Aos 23 anos, a top brasileira Lais Ribeiro já realizou diversos sonhos comuns na carreira de uma modelo: foi capa da Vogue, desfilou para grifes como Jean Paul Gaultier, DKNY, Balmain e Tom Ford e é forte candidata a se tornar a mais nova angel da Victoria's Secret. "Estou com pressa já", brincou Lais sobre a possibilidade.
Neste sábado (18), que antecedeu o início do SPFW o Terra acompanhou a top em sua prova de roupa para o desfile da Ellus. Durante a entrevista exclusiva, Lais falou sobre as aspirações enquanto modelo, o início da carreira, a distância do filho e segredos de beleza. Confira na íntegra:
Terra: De quantos desfiles você vai participar nesta edição do SPFW?
Lais Ribeiro: Ainda não tenho o número exato, mas por enquanto serão seis.
T: Como estão os preparativos, quantas provas você já fez?
LR: Cheguei em São Paulo na sexta (15) de manhã. No primeiro dia fiz Animale e Forum. Hoje (sábado) já fiz Adriana Degreas e agora estamos indo para Ellus. Está tranquilo, por enquanto.
T: Qual foi o trabalho mais legal que já fez até agora?
LR: É muito difícil escolher, teve vários. A gente tem aquele sonho de fazer capa de Vogue e desfilar pela Victoria’s Secret ao mesmo tempo, então fica complicado escolher um. Estou sempre viajando e conhecendo lugares maravilhosos, é muito bom. Mas um dos meus preferidos foi em Praga, meu primeiro comercial com o Michael Bay. Eu tive que subir em um telhado com uma asa enorme, de 2 metros, pesadíssima, e tinha uma corda que me segurava pela cintura. Acho que foi bem emocionante. Fiquei realmente emocionada depois que filmamos.
T: Teve algum que você não gostou de fazer por algum motivo?
LR: Não, acho que tudo é uma experiência a mais. Já usei muito cabelo diferente, maquiagem diferente, mas não teve nada que eu me arrependi de fazer.
T: Qual foi o look mais chocante que você já usou?
LR: Foi o que eu usei no desfile de alta-costura do Jean Paul Gaultier na última semana de moda de Paris. Eu teria apenas o primeiro look para abrir o desfile e ele do nada começou a inventar esse vestido que era como se fosse uma cortina na frente e embaixo só tinha um body minúsculo. Então, quando eu andava parecia que estava nua e quando eu entrei todo mundo começou a gritar e aplaudir, fiquei muito emocionada. Essa foi uma das roupas mais chocantes.
T: Você foi descoberta mais tarde do que grande parte das tops e cresceu na carreira rapidamente. Você já sonhava em ser modelo?
LR: Não, eu sempre fui muito tímida. Por minha cidade ser pequena e todo mundo dizer ‘ela é magra demais, alta demais', você acaba se retraindo, ficando com vergonha de certas coisas. Eu estava prestando o vestibular para ser enfermeira. Nunca pensei em ser modelo, por ser muito tímida. Achava que isso não daria certo para mim.
T: E como a menina tímida do interior do Piauí chegou às passarelas?
LR: Eu fui para a capital (Teresina) estudar e aí conheci uma amiga, que era modelo comercial lá no Piauí. Daí ela falava para mim ‘ah, por que você não faz o casting na agência? Você tem o perfil!’ e blá, blá, blá. Eu dizia que não ia dar certo, mas ela ficava insistindo, até que eu falei ‘ah, por que não?’. Isso foi bem na época do Piauí Fashion Week e a Eveline (Duarte), a scouter do nordeste, e a Liliana (Gomes), diretora da Joy Model, estavam com uma equipe fazendo um concurso em todo o País. Quando elas foram fazer a seleção regional, eu fui selecionada. Daí fui para Fortaleza e depois para São Paulo. Fiquei entre as 19 finalistas e com isso fiquei na agência já.
T: Como você lidou com tantas mudanças tão rapidamente? O que mais estranhou?
LR: No início eu senti muito a ausência da minha família, mas depois você acaba se acostumando um pouco. É que nem criança, a cada dia você aprende uma coisa diferente. Mas a coisa que eu mais estranhei foi a distância. Até hoje, especialmente por eu ter um filho, o que sinto mais é a falta da minha família. Essa foi a mudança mais drástica para mim.
T: Você já participou de desfiles da Victoria’s Secret e há a possibilidade de assinar um contrato em breve. Ser uma angel é um sonho?
LR: Claro! Toda modelo sonha em pisar na passarela da Victoria’s Secret, ainda mais em ser uma angel. É sem dúvida um dos meus sonhos e espero que se realize logo. Estou com pressa já! (risos)
T: Há pouco tempo a Ana Beatriz Barros declarou em uma entrevista que o clima nos bastidores de grandes desfiles como o da Victoria’s Secret normalmente é pesado. Você também sente isso? Rola inveja realmente se alguém tem certo destaque?
LR: Acho que não é só lá, mas acaba sendo um pouco mais justamente por essa questão de que toda menina sonha em estar nesse desfile. Mas acho tudo isso desnecessário, o que tiver que ser seu vai ser. E você tem que lutar pelo que quer, mas sem tentar tomar nada de ninguém. Mas isso tem em todo lugar.
T: Há alguma marca para qual você ainda sonha em fotografar ou desfilar?
LR: Acho que a gente sempre espera mais e mais. Toda a modelo sonha em ser capa da Vogue Paris, Vogue América, posar para aqueles grandes fotógrafos. Acho que este sim é meu sonho: conseguir balancear editorial e fashion.
T: Logo no começo sua carreira já emplacou. Qual você acha que é seu diferencial?
LR: Não sei. Não vou falar ‘ah, eu sou maravilhosa’. Eu estava na medida certa, mas não sei o que passou na cabeça deles. Eu tive muita sorte, estava no lugar certo, na hora certa, na medida certa. Acho que foi isso que contou. Não foi daquelas ‘eu sou linda!’ e bate cabelo. (risos)
T: Para você qual é a principal diferença entre desfilar e fotografar no Brasil e trabalhar lá fora?
LR: Sempre é uma correria, tanto cá quanto lá, mas no Brasil a gente se sente mais em casa. Eu comecei aqui, então as pessoas me acolhem muito bem. Eu estou no meu país, tenho muitos amigos aqui, estilistas, diretores de casting. Então, aqui me sinto realmente em família. Lá fora tem mais competição, é mais correria. E comida também faz diferença, claro. Quando estamos em semana de moda é difícil comer direito, mas no Brasil sempre dá aquela fugidinha para comer o que você quer, a sua comida brasileira. O bom e velho arroz e feijão.
T: Você vai participar da próxima edição do Fashion Rio também? Já sabe de alguma marca?
LR: Sim. Ainda não sei de nenhuma marca, mas sempre vou bem lá. Acho que com certeza Lenny, porque no desfile da Elle Summer Preview eu abri o desfile e fiz a campanha passada. Ela é uma das minhas designers preferidas no Rio de Janeiro, então espero estar caminhando para ela na passarela.
T: Na última edição do SPFW você não desfilou devido a uma torção no pé. Você já se recuperou totalmente?
LR: Eu fiz fisioterapia, mas parei por causa da correria. Quando eu torci o médico disse que eu deveria ficar seis semanas parada, mas era impossível, tinha acabado de começar a temporada de desfiles, não tinha como eu fazer isso. Fiz o esforço de trabalhar com o pé machucado. Estou bem, mas ainda não está 100%. Lá fora eu fui fazer um casting e vi as meninas com um salto gigantesco, tentando andar. Quando olhei, fiquei com medo e não pude fazer. Avisei o produtor que tinha medo de machucar meu pé ainda mais. Então, as coisas que acho que não tenho condições eu não faço. Minha saúde é prioridade.
T: Desde as semanas de moda europeias você não teve muito tempo para descanso. Você faz alguma preparação especial para aguentar essa maratona de desfiles?
LR: Olha, eu durmo bastante quando eu posso. Mas malhar, por exemplo, durante semanas de moda é impossível. É muita correria, você come mal, acaba perdendo peso. Fica aquela loucura de fuso horário, você não dorme direito. Mas sempre que eu posso estou descansando. Às vezes no carro, quando temos motorista, eu durmo um pouquinho. Eu tento sempre fazer isto: me alimentar e dormir bastante. Essa é minha dieta! (risos)
T: Você tem algum truque de beleza, algum produto ou ritual que não vive sem?
LR: Eu sou bem desligada com essas coisas, mas eu não ando sem demaquilante, é o principal. Eu evito usar maquiagem quando não estou trabalhando. Também faço hidratação no rosto, nos lábios. Só isso mesmo.
T: Como estão suas medidas agora?
LR: Estão ótimas. Eu emagreci nas semanas de moda porque não estava comendo direito em Paris, mas já recuperei porque fui para casa e minha vó estava cozinhado para mim, então agora está tudo bem.
T: Você precisa fazer muito esforço para manter o peso?
LR: Não. Minha família toda é alta e magra. Minha mãe teve três filhos e nunca engordou muito. Então, acho que devo isso à genética mesmo. Eu como de tudo, não me privo de nada e não é difícil perder peso.
T: Muitas modelos já contaram que tiveram problemas durante a infância por serem altas e magras. Você também sofreu com isso?
LR: Acho que todas nós, muitas são até retraídas por causa disso. Eu falo para minha mãe ‘a senhora me colocou medo em algumas coisas que eu queria fazer, mas não consigo por vergonha’. Até hoje quando vou para minha cidade ela fala assim: ‘você vai sair com esse short, mostrando as pernas?’. Na minha cidade, por ser muito pequena, as pessoas ainda comentam, por mais que elas saibam que sou modelo, e antes falavam ainda mais. Antigamente, meu Deus, já chorei muito. Já não achei meu número de jeito nenhum, principalmente calça porque quando fica boa na cintura fica curta na canela e quando na altura dá certo fica folgada na cintura. Acho que todas já sofreram com isso. Na escola tive um monte de apelidos, eu chorava. E eu era muito brava então chorava e brigava com todo mundo, não estava nem aí.
T: Como é seu estilo quando não está trabalhando?
LR: Depende muito da ocasião. Pode ser descolada, porque gosto muito de roupas confortáveis para me sentir à vontade. Mas também posso ir super chiquérrima para uma festa.
T: Quais são seus maiores ídolos no mundo da moda? Há alguma modelo que seja sua inspiração?
LR: Como modelo, sempre, desde que comecei, Adriana Lima. E depois que a gente começou a ter contato, isso aumentou ainda mais. Ela é super profissional e amiga, ajuda as meninas que estão começando, que ela sabe que são brasileiras, dá uma força. A gente chega lá sem saber falar inglês, sem saber muita coisa, e ela dá a experiência de vida dela para que a gente fique atenta. Ela ajuda todas as meninas que eu conheço. Ela é demais! Não tenho nem palavras para descrever aquela mulher maravilhosa. É uma querida.
T: Hoje, se você não fosse modelo, seguiria no ramo da enfermagem?
LR: Eu seguiria a carreira na enfermagem, sim. Nas matérias que eram importantes para isso eu ia bem e também gostava muito de cuidar das pessoas. E tem histórico também na minha família de enfermeiros, então me identifico muito.
T: Você já trouxe seu namorado (o modelo espanhol Adrian Cardoso) para conhecer sua família?
LR: Sim, nós fizemos uma viagem. Ele conheceu minha família inteira, deu tudo certo. Foi tudo lindo. Ele está aprovado (risos)
T: O que você já mostrou para ele do Brasil? Ele já fala português?
LR: Ele já veio fazer Fashio Rio e adorou lá. Ele disse que moraria lá, fazendo o que não sei. (riso) Fomos para a Paraíba também. As praias de lá são lindas e ele ficou encantado. E ele também já veio para São Paulo, mas achou que aqui é mais uma cidade de negócios, não chamou tanto a atenção dele. Com o Rio ele ficou apaixonado mesmo. Conheceu tudo lá, foi em um baile funk até, que eu levei (risos), e adorou! A gente ainda fala mais portunhol. Ele ainda se enrola, mas já fala português bem.
T: Ele fica com ciúmes quando você faz um ensaio mais sensual ou desfila com pouca roupa?
LR: Assim como eu tenho ciúmes dele, ele tem de mim também. Sempre rola isso, mas trabalho é trabalho. Ele ser do mesmo ramo que eu ajuda. Outras pessoas não entenderiam que a gente precisa estar cada hora em um lugar, tirar foto com um monte de gente no meio da rua de lingerie, às vezes aparecer sem a parte de cima. Ele é mais compreensivo com essas coisas.
T: Há algum tipo de roupa que você não usaria ou algum ensaio que não faria?
LR: Por enquanto não. Posar pelada eu não tenho em mente. Um nu artístico com um mega fotógrafo até tudo bem, mas aquele ensaio apelação, não.
T: Qual foi o momento mais difícil de sua carreira até agora?
LR: Acho que sempre é ficar distante do meu filho. Na carreira você supera várias coisas, mas a distância dele eu nunca superei.
T: Qual é a frequência que você consegue ficar com ele?
LR: Hoje em dia eu fico de dois meses e meio a três sem voltar para casa. Ainda é muito pouco tempo para ficar com ele.
T: Ele já viajou com você para algum trabalho?
LR: Ele foi comigo para Brasília, para o evento da Monange. Foi superdivertido! Nós tínhamos um ônibus que era como se fosse uma balada, tinha jogo de luz, música. Então, ele entrou junto comigo e estavam todas as meninas lá dançando. Tudo que a Vivi Orth fazia ele imitava. Ele foi a graça do Monange. Todas ficaram loucas!
T: Como você se vê daqui a 20 anos?
LR: Ainda é cedo para planejar isso. Eu sou muito sortuda e sempre agradeço muito a Deus por ter trabalhado muito desde que comecei. Não sei se isso pode acabar daqui a dois anos ou se estarei fazendo mais coisas ainda. Então, ainda não parei para fazer planos. A única certeza é que estarei do lado do meu filho e da minha família.
T: Recentemente você fez a campanha de perfume de Tom Ford. Como foi a experiência de fazer sua primeira campanha de fragrância?
LR: Eu admiro muito o Tom Ford por sua inteligência. Ele é brilhante em suas coleções. E quando ele me convidou, meu Deus! Ele mesmo que fotografou, viu a luz, então foi tudo daquele jeito detalhista que ele tem. Achei maravilhoso. Nós fotografamos há quase um ano, na verdade, e saiu agora, porque a última campanha quem fez foi a Lara Stone, e eles tinham que esperar acabar o contrato. E eu fiquei naquela expectativa, 'ai, meu Deus, não sai, não sai. Desistiram. Eles me acharam horrível na foto e não vão postar' (risos). Mas quando saiu eu fiquei muito feliz, muito emocionada.
T: Recentemente você também estampou a capa da L'Officiel Paris. Como foi fazer esse ensaio?
LR: Foi ótimo. Posei para o fotógrafo Michael Robert. Já tinha trabalhado com ele algumas vezes, é um querido. Nós fomos para a Bahia e passamos dois dias lá, e Bahia é aquela coisa, né? Lá todo mundo te acolhe muito bem, a comida é maravilhosa. Foram dois dias bem interessantes, uma super correria, fizemos 27 fotos e foi uma loucura, mas foi incrível.
T: Tem algum fotógrafo para quem você ainda gostaria de posar?
LR: Eu já trabalhei com muita gente, dos grandes aos menos conhecidos, então acho que quero poder trabalhar com eles sempre. Mas ainda não trabalhei com o Mario Testino e seria uma boa, né? (risos). Fica aí uma sugestão.