Por que você não deveria tomar banho tão quente (mesmo durante o inverno)

Água em temperatura elevada pode prejudicar a saúde da pele; entenda o porquê e como protegê-la quando não dá para abrir mão da ducha quente

9 jul 2024 - 18h01
(atualizado em 12/7/2024 às 11h33)

Sejamos sinceros: o inverno é uma época marcada pela preguiça de entrar no chuveiro. Para vencer essa guerra diária, muitos se armam com banhos em águas muito quentes. Mas apesar de ser reconfortante, a alta temperatura pode prejudicar a pele e o couro cabeludo e desencadear irritação e até doenças dermatológicas.

Banho quente
Banho quente
Foto: iStock

O Estadão conversou com a médica dermatologista Marcia Linhares, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), que explica abaixo os danos que podem ser causados pelo banho quente e como cuidar da pele nos períodos mais frios do ano.

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Quais os malefícios do banho quente?

No corpo, a água quente remove parte da barreira protetora natural da pele, levando ao ressecamento e coceira após o banho. Em alguns casos, a cascata de água em temperatura elevada também pode levar ao surgimento de placas vermelhas na pele, chamadas de dermatite.

O hábito também pode fazer com que a pele fique grossa e áspera. Além disso, em pessoas predispostas, o banho quente pode aumentar a incidência de urticárias aquagênicas, condição rara que causa erupções cutâneas, coceira e vermelhidão em resposta ao contato com a água.

Já nos cabelos, ela aumenta a secreção da glândula sebácea, causando oleosidade e a proliferação de fungos causadores de caspa no couro cabeludo. Em contrapartida, apesar de aumentar a oleosidade nessa região, ela resseca as pontas dos fios, tornando-os opacos e quebradiços.

Então, qual a temperatura ideal da água?

Para fugir desses danos, Márcia explica que o ideal é usar a água morna, em torno de 37°C. Segundo ela, não é necessário tomar banho gelado, apenas em uma temperatura semelhante à do nosso corpo.

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A médica indica que, para saber se a água está morna, deve ser feito o teste colocando-a em contato com a pele do pulso (diferente do que normalmente fazemos, aventurando primeiro os pés embaixo do chuveiro). "Se estiver agradável e não 'pelando', pode entrar no chuveiro", afirma.

Não posso abrir mão de tomar banhos quentes; como amenizar os prejuízos?

Sabemos que pode ser difícil abandonar o hábito de tomar banho com água quente, especialmente no inverno. Para minimizar os danos, a principal dica da médica é aplicar um óleo na pele antes da ducha. "Ele cria uma camada impermeável. Assim, ele impede que a nossa membrana perca água, evitando que a pele fique desidratada", ensina Márcia.

Outro conselho é tentar tomar banhos mais curtos e, ao longo da chuveirada, ir reduzindo a temperatura aos poucos. A duração preferencial de uma ducha é de cinco a dez minutos em água morna e, se possível, deve-se tentar reduzir a temperatura da água entre a metade e o fim do banho.

A médica também indica o uso de sabonetes do tipo syndet, uma espécie de detergente sintético que possui o nível de acidez (PH) mais próximo ao da nossa pele, resultando em uma menor remoção de lipídios que cobrem e protegem a pele, contribuindo com a sua hidratação natural. "Esses produtos têm maior potencial hidratante para refazer a barreira cutânea", explica.

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Para evitar agredir a pele, esqueça das buchas, que podem ser usadas somente nos pés, e invista no uso de esfoliantes em áreas mais grossas, como cotovelos e joelhos, uma vez por semana.

Por fim, Márcia destaca que a pressão da água também interfere na saúde da pele. Uma alta pressão da ducha leva a uma retirada mais intensa da camada de hidratação da pele e pode desencadear urticária de pressão em pessoas com predisposição.

Quais devem ser os cuidados pós-banho quente?

Depois do contato com a água em alta temperatura, é preciso caprichar ainda mais na hidratação, que deve ser feita preferencialmente logo após sair do chuveiro, pois os poros da pele estão mais abertos, facilitando a penetração do creme. Márcia indica o passo a passo: "saiu do banho e se secou, todo o excesso do óleo vai sair, então você reidrata a pele".

Para isso, é recomendado que sejam usados hidratantes encorpados que contenham ativos de alta performance, como ureia, dimeticona, germe de trigo, macadâmia, óleo de avelã, óleo de uva, manteigas, alantoína, pantenol ou ceramidas.

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Na hora de se secar, a dica é usar toalhas felpudas e macias, pois elas absorvem melhor a água, evitando que a pele fique úmida por muito tempo. Seque o corpo completamente, sem esquecer das dobras da pele como axilas, virilha e entre os dedos dos pés. Segundo Márcia, as toalhas devem ser trocadas a cada dois dias para prevenir fungos e bactérias.

Além disso, a pele do rosto pede mais atenção. As peles normais e secas sofrem mais com o ressecamento causado pela ducha quente e requerem cuidados especiais, como o uso de cremes de limpeza suaves e nutritivos. Já as pessoas com pele oleosa devem focar em uma boa limpeza com loção adstringente e, em seguida, aplicar hidratantes suaves.

No dia a dia, não esqueça a proteção solar. As temperaturas mais baixas podem dar a ilusão de que os raios UV não queimam a sua pele. Mas eles continuam queimando e causando danos cumulativos, por isso, é importante não abrir mão de um bom filtro solar.

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Benefícios da água fria

Entre os motivos pelos quais você não deveria tomar tão quente também estão os benefícios do banho frio para a sua saúde. Um estudo holandês, publicado na revista científica Plos One em 2016, mostrou que pessoas que tomavam banho frio tinham menos probabilidade de se ausentar do trabalho devido a doenças do que aquelas que tomavam banho quente.

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Após acompanhar a rotina dos participantes por três meses, eles constataram que tomar banho rotineiramente com uma transição de quente para frio resultou em uma redução de 29% nas faltas ao trabalho auto relatadas devido a doenças.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia também recomenda o banho mais frio, pois, além de evitar os danos da água quente, ajuda a aumentar os níveis de alerta e liberação de endorfina, hormônio que promove sensação de bem-estar.

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