Com foco na prevenção ao suicídio, Setembro Amarelo é dedicado à valorização da vida e, mesmo que recente no Brasil – a campanha teve início no país em 2015 – já se tornou tradicional por aqui.
Além das inúmeras iniciativas em prol desse tema tão sensível e importante, o período é, ainda, um lembrete sobre saúde mental, sobretudo nos tempos atuais. Dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que depressão e ansiedade tiveram crescimento de 25% um ano após o começo da pandemia. A entidade, aliás, reforçou às nações a necessidade de maiores investimentos visando garantir o apoio psicológico correto à população mundial.
Os alertas sobre a saúde da mente se tornaram mais intensos em tempos recentes, porém é preciso ressaltar que ela envolve variados aspectos e não representa um recorte de tempo, pois impacta o globo há anos. Mas o que é e como alcançar o estado de bem-estar mental?
“Não existe uma definição correta e exata para saúde mental, uma vez que ela é influenciada por diversas questões culturais e subjetivas. Mas podemos defini-la como um estado de equilíbrio entre o indivíduo e seu contexto sociocultural, no qual ele consegue manter suas atividades profissionais, o funcionamento de suas capacidades intelectuais e seguir socialmente ativo, de forma a alcançar um estado de bem-estar além do físico”, afirma a psicóloga Gabriele de França (CRP 06/161972).
Enquanto alguns preferem rotinas bem definidas, outros fogem delas e fazem questão do dinamismo, todavia, ambas situações não impedem as pessoas de terem dias atípicos e cheios de estresse e ansiedade, protagonistas dos instantes desconfortáveis que acabam influenciando o emocional.
“Quando estamos mais ansiosos, depressivos e estressados, podemos não avaliar as situações da mesma maneira, influenciando diretamente na tomada de decisão em nossos relacionamentos e no trabalho”, aponta Adriane Camillo (CRP 06/81407), mestra em Psicologia Clínica.
Os sinais de uma saúde psicológica abalada
Certamente, o autoconhecimento é uma excelente ferramenta para identificar gatilhos mentais que desencadeiam estresse, por exemplo, e requer um processo contínuo de preparação. Nessa mesma linha, é imprescindível ficar atento aos sinais emitidos; Gabriele de França cita alguns deles:
“Isolamento social, mudanças no apetite (seja aumento drástico ou redução exagerada), problemas com o sono, agitação excessiva com pensamentos acelerados, tristeza ou medo sem motivos aparentes, pessimismo em excesso, problemas de memória e inquietação.
O mais importante é sempre analisar o comportamento de uma pessoa em relação a ela mesma. Se uma pessoa sempre foi tímida, comeu pouco a vida inteira, isso não significa que ela possa estar apresentando alguma questão, pode ser apenas parte de sua personalidade e de seu funcionamento fisiológico. Entretanto, se é possível notar mudanças repentinas, comportamentos muito destoantes, isso pode, sim, sinalizar um alerta”.
Homens e mulheres apresentam sintomas diferentes?
“Como somos influenciados por nossa história, cultura e fatores genéticos, sim, a apresentação dos sintomas pode ocorrer de formas diferentes, pois vamos lidar com nossas emoções, sentimentos e experiências de modos distintos. As mulheres buscam mais ajuda quando percebem que necessitam, e isso se dá, em parte, por uma questão cultural, ou seja, elas não veem problema em procurar um especialista quando percebem que algo está afetando-as.
Um estudo do Programa de Pós-Graduação em Saúde e Comportamento da Universidade Católica de Pelotas (PPGSC/UCPel) apontou que as mulheres ligam a depressão a motivos interiores, relacionados a elas mesmas. Os homens, ao contrário, creditam o problema a fatores externos, como clima ou estresse. Esse fenômeno pode estar relacionado a elementos como características hormonais, culturais e sociais”, destaca Adriane Camillo.
Mulheres são mais afetadas por depressão
“Pesquisas demonstram que as mulheres possuem uma tendência maior de terem depressão, como transtornos de ansiedade também. Algumas dessas pesquisas revelam que fatores genéticos, hormonais e até mesmo culturais podem contribuir para que a mulher seja a que mais sofre com alguns tipos de transtornos.
Chris Irons, em seu livro intitulado depressão, relata que é provável que a interação complexa dos fatores de desigualdade em relação aos homens, como financeira, de trabalho e social, até mesmo passando por situações mais traumáticas, como abusos físicos e sexuais, faz com que as mulheres sejam mais propensas a terem depressão do que os homens”, pondera Adriane.
Suporte emocional adequado
Ainda segundo ela, o primeiro passo para ajudar as mulheres é reconhecer essas desigualdades, não contribuir para que elas aconteçam, se informar mais sobre a depressão e dar um suporte emocional adequado. Adriane também indica modos apropriados de conceder apoio emocional a qualquer indivíduo:
- Informar-se fará com que a pessoa entenda melhor que a outra está passando;
- Ouvir o outro sem julgamento, sem tentar resolver o problema no primeiro momento. Deixe para um especialista ajudar a solucionar os problemas, ele tem as ferramentas mais adequadas para isso;
- Ofereça ajuda ativa dentro daquilo que é possível para você;
- Fazer com que a pessoa procure suporte especializado, e se você for muito próximo, às vezes, vale a pena também ter o suporte emocional.
Como cuidar melhor da própria saúde mental
Com enorme potencial de alcance, as redes sociais são massivamente consumidas e, em algumas oportunidades, também responsáveis pelo abalo psicológico. Esse é somente mais um ponto dentre os vários que demonstram como a rotina pode influenciar a saúde psicológica.
Segundo Gabriele de França, estabelecer uma rotina é fundamental para a construção de uma boa saúde mental e isso se dá por inúmeros motivos, dentre os quais ela destaca dois benefícios:
- Primeiro: reduz o esforço mental para atividades que já são rotineiras, como acordar, realizar as refeições, tomar banho, dormir. Esse é, inclusive, o primeiro passo para construir uma rotina: criar consciência dessas atividades repetidas;
- Segundo: você ganha o benefício da previsibilidade. Isso mesmo. Sabendo o que você precisa fazer, em qual ordem, horário (rotina), seu cérebro direcionará mais energia para a execução das tarefas do que para seu planejamento.
“Com a rotina, reduzimos sentimentos estressores, aumentamos sentimentos positivos, como estabilidade, tranquilidade, segurança, que andam de mãos dadas com uma boa saúde da mente. A atividade física também é indispensável, pois por meio dela liberamos hormônios como serotonina e endorfina, que são responsáveis pela sensação de recompensa e bem-estar. Realizar outras atividades que lhe deem prazer, cuidar do sono, ter momentos de relaxamento, como a meditação e práticas de Mindfulness, são aliadas nesse processo”, enfatiza a psicóloga.
Psicoterapia x Conselho
Agir com empatia e demonstrar preocupação para com o outro são formas genuínas de apoio, todavia, é necessário ressaltar que psicoterapia não se trata de conselho e vice-versa. Como frisa Gabriele, não existe receita mágica, mas assim como a saúde física, o mental também demanda cuidados.
“O conselho é aquele que seu amigo, colega ou familiar te dá. Você fala, alguém te escuta e te dá uma solução ou exemplo do que fez quando aquilo aconteceu com ele. Como se fosse um remédio.
Na psicoterapia, o propósito é ajudar a gerar soluções para que na hora que um problema ou situação parecida acontecer, você saiba como lidar. É como um suplemento que você utiliza todas as semanas, e vai aprendendo, crescendo e evoluindo. É um momento individual para cuidar das suas questões emocionais, um espaço seguro de reflexão e de ressignificação”, completa.
Saúde mental no trabalho
Levantamento da Isma (International Stress Management Association) indica que o Brasil é a segunda nação com mais casos de burnout (síndrome do esgotamento profissional) no mundo.
O cenário exige que as empresas desenvolvam planos para promoção do bem-estar de seus funcionários e manutenção de sua competitividade para atração e retenção de talentos: uma cultura organizacional sólida capaz de trazer benefícios a ambos, empregador e empregado.
Nesse contexto, o autocuidado é um outro tópico vital, assim os profissionais precisam aprender a lidar com as jornadas de trabalho e saber dosar vida profissional e pessoal, afinal, o home office veio para ficar e, ao mesmo passo em que facilita o dia a dia, pode ser um fator de desequilíbrio.
“É necessário lembrar que todos os dias nós ‘emprestamos nosso CPF para um CNPJ’, ou que estamos ali trabalhando, realizando nossa jornada de trabalho no horário que precisamos. Mas nossa vida não se resume a isso. É preciso, ao fim da jornada, se dissociar, e isso vai além de silenciar um aplicativo de mensagens ou parar de olhar o e-mail. É se desconectar mentalmente, entrar em outro estado. Dar atenção plena às atividades que você vai realizar no seu espaço pessoal. Esse é um exercício diário”, conclui Gabriele.
Entrevistadas
Instagram | @psi.gabrieledefranca
Instagram | @espacopsiquemoema
Setembro Amarelo: Live Especial sobre Saúde Mental
No dia 27/9, Terra e Atma realizaram transmissão com foco em Saúde Mental.
Para conferir o vídeo, clique aqui.
Convidados:
- Hellen Ramos, atriz, roteirista e apresentadora de podcast
- Monge Satyanatha, especialista em meditação
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