Cinco mitos e verdades sobre o canabidiol

O neurocirurgião Dr. Marcelo Valadares conta se o que as pessoas dizem sobre a substância medicamentosa é verdadeiro ou mentira; confira

20 set 2024 - 16h05

Apesar dos receios, o canabidiol tem sido encarado como um recurso promissor para a medicina moderna. Porém, ainda há muitos rumores a respeito do tema. Então pedimos para o neurocirurgião funcional, Dr. Marcelo Valadares, desmistificar o assunto. Confira:

Primeiramente, o especialista chama atenção para o fato que a eficácia do canabidiol (CDB) depende da dosagem, absorção e qualidade do produto, além da indicação médica adequada
Primeiramente, o especialista chama atenção para o fato que a eficácia do canabidiol (CDB) depende da dosagem, absorção e qualidade do produto, além da indicação médica adequada
Foto: Canva Equipes/irinaevva / Bons Fluidos

Primeiramente, o especialista chama atenção para o fato que a eficácia do canabidiol (CDB) depende da dosagem, absorção e qualidade do produto, além da indicação médica adequada. "A prescrição de canabidiol - como indicação terapêutica para doenças em substituição a tratamentos convencionais e cientificamente comprovados - deve ser vista com cautela. Esses produtos podem auxiliar ou entrar como alternativa quando não alcançamos respostas satisfatórias com as medicações tradicionais, por exemplo", detalha.

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Eficácia no controle da dor

Algumas pessoas dizem que ele ajuda nas dores mais intensas. Porém, o neurocirurgião afirma que isto é um mito. "Duas das dores mais intensas que existem, a fibromialgia e as dores oncológicas, não são gerenciáveis com o canabidiol, segundo revisões sistemáticas da Biblioteca Cochrane", declara

Em primeiro lugar, ele cita que limitaram as evidências de ensaios clínicos no caso da fibromialgia. Pois só fizeram dois estudos pequenos e de curta duração. Porém, não há contraindicações. "Não encontraram evidências que sugiram que o canabinoide sintético interfira no tratamento de pessoas com fibromialgia, com eventos adversos, como sonolência, tontura e vertigem, que podem inviabilizar a sua recomendação", atesta.

"Já em relação às dores provenientes dos diferentes tipos e estágios da dor do câncer, o potencial dos medicamentos à base de cannabis e da cannabis medicinal não pode ser definido. O motivo é a falta de evidência, de eficácia ou dano, com indícios de efeito adversos psiquiátricos e do sistema nervoso prevalentes e não tão bem tolerados, o que pode limitar a utilidade clínica", detalha.

Canabidiol melhora o Alzheimer

Outro mito é que o canabidiol é efetivo no tratamento do Alzheimer. "O uso de canabinoides para o tratamento de pacientes com síndrome demencial, caracterizada por declínio cognitivo e funcional, e acometimento, principalmente de idosos, é alvo de intensa pesquisa, mas não há resultados uniformes até o momento", explica.

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Uma revisão da Cochrane incluiu dados de quatro estudos de curta duração. Os especialistas fizeram as pesquisas com 126 participantes com Alzheimer, e não notaram benefícios nem malefícios para pacientes com demência. Alguns órgãos importantes da área manifestam-se contrários à substância, como a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e a Academia Brasileira de Neurologia. Apesar disso, muitos deles acreditam que há a necessidade de realizar estudos à longo prazo.

Com isso, cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) estão conduzindo os maiores ensaios clínicos do mundo. Eles contam com 140 pacientes e durarão três anos. Assim, eles irão avaliar como as substâncias extraídas da Cannabis sativa podem colaborar para o tratamento do Alzheimer e Parkinson.

Nova aposta para o tratamento da epilepsia

Sim, o uso de canabinoides tem trazido diversos resultados positivos no tratamento da epilepsia. "Atualmente, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aceita os canabinoides em ensaios clínicos controlados ou na falta de alternativas terapêuticas para crianças e jovens adultos com crises epilépticas refratárias aos tratamentos usuais, como a síndrome de Dravet e a síndrome de Lennox-Gastaut (LGS). Os estudos mostram que o CDB é capaz de reduzir e, em alguns casos, extinguir as convulsões nos pacientes", exemplifica.

Resultados promissores nas crianças com TEA

"Até o momento, não existem medicamentos comprovadamente eficazes para tratar os principais sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA), que consistem em dificuldades na comunicação e interação social e padrões restritos e repetitivos de comportamento, apesar do interesse em explorar o potencial terapêutico do CBD", inicia justificando o motivo de esta informação ser parcialmente verdade.

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Por outro lado, como os indivíduos com TEA possuem ansiedade, depressão, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e epilepsia, o canabidiol pode atuar, principalmente, com ação anticonvulsivante, em epilepsias da infância e da adolescência.

Efetivos no tratamento de Esclerose Múltipla

Isto também é parcialmente verdade, como indica o neurocirurgião. "As terapias à base de Cannabis sativa já são indicações consolidadas para o controle da espasticidade - excesso de tônus muscular que dificulta a movimentação e causa dores - que é sintoma da esclerose múltipla. É importante reforçar que a substância é um tratamento, na verdade, para este sintoma especificamente, e não para a esclerose múltipla como um todo", elucida.

Vale lembrar que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já liberou o uso dessa combinação. Entretanto, isso só vale se os espasmos, moderados e graves, de pacientes não melhoraram após a ingestão de medicamentos tradicionais.

Por fim, confira uma entrevista que fizemos com a neurologista Dra. Gladys Arnez sobre epilepsia:

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