No último domingo a influenciadora Vanessa Lopes, 22, falou pela primeira vez no Fantástico (Globo) sobre o motivo que a fez desistir do BBB 24. Ela afirmou ter enfrentado um quadro de psicose aguda.
Segundo ela, era como se não entendesse o que era imaginação e o que era real à sua volta. A causa da perda de contato com a realidade teria sido o estresse e a ansiedade. Mas estresse excessivo pode mesmo provocar um quadro agudo de psicose? Pode sim, bem como uma série de outras causas.
No último domingo também foi noticiado o caso de um médico de 44 anos que teria sofrido um quadro agudo de psicose, danificado vários apartamentos, inclusive o seu próprio, em Patos de Minas (MG), e que acabou sendo levado para a delegacia da cidade. A causa teria sido o uso de uma medicação para dormir misturada com álcool.
Psicose é um processo em que acontece uma “quebra” de contato com a realidade, com uma desorganização importante do pensamento, falas e atitudes incoerentes, com delírios (crenças irreais, como ideias de perseguição, por exemplo) e alucinações (alterações da percepção) que podem ser auditivas, visuais ou sensoriais. Esses sintomas podem provocar uma série de comportamentos inapropriados, como a agressividade, que inclusive colocam a pessoa ou outros em situação de risco.
Exemplos de transtornos e doenças em que a psicose pode surgir são esquizofrenia, depressão, transtorno afetivos bipolar, transtorno obsessivo-compulsivo, depressão puerperal, tumores em algumas áreas do cérebro, Lúpus, Alzheimer, entre outros.
Um quadro psicótico agudo é uma psicose de curta duração, que pode demorar de algumas horas a alguns dias. Em geral, nesse tipo de situação, existe algum gatilho, um fator desencadeante mais imediato, como uso de drogas (crack e cocaína, por exemplo), mistura de álcool com medicamentos ou substâncias com ação no sistema nervoso central, uso de alguns remédios (como corticoides), privação de sono, quadros intensos de estresse, entre outras possibilidades.
Não é incomum que a pessoa em psicose acredite firmemente que sua percepção do que está acontecendo é real, independente dos argumentos e contradições apontados por amigos, familiares e parceiros. Ao não perceber as mudanças no seu comportamento, a pessoa pode resistir a procurar ajuda, o que dificulta o diagnóstico e o tratamento adequados.
O mais indicado para quem convive com alguém que enfrenta um quadro de psicose é não confrontar a pessoa (lembrar que os delírios e alucinações são reais para ela), tentar “entrar” no delírio de forma a construir algum tipo de aliança que garanta acesso a tratamento, e evitar que a pessoa tenha a seu alcance objetos perigosos, como armas, facas ou pedaços de vidro.
Nos casos mais agudos, além da remoção da causa que pode estar levando à psicose (situação de estresse, drogas, medicamentos, etc.), é possível que o médico prescreva algum medicamento com efeito antipsicótico (neuroléptico) para auxiliar na organização dos pensamentos e comportamentos.
Em quadros mais crônicos, como na esquizofrenia, o acompanhamento médico, bem como o uso de remédios, pode ser de longo prazo. As terapias (como a cognitivo-comportamental) também podem instrumentalizar a pessoa a reconhecer dificuldades e sintomas, e a aprender a lidar melhor com suas questões.
É importante lembrar que amigos e familiares são fundamentais no momento em que alguém enfrenta um quadro agudo ou crônico de psicose, e podem fazer toda a diferença para que a pessoa atravesse essa fase de forma mais estável e segura.
*Jairo Bouer é médico psiquiatra e escreve semanalmente no Terra Você.