Apesar de nos preocuparmos mais com a saúde quando estamos fora de casa, é na suposta segurança do lar que pegamos a maior parte das doenças. Por falta de cuidados básicos de saúde, muitas vezes trazemos da rua companhias invisíveis e altamente indesejadas: as bactérias. É impossível eliminar 100% dos microrganismos que afetam o corpo humano, mas algumas medidas básicas e simples de higiene ajudam muito a manter esses visitantes desagradáveis do lado de fora da porta.
A primeira medida, e a mais básica de todas, é lavar as mãos sempre que entrar em casa, afirma o infectologista Paulo Olzon Monteiro da Silva, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp). “O principal foco de transmissão de infecções – principalmente as respiratórias – é a própria mão”, afirma. O ideal é chegar em casa e ir direto para a pia e lavar as mãos com vontade. “O melhor é não cumprimentar uma pessoa antes de lavar a mão e tirar anel e aliança quando lavar as mãos, lavar na frente, atrás e entre os dedos.”
Outra atitude que contribui para evitar a transmissão de doenças é um costume vindo do Oriente: tirar os sapatos ao entrar em casa. Outra dica é manter um bom capacho na frente da porta. “A presença de um capacho na porta elimina 80% das bactérias da rua que estão no sapato. Ele tem que ser lavado, por isso é melhor um modelo de plástico que um de fibra de coco”, explica o biomédico Roberto Figueiredo, conhecido como Dr. Bactéria.
Os sapatos não são o principal veículo para as bactérias, mas é preciso tomar cuidado especial com calçados que passaram pelo cemitério – é fundamental desinfetá-los antes de entrar em casa. “A terra do cemitério é contaminada. Nela, podem existir bactérias de infecções que mataram algumas pessoas que estão enterradas por lá. Esses microrganismos são resistentes ao tempo e sobrevivem na terra por meio de esporos, que podem ficar nos sapatos”, explica Dr. Bactéria. A solução é embeber um pano com desinfetante e passar na sola do calçado.
E as bactérias não entram em casa só quando pegam “carona” em partes do corpo. O telefone celular, que está sempre em contato com as mãos, também pode funcionar como “meio de transporte”. Por isso, Dr. Bactéria recomenda uma limpeza semanal do aparelho com álcool isopropílico, à venda em casas de materiais eletrônicos. “A limpeza é feita com uma toalha de papel umedecida com esse tipo de álcool. Não adianta exagerar no álcool, as bactérias não morrem afogadas”, brinca o biomédico.
Vale lembrar, também, que as bactérias não vêm só das ruas, elas podem surgir na despensa ou na geladeira, em comidas contaminadas que provocam doenças que causam vômitos e diarreias. Para evitar que essas bactérias se propaguem, não deixe a comida fora da geladeira e tome cuidado ao consumir cremes e maioneses, que se deterioram com mais facilidade, principalmente no calor. “Para provocar uma doença não é preciso só uma bactéria. Você precisa de um número grande, uma carga infectante alta que vence a resistência do corpo e desencadeia a doença”, afirma Paulo Olzon, presidente da Associação dos Médicos da Escola Paulista de Medicina (AMEPM) e infectologista da Unifesp. “Por isso é que acontecem aqueles episódios de comer algo em grupo, todo mundo passar mal e você não. Um pedaço não é igual ao outro, você pode pegar um pedaço com maior carga infectante ou a sua resistência pode ser menor”, completa o infectologista.
E se alguém ficar doente?
Se, apesar de todas essas medidas preventivas, um morador da casa for infectado por alguma doença contagiosa, é importante tomar alguns cuidados para evitar que as bactérias se proliferem. Não é necessário isolar a pessoa em um cômodo, mas é bom não compartilhar certos utensílios, como toalha ou talheres. Manter a casa arejada permite a circulação do ar e dificulta que a doença seja transmitida pelo ar. Por fim, é bom evitar, por uns dias, contatos físicos muito próximos, como deitar na mesma cama e beijar o doente, já que doenças como a gripe e a hepatite A são transmitidas pela saliva. “Boa parte das doenças respiratórias são transmitidas antes de aparecer os sintomas, aí, não há o que fazer”, explica Olzon.