Casos de estupro como da blogueira brasileira na Índia exigem atenção imediata

Quanto antes a pessoa chegar aos serviços de saúde e iniciar as profilaxias melhor, mas uma janela máxima de 72 h não deve ser ultrapassada.

8 mar 2024 - 05h00
Fernanda Santos
Fernanda Santos
Foto: Reprodução/ Instagram

A influenciadora brasileira Fernanda Santos, vítima de um estupro coletivo no último final de semana na Índia, precisou passar por atendimento médico de emergência em um hospital local para prevenir uma série de riscos para a saúde provocados pela violência sexual.

Alguns cuidados imediatos são necessários nesse tipo de agressão, ainda tão prevalente no mundo e também aqui no Brasil, onde uma mulher ou menina é vítima de estupro a cada 8 minutos, segundo dados de 2023 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

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Fernanda e o marido espanhol Vicente Barbera mantêm um perfil de suas viagens pelo mundo (@vueltaalmundoenmoto) e estavam há seis meses passeando de moto pela Índia. Eles foram atacados por um grupo de sete homens enquanto acampavam no distrito de Dumka, na região de Jharkhand, próximo à fronteira com Bangladesh. Os criminosos espancaram e roubaram o casal e violentaram a influenciadora

Fernanda Santos e o companheiro, que é espanhol, registram as suas viagens pelo mundo de motocicleta para um público de mais de 200 mil seguidores no Instagram
Foto: Reprodução/Instagram

Janela para intervenção

Quando um episódio de estupro acontece a vítima deve receber atenção médica rápida para reduzir os riscos de uma gravidez indesejada e de uma série de infecções que podem ser transmitidas por via sexual. Quanto antes a pessoa chegar aos serviços de saúde e iniciar as profilaxias melhor, mas uma janela máxima de 72 horas (3 dias) não deve ser ultrapassada. 

Ao chegar ao hospital ou pronto socorro, a vítima deve receber contracepção de emergência e vai começar a tomar a PEP (profilaxia pós-exposição), uma combinação de antivirais que evita a infecção pelo vírus HIV, causador da Aids. Além disso, ela vai ser medicada com antibióticos para prevenir as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) mais comuns como sífilis, gonorreia, clamídia e tricomonas. Se a pessoa ainda não fez o esquema de vacinação contra hepatite B, ela também deve iniciar essa forma de prevenção.

Para além das medicações e de outras medidas de suporte clínico, a vítima deve receber atendimento da assistência social e de profissionais de saúde mental. O atendimento médico pode ser iniciado independente da pessoa ter procurado as autoridades para registrar um boletim de ocorrência (BO), mas o hospital deve oferecer todas as orientações necessárias para que essa medida possa ser executada. Pode ser necessária também a coleta de material para a identificação do DNA do agressor. 

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Os protocolos de atendimento às vítimas de violência sexual podem sofrer pequenas variações de um serviço de saúde para outro, mas eles obedecem às orientações e normas técnicas dos ministérios da Saúde e da Justiça. Para menores de 18 anos existem recomendações clínicas específicas, bem como a obrigatoriedade de um BO e de um relatório para o Conselho Tutelar.

A PEP – Profilaxia Pós-Exposição, para evitar doenças sexualmente transmissíveis, deve ser administrada no máximo em 72 horas
Foto: Bowonpat Sakaew / iStock

Medo e vergonha dificultam o acesso

É importante lembrar que em uma cultura que ainda condena a mulher vítima de estupro a outras tantas violências e preconceitos, não é incomum que, por receio de julgamento e críticas ou, ainda, por medo ou vergonha, muitas delas não busquem nem as delegacias nem o atendimento médico, o que as deixa muito mais vulneráveis a uma gestação indesejada e uma série de agravos para sua saúde, sem contar o impacto brutal na sua vida e na saúde mental. 

Se você está próximo a alguém que sofreu qualquer forma de violência sexual, ofereça suporte e funcione como parte de uma rede de apoio que garanta que essa pessoa chegue aos serviços de saúde e procure as autoridades para denunciar o criminoso. 

O atendimento e o suporte não se encerram nesse primeiro contato com o serviço de saúde. É essencial que a pessoa retorne para dar seguimento tanto aos cuidados médicos, como testagens sorológicas, uso de tratamentos complementares e aplicação das demais doses das vacinas, como da sua saúde mental. 

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Cuidar das emoções é central. Além de um atendimento humanizado desde a primeira consulta, o que faz com que a pessoa se sinta mais protegida e acolhida, é essencial que ela continue a receber o suporte de um profissional de saúde mental. 

Um episódio de violência sexual é sempre muito traumático. Quadros de estresse pós-traumático, ansiedade generalizada, crises de pânico, além de sintomas depressivos podem alterar profundamente a vida da vítima. Assim, cuidar da saúde mental deve ser foco de atenção permanente. 

Para terminar, nesse dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, nunca é demais reforçar a importância da implementação de medidas urgentes para por fim a esse ciclo crescente de violência, bem como da importância de um atendimento de qualidade, rápido, empático e acolhedor para todas as mulheres, em qualquer parte do país. 

*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.

Fonte: Jairo Bouer
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