Na última terça-feira (12), a fisioterapeuta brasileira Flavia Rezende, 45, morreu em um voo para Tóquio. A suspeita é que a causa tenha sido uma embolia pulmonar, que acontece quando um coágulo de sangue se forma e se solta de alguma parte do corpo (das pernas, por exemplo) e vai até o pulmão, provocando um bloqueio na passagem de sangue.
O risco de uma trombose (formação de um coágulo) e de uma consequente embolia pulmonar aumentam em quem passa muito tempo parado em uma mesma posição, como no caso de indivíduos hospitalizados e acamados por um longo período, ou ainda, em que fica sentado em voos de longa duração.
Esse tipo de situação é muito grave e, dependendo do tamanho da obstrução e da ausência de auxílio médico disponível no local pode até levar a risco de morte.
Ficar sentado por muito tempo em carro, ónibus ou trem pode aumentar o risco de trombose e embolia, mas o risco parece ser ainda mais importante nas viagens aéreas, possivelmente por questões envolvendo variações da pressão atmosférica, pressurização da cabine, altitude da aeronave e consequente desidratação. Em pessoas com questões prévias de saúde, essas oscilações podem ter um impacto maior.
Por isso é importante que, durante voos mais longos, a pessoa saia da poltrona e se movimente pelos corredores, que se mantenha bem hidratada e que evite o excesso de álcool (o que aumenta ainda mais a desidratação). O movimento e a consequente pressão das panturrilhas sobre as veias das pernas cria um mecanismo que impulsiona melhor o sangue para a parte superior do corpo, como uma espécie de bomba propulsora.
Pessoas com histórico prévio de trombose, alterações da coagulação ou outras condições médicas (tratamento de alguns tipos de câncer, por exemplo) precisam conversar com seu médico antes de realizar voos mais longos para pensar em estratégias de prevenção. Além disso, sexo feminino, obesidade, gravidez, pós-parto, idade avançada, cigarro, e período pós-cirúrgico, entre outros fatores, podem elevar esse risco também.
Quanto maior o tempo do voo e quanto menor o espaço para as pernas se movimentarem, maior o risco do sangue ficar estagnado nas veias, e portanto, maior a chance de trombose.
Como identificar?
Uma indicação de que uma trombose está se formando é dor na batata da perna, aumento de temperatura, inchaço, vermelhidão e mudança na consistência dessa parte do corpo, que parece ficar mais endurecida. Esses sinais podem indicar que um coágulo está formando, trazendo risco que ele se solte e migre pelas veias profundas até os pulmões, onde pode levar a uma embolia. Se o bloqueio gerado nos pulmões for muito intenso, a morte pode ser imediata.
Lembro do caso de um colega cardiologista que estava viajando com a esposa e a filha pequena em um voo de longa distância. A criança passou boa parte da viagem no colo do pai, o que pode ter prejudicado ainda mais o retorno venoso. Horas depois da chegada ao seu destino, com dor intensa nas panturilhas, ele procurou um pronto-socorro, que diagnosticou um quadro agudo de trombose. Ficou internado por alguns dias recebendo anticoagulantes.
Para evitar riscos, faça check-ups periódicos e mantenha-se bem informado sobre seu estado de saúde, condições do voo e tempo de deslocamento até seu destino final. Em algumas situações, se possível, é melhor fazer dois voos mais curtos, com uma pausa para movimentação e caminhadas durante a conexão, do que escolher um único voo extremamente longo.
Para prevenir trombose e embolia, preste atenção a algumas dicas importantes:
- Se você tem alguma condição de saúde que afete a sua coagulação, procure um médico antes de voos longos
- Mantenha-se muito bem hidratado durante a viagem
- Evite o consumo de álcool
- Levante-se a cada duas ou três horas, fique um pouco em pé e se movimente
- Mesmo sentado na poltrona, faça exercícios, movendo os pés e pernas
- Evite colocar peso adicional sobre suas pernas durante o voo
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.