'Viagra do Himalaia' é o fungo mais caro do mundo; conheça

Colheita da planta, que é feita em montanhas a 3 mil metros de altura, gera lucros milionários e também mortes e corrupção entre locais

17 jun 2014 - 20h18
(atualizado às 20h22)
<p>O yarsagumba é usado para tratamento da impotência, dor de cabeça e regular sistemas circulatório e imunológico</p>
O yarsagumba é usado para tratamento da impotência, dor de cabeça e regular sistemas circulatório e imunológico
Foto: Getty Images

O yarsagumba, conhecido como "viagra natural", é o fungo mais caro do planeta e há 500 anos é cobiçado na cultura asiática. A espécie é encontrada somente na região montanhosa, que fica de 3 mil a 4 mil metros de altura, no Nepal, Índia e Butão. “O Ophiocordyceps sinensis (nome científico) é muito conhecido por ser um grande tônico revitalizante. "Assegura o bom funcionamento de muitos órgãos do corpo e fortalece o sistema imunológico. Por ser um regulador do sistema circulatório, utiliza-se para impotência, para dor de cabeça e para melhorar a produção de sangue e esperma”, diz Jit Narayan Sah, professor do Instituto de Estudos Florestais da Universidade de Tribhuvan, no Nepal, ao jornal espanhol El Pais.

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Apesar de ser comum na região há séculos, sua colheita e comercialização era proibida nos anos 1990, por isso a popularização do "viagra do Himalaia" aconteceu a partir de 2001, e desde então, tem aumentado muito. Estima-se que o governo receba anualmente pela sua exploração por volta de 5,1 millhões de rúpias (R$ 88.290), segundo a imprensa local. No entanto, o maior lucro fica mesmo com os intermediários e comerciantes. Os revendedores geralmente compram um quilo de yarsagumba por 1,7 milhões de rúpias (R$ 40 mil) e chegam a vender a mesma quantidade por três milhões de rúpias (R$ 70.650) em Katmandu, capital do Nepal. Em Xangai, na China, esse preço pode chegar a US$ 100 por cada grama (aproximadamente R$ 223).

Colheita é feita a mais de três mil metros de altura nas montanhas Himalais por famílias inteiras
Foto: Getty Images

Estudos mostram que na época de ouro do comércio do fungo, o mercado global girava entre US$ 5 e 11 trilhões (aproximadamente entre R$ 11 e 24 trilhões). Mas, a colheita foi reduzida nos últimos anos e estes números caíram mais de 50%.

Um dos motivos da redução do comércio é a exploração abusiva e pouca regulamentação. As comunidades próximas das regiões montanhosas onde há yarsagumba vivem da colheita do produto e a disputa acirrada aumentou casos de roubo e até morte envolvendo o comécio, além dos problemas ecológicos que a colheita desmedida causa.

A colheita é tradição passada de pai para filho e sempre acontece entre maio e junho. Famílias inteiras deixam suas casas rumo ao topo das montanhas em busca da maior quantidade possivel do Viagra do Himalaia. "Acamparemos seis ou sete dias na montanha, a 4 mil metros de altitude", conta Gupta Bahadur, de 45 anos, antes de sair para o trabalho. E completa: "no ano passado não conseguimos encontrar muitos. É uma planta muito misteriosa. Você pode procurá-la em um metro quadrado e não encontrá-la, enquanto outros a descobrem rápido. Algumas vezes não encontramos uma só peça em uma semana, e outras vezes recolhemos 50 em um dia".

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Em filas organizadas, eles carregam cestos de vime presos à testa com até 30kg de alimentos montanha acima. Os terrenos onde podem ser recolhidos são divididos por lotes e as famílias pagam cerca de 250 rupias (cerca de R$ 6) para poderem entrar no pasto. Mas, nem todos os locais são organizados, o que aumenta a corrupção entre policiais que extorquem os camponeses, assim como ação de quadrilhas e até assassinatos. "Alguns aldeões, inclusive, foram assassinados por tentar invadir a coleta de outro povoado sem a permissão correspondente", explica Kalyan Gauli, diretor do departamento de Biodiversidade, Ecossistema e Mudanças Climáticas da Rede Asiática para Agricultura Sustentável e Biodiversidade.

Outro perigo é a altitude das montanhas. Todos os anos, são registradas mortes devido à quedas das áreas de colheita. As irmãs Manita e Kapila Garthi, de 13 e 15 anos respectivamente, perderam o pai durante a colheita. "Dizem que um bloco de gelo se desprendeu e nunca encontraram o corpo. A montanha o tragou", explica a filha mais velha. 

Durante este período, os povoados ao pé das montanhas se tornam quase cidade-fantasmas. "Os aldeões precisam desse dinheiro para sobreviver. É uma viagem dura para as crianças que vão com suas famílias e perdem aulas, mas recuperamos esses conteúdos durante os feriados", afirma Devkota Shora, professor da escola primária do local.

Fonte: Terra
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