A cerimônia de abertura da Olimpíada de Paris 2024 acontece nesta sexta-feira (26), com expectativa de 1,5 bilhão de telespectadores (televisão e online) e de 600 mil pessoas no evento presencial, sem contar os comentários espalhados nas redes sociais. E, nesse contexto, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Paulo Wanderley, fez uma comparação, no mínimo, infeliz, para defender o quase indefensável uniforme do Brasil para o desfile inaugural do Jogos Olímpicos.
Se por um lado, a intenção de criar roupas de forma circular, com a reutilização de jeans reciclado, reaproveitando tecidos da fábrica da rede varejista Riachuelo, de Natal (RN), além dos bordados feitos à mão pelas costureiras de Timbaúba dos Batistas, sertão do Rio Grande do Norte, é interessante; por outro, o resultado realmente não destaca o Brasil entre as seleções de outros países, na primeira cerimônia de abertura de Olimpíada que acontece sobre um rio, no caso o Sena.
Os desfiles da Paris Fashion Week, claro, têm importância, mas não para o mundo todo, porque não representam países e não levam o espírito olímpico aos corações das pessoas. Estar bem representando, mostrando elementos da cultura de cada país, seja pelas cores, seja pelos trabalhos manuais, seja por danças típicas, são mais do que necessários no evento que acontece de quatro em quatro anos (com exceção dos jogos do Japão 2020/2021, adiado por um ano por da pandemia de Covid-19).
E é examente isso que não vai acontecer nesta sexta-feira com o Brasil. Apesar de os bordados representarem a biodiversidade brasileira (arara, tucano e onça), não brilharão em meio a outros uniformes feitos por estilistas de peso de outros países. A comparação com a semana de moda de Paris leva a mais uma reflexão. Ok, não é um desfile de moda, mas não se pode esquecer que a roupa, ainda mais num evento em que a imagem é tudo, representa a identidade de cada país.
Mas num desfile de moda há um elemento que não pode passar despercebido, que é o chamado styling de cada look, ou seja, como o look total será mostrado na passarela. E isso não foi levado em conta ao se criar uma produção com camiseta listrada amarela ou verde, jaqueta jeans, saia mídi ou calça comprida branca. Tudo combinado com os famosos chinelos Havaianas, que são uma representação do estilo despojado do Brasil, mas que no "conjunto da obra" do look não ficou bonito nem elegante, com a tal saia mídi. Se fosse usado como Rebeca Andrade usou na foto de divulgação (acima), talvez fosse melhor.
O resultado com a saia mais comprida, como muito se falou nas redes sociais e até em comentaríos de famosos, como Anitta, não está a altura do nosso país, principalmente depois que as cores brasileiras foram usadas por políticos em manifestações de direita e ultraconservadoras. O look brasileiro é um retrato desse pensamento conservador. "Acho que o look representa exatamente como o atleta é tratado no país. Sem estrutura, sem oportunidades, desvalorizado. O atleta no Brasil é um grande vencedor só por resistir na decisão de ser atleta. Acho que o olhar veio pra reafirmar exatamente isso, como que o atleta precisa ser guerreiro e passar por poucos e boas pra seguir seu sonho", criticou Anitta, com razão.
Em 2016, Lenny Niemeyer criou para as Olimpíadas do Rio, peças em alfaiataria com flores que reprentavam nossa flora e traziam as cores brasileiras, peças que foram vendidas pela C&A. No Japão, em 2021, já com a Riachuelo e as Havaianas, os looks usados, mais leves e com estampas que também faziam referência às cores da Bandeira, trouxeram resultado mais despojado e com mais cara de Brasil.
Perdemos a oportunidade de nos recolocar no centro das atenções mundiais mais uma vez, com a imagem de nossos atletas mostrando que ainda somos o país do futuro e que o futuro já chegou, depois de passar alguns anos experimentando ideias antiquadas e negacionistas. Uma pena.