-chefe da Nordestesse. Para ele, o tal "luxo silencioso" vai muito além das roupas. "[Se estende] Principalmente nesse universo dos negócios onde a discrição é a palavra de ordem. Dificilmente veremos consumidores de alto luxo compartilhando suas compras no Instagram. Não faz parte do discurso e nem é uma necessidade", ressalta.
Movimentos da moda
Toda a simplicidade e sobriedade vista no que se entende por quiet luxury vai na contramão das tendências que despontaram pouco tempo atrás. Com as reaberturas e flexibilizações em meio à pandemia, há dois anos, vigorava o exagero.
Os destaques eram color blocking, por exemplo. Depois, vieram estéticas como o barbiecore até que, nas últimas semanas de moda, veio a nova ordem.
"Foi muito blazer com ombreira, cores sóbrias, preto, cinza, marrom, off white, poucos pontos de cor, as marcas retornando às origens clássicas e o quiet luxury está inserido nisso aí porque é uma moda minimalista, mais clean, sem tantos detalhes, tem uma pegada mais clássica, então, conversa com essas tendências que estão surgindo", aponta Maria.
Não é para quem quer, é para quem pode
O sucesso de "Succession", série da HBO cujos personagens super-ricos incorporam esse estilo, pode gerar curiosidade e interesse no quiet luxury. Mas, em muitos casos, para por aí.
Isso porque, diferente de outras produções que inspiram looks, fica mais difícil copiar um modo de se vestir que depende, especificamente, do poder aquisitivo. Para a jornalista, é justamente isso que impede o quiet luxury de ser tratado como uma estética: a incapacidade de reprodução.
De acordo com ela, esse estilo se relaciona até com a falta de interesse em escolher o que usar, o que explica por que se privilegia o básico. Por outro lado, está relacionado a uma proximidade com a manufatura das peças - o acesso a quem idealizou e/ ou confeccionou, por exemplo.
Aí entra em cena também o elitismo que transborda desse comportamento. Para Oliveira, esse é um problema. "Vivemos em uma sociedade desigual e as pautas deveriam ser de como principalmente as pessoas poderiam ter acesso a condições básicas de sobrevivência. E a vestimenta também passa a ser um item de exclusão, quando sabemos que existem marcas que, mesmo que você tenha dinheiro, precisa ter acesso e o privilégio necessário para carregar uma bolsa", critica.
Em meio a isso, parece ter surgido um caminho para quem quer se aproximar, ao menos no visual, do luxo silencioso. Trata-se do borecore (ou estética chata), que, como explica Maria, visa emular o jeito básico e minimalista de se vestir, não necessariamente dentro dos padrões de alto luxo.