No SPFW, Fause Haten terá desfile na rua; endereço ainda é secreto

Local da apresentação só será conhecido horas antes da realização

24 out 2013 - 18h35
(atualizado em 25/10/2013 às 11h29)

Depois de emocionar o público na última edição do SPFW com um desfile de marionetes, Fause Haten organiza uma apresentação aberta ao público para lançar seu inverno 2014. No próximo dia 30, ele exibe sua nova coleção no meio da rua, em endereço secreto, não revelado nem mesmo à sua equipe. No dia do desfile, que acontece às 10h30, os convidados saberão com cerca de uma hora de antecedência onde Fause irá lançar a coleção. O estilista sabe que é arriscado, mas diz que isso faz parte do projeto. "Talvez uma pessoa não consiga ver o desfile, talvez uma pessoa que nunca imaginou que fosse ver um desfile irá ver um passando do seu lado ou talvez alguém não se interesse em ver um desfile do Fause. De qualquer maneira, vou proporcionar algum tipo de sensação nova e esse tipo de exercício me interessa", disse em entrevista ao Terra.

A ideia surgiu durante o planejamento do desfile anterior e rendeu um projeto que culminou em uma exposição, em cartaz a partir de hoje (24) até o dia 29, no Museu de Arte Brasileira, na Faap. No museu, foi montada uma fábrica, batizada de "A Fantástica Fábrica do Dr. F", que mostra como uma coleção é feita e como são os preparativos antes de um desfile. Costureiras e modelistas trabalhavam nas peças, enquanto o estilista fazia o casting e escolhia as modelos que vão desfilar no dia 30. "Achei muito boa a ideia, parece mesmo um ateliê", disse Carol Melchior, 17, da agência KeeMod, uma das modelos a participar da seleção.

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"Achei interessante, diferente, deu a sensação de um desfile mesmo.Muito legal", afirmou Karen Marinovich, 18, da mesma agência. As modelos precisaram passar por uma porta para entrar na instalação e conversar com o estilista. Apesar de não ter paredes, Fause e a equipe se comportam como se fosse um ambiente fechado, tanto que ele só se comunica com os assistentes que estão fora por meio de celular.

O mesmo acontece com as costureiras, que seguem produzindo roupas na presença do público. "No começo , fiquei nervosa, pensei que não fosse me dar bem. Fiquei pensando na reação das pessoas me olhando. Quando a primeira parou do meu lado, tive uma crise de riso, pelo nervosismo. Agora tá tudo sossegado. É novo, é diferente, sai do nosso meio, estamos acostumadas a ficar só a gente, trabalhando", disse Claudia Maria dos Santos, costureira da marca há três anos.

A equipe trabalha normalmente e cumpre os horários de sempre, das 8h às 12h. Em seguida, toca uma sirene, que é a pausa para o almoço. Retornam e trabalham das 13h às 17h. Só podem entrar e sair pelas portas. No espaço, há peças da nova coleção, que destacam a combinação de materiais e tecidos, como em tramas artesanais, e vídeos que mostram performances de confecção de roupas na rua 25 de março, em São Paulo, no meio da rua, e outra na qual Fause cria uma peça de olhos vendados. As peças finais também estão expostas. Até o dia 29, Fause ainda mostrará ao público a prova de maquiagem para o desfile e até mesmo a prova dos looks.

De estilista a performer

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O nome de Fause Haten despontou na moda com a organização das semanas de moda no País. Integrante do Phytoervas Fashion e do MorumbiFashion, que depois seria batizado de São Paulo Fashion Week, o estilista foi rapidamente alçado à categoria de um dos mais importantes criadores de moda do Brasil. Em 1999, foi convidado a desfilar em Los Angeles, o que resultou numa participação na semana de moda de Nova York, onde lançou coleções até 2001.

Em 2008, foi um dos estilistas a vender sua empresa e seu nome (apenas para a linha feminina) para o chamado grupo I'm, que adquiriu também as marcas Zoomp e Alexandre Herchcovitch. A empreitada não deu certo e Fause não foi pago pela venda. Em seis meses, sua marca estava descaracterizada, sem coleção, equipe e fornecedores. Mas o estilista não se intimidou. Criou uma coleção às pressas e desfilou na edição de verão 2009 do SPFW com o nome FH, marca mantida até hoje.

De lá pra cá, o estilista virou ator, após fazer um curso de formação na Escola Célia Helena. Daí surgiu a carreira de cantor, também revelada durante desfile da coleção inverno 2013, quando ele cantou, como parte da trilha da apresentação. A cancha rendeu shows e mais um título no currículo.

Veja entrevista com Fause Haten:

Terra - Quem é o Dr. F?

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Fause Haten - Não tenho a menor ideia! (risos) É um personagem que surgiu na minha cabeça e acabei assumindo o nome. É um alter ego de um estilista que tem vontade de fazer sonhos e que pode fazer tudo. Construiu essa fábrica e ela pode se transferir para qualquer lugar e fazer belezas.

Terra - Você pensa em fazer outros projetos com o Dr. F?

Fause Haten - Não sei. Ele nasceu de maneira singular. No último desfile, pensei em fazer um boneco do Fause para o final. Não sei nem dizer de onde surgiu a ideia do Dr. F. Então quando surgiu a ideia desse projeto, decidi que iria fazer a fábrica dele.

Terra - Como surgiu a ideia de fazer um desfile na rua?

Fause Haten - Normalmente quando eu estou fazendo um desfile já sei como vai ser o outro. Agora já sei o outro. Já vem a ideia nova. E já sabia que queria fazer o desfile no meio da rua. Isso já era certo para mim. Cheguei à conclusão de que, além disso, poderia fazer a roupa no meio da rua e experimentar esse tipo de situação, o que acontece nessas horas. Ando pensando muito na beleza dessa mão que costura e um dos vídeos que fiz para o último desfile era sobre imagens de mãos costurando. Fiquei com isso na cabeça e percebi que tinha vontade de fazer isso e comecei a criar uma linha de raciocínio. Vou fazer uma roupa na 25, uma roupa num shopping e uma roupa num museu. Aí quando isso se formou eu vi que podia fazer uma fábrica na rua, montar os útlimos dias de um desfile, que é uma coisa que todo mundo sempre quer ver. Tentei fazer na rua, mas apareceu a oportunidade de fazer nesse espaço. O desfile do SPFW acontece dia 30. Isso é uma obra artística que utiliza como instrumento o oficio de fazer roupa. Em vez de usar argila, tinta, pincel, é como se colocasse dentro de um quadro uma mão em movimento. E assim surgiu a fábrica do Dr. F

Terra - O que espera do desfile?

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Fause Haten -

Esse projeto mostra o que nunca se mostrou e esconde o que sempre se mostra. Gosto dessas ideias de criar ruídos e sensações. Me perguntam 'e se chover?'. É um projeto de risco,  tudo faz parte da experiência. Talvez uma pessoa não consiga ver o desfile, talvez uma pessoa que nunca imaginou que fosse ver um desfile irá ver um passando do seu lado e talvez alguém não se interesse. De qualquer maneira, vou proporcionar algum tipo de sensação nova, esse tipo de exercício me interessa.

Terra - O que mudou na sua relação com a moda depois que se formou como ator?

Fause Haten - Acho que hoje mais do que ator, nem sei dizer se sou, me considero um performer. Comecei a estudar em 2006, e até hoje estudo, e percebo que me fortaleci como artista, antes era apenas um estilista. Estudei muito e adquiri recursos, então chego aqui e tenho a cara de pau de criar uma instalação, acabo me expressando. Toda expressão é assim, em algum momento você toca mais e em outros, toca menos. O fato de ter feito algo que tenha tocado muito as pessoas não pode significar se aprisionar naquele formato.

<p>Na última edição do SPFW, Fause Haten emocionou público com desfile de marionetes</p>
Na última edição do SPFW, Fause Haten emocionou público com desfile de marionetes
Foto: Michelle Achkar / Especial para Terra
Terra - Você se refere ao desfile verão 2013 com as marionetes?

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Fause Haten -

Aquilo com certeza emocionou todo mundo e aí as pessoas me falam 'você vai esconder seu desfile depois do que fez?', mas é isso, não posso ficar aprisionado. Aquilo foi lindo, virou uma exposição, está rodando o Brasil, mas vamos para a próxima. Eu tenho falado do que eu sinto de maneira geral na moda, a moda deixou de correr riscos e a moda precisa correr riscos. Quero deixar claro que esse meu projeto, esse manifesto não é uma crítica ao sistema, a ninguém, a nada, é apenas uma reflexão minha. Muito pelo contrário, entendo que existe um mercado, que precisa se movimentar, mas eu escolhi uma posição de pensador, de experimentalista, de alguém que eventualmente vai criar esses ruídos e fazer as pessoas pensarem.

Terra - O que gostaria de ver na moda nos próximos anos?

Fause Haten -

Uma coisa que bate muito na minha cabeça é que a moda é ditatorial e acho que deveria ser libertária. Há um desentendimento sobre a moda porque passou a ser usada como alavanca de consumo, e a moda cria essa coisa 'eu estou dentro/eu estou fora', 'pertenço/não pertenço', e isso me incomoda. Acho que não existe mais a moda da ditadura, é o indivíduo que decide.  Todos os caminhos que a moda está tomando têm essa base, mesmo que às vezes não transpareça. Se o fast fashion passa a ter a informação de moda e todo mundo passa a usar não é porque é barato, é porque não importa mais de onde vem a roupa, o que importa é quem usa e como usa. A síntese é que você interessa mais do que a roupa que você está usando, do que a marca que você está usando. Eu também tenho desejos, também compro roupa, mas vamos pensar. O que espero de maneira geral é que as pessoas assumam esse poder que elas têm. E acho que tem muita gente fazendo isso, um universo jovem que vem se alastrando por aí e que a única pessoa que fez isso foi o Heidi Slimane (estilista da Yves Saint Laurent), na segunda coleção para a marca. Eu mesmo não entendi e depois falei 'é genial'. Eu estou estudando há um ano a vida do Yves Saint Laurent e ele faria isso hoje, ele estaria antenado com o que está acontecendo. Ele faria uma roupa que todo mundo usa, que é para qualquer pessoa usar. Não é nem a minha escolha, faço uma coisa mais onírica, mas acho muito pertinente e inteligente.

Terra - Você está montando o casting, procura algum padrão nas meninas?

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Fause Haten -

Não, como é no meio da rua estou com preocupação que tenham desenvoltura, que pareçam pessoas comuns e que se acontecer alguma situação, como a de juntar pessoas em volta, que elas saibam se virar, saibam por onde ir.

Terra - Você adotou o cabelo loiro. Vai continuar?

Fause Haten -

Vai ser difícil mexer. Me deu vontade de mudar de cara, não aguentava mais, descolori umas duas vezes e depois percebi que a raiz preta era boa e decidi deixar crescer. Aí não sei para onde vai.

Terra - Você anda usando colares. Eles têm algum significa para você?

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Fause Haten -

Não, é tudo aleatório. Tenho adorado colar, então eu não tiro, só ponho (risos).

A Fantástica Fábrica do Dr. F

MAB FAAP – Museu de Arte Brasileira

Endereço: Rua Alagoas, 903

Data: de 24 a 29 de outubro

Horários: quinta, sexta , segunda e terça das 10h às 20h; sábado e domingo das 13 às 17h

Fonte: Ponto a Ponto Ideias Ponto a Ponto Ideias
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