Ignoremos a flácida experiência cinematográfica. Fujamos da política, poça rasa e rosa. Saltitemos pra longe da inegável pertinência para este ou naquele nicho ideológico, geracional ou identitário.
Falemos sobre dinheiro. O custo total de Barbie foi US$ 300 milhões. Precisa faturar três vezes isso pra se pagar. Ainda não chegou a U$ 800 milhões. Dará um lucrinho, ao menos. Talvez um lucrão, aponta o amigo Rodrigo Salem, que entende muito mais que eu de cinema e do negócio-cinema.
Se o fracasso estético é fato, dane-se o resultado financeiro, dirá você, e concordaremos. Dinheiro não é tudo. Mas tudo tem explicação e frequentemente é grana. É o único brinquedo com que gente grande não brinca. Muito menos se for americano.
E Barbie é América pura na veia – empoderada e destituída, enricada e empobrecida, sem classe e, ha, sem classes.
O filme da Barbie será artefato cultural iluminador para arqueólogos de eras vindouras. Um colorido powerpoint resumindo o discurso de diversidade da América Corp, piscadinha empática enquanto abres sua carteira, palco para acionista proclamar suas virtudes e consumidor confortar seu ego, embrulhado para embrulhar.
Hei! É tudo de verdade! É tudo de mentira! É sincero e simulacro! É tudo por dinheiro mas também para o bem de todos e nada de errado com isso! E super prático, o próprio filme-mania já traz embutida toda a autocrítica necessária e pertinente. D+!
Quem quiser daqui a cem anos entender onde estávamos em 2023, na tríplice e perigosa fronteira da grana, das ideias e dos ideais, terá em Barbie uma guia intrigante. Perfeitamente plástica e politicamente incorreta, boneca fabricada com imperdoáveis combustíveis fósseis, emporcalhando uma poluída praia do futuro.
(*) André Forastieri é jornalista, sócio da consultoria Compasso e fundador de Homework. Conheça melhor seu trabalho em andreforastieri.com.br.