Você costuma fazer exames e check-ups? Testes laboratoriais, mamografias e colonoscopia fazem parte da sua rotina? O que deve guiar essa periodicidade? Até quando fazer esses controles? Será que com o aumento de expectativa de vida da população todas essas avaliações são mesmo necessárias para todo mundo?
Um artigo recente do jornal The New York Times discute essa questão. Dados da U.S. Preventive Services Task Force, um importante painel de especialistas norte-americanos em prevenção de doenças e medicina baseada em evidências, sugere, por exemplo, que a mamografia pode ter poucos benefícios a partir de 75 anos, e que a colonoscopia entre 76 e 85 anos também apresenta poucas vantagens, devendo ficar reservada apenas para determinadas pacientes. Mas e se eu viver 100 anos? Posso abandonar mesmo esses exames?
Nesse cenário de uma vida cada vez mais longa, na hora de definir que exames e controles devem ser feitos de forma regular, podem pesar fatores como até que idade os pais viveram, a presença ou ausência de determinadas condições de saúde, atividade física regular, alimentação saudável, tabagismo, entre outros.
Genética e estilo de vida
Qualidade de vida e genética podem afetar a expectativa de vida e definir que tipo de testes podem ser úteis, desnecessários ou até prejudiciais. Essas questões também afetam outras decisões sobre a saúde das pessoas mais velhas como uso de remédios, esquemas terapêuticos, cirurgias e outros tratamentos. Nesse sentido, não é só a idade que deve ser levada em consideração e, sim, os demais fatores que podem impactar a saúde.
Muitos especialistas defendem que dados de expectativa de vida trazem informações mais completas, o que pode levar a decisões clínicas mais acertadas. Assim, sociedades médicas têm revisto suas recomendações em uma série de doenças para pessoas mais velhas: testes de câncer do pulmão, avaliação de câncer de próstata, controle para de câncer de mama a partir de 55 anos, entre outras.
Mas apesar de ser um dado melhor do que a idade, a expectativa de vida de uma população é apenas uma estimativa, uma média estatística, que não revela quanto cada indivíduo vai viver.
A longevidade de cada um
Existe uma variação importante de longevidade entre indivíduos de uma mesma população, que é influenciada por genética, condições prévias de saúde, estilo de vida, acesso aos serviços de saúde, diferenças socioeconômicas, nível de educação, entre outras inúmeras possibilidades.
Assim, da mesma forma que médicos e profissionais de saúde usam ferramentas para avaliar riscos e estimar que decisões se encaixam melhor à realidade de cada individuo, as próprias pessoas hoje contam com ferramentas online que ajudam nessa avaliação.
A Know Your Chances, calculadora adotada pela página do site do National Cancer Institute, do governo americano, leva em conta sexo, idade, raça e uso de cigarro para avaliar riscos de câncer nos próximos 20 anos.
Existem hoje várias dessas calculadoras online para estimar riscos de doenças cardíacas, câncer de mama, câncer de pulmão, entre outras condições. Mas muitas delas podem avaliar apenas riscos específicos, e não trazer um risco mais global.
Talvez um a mais completas delas seja a ePrognosis, da Universidade da Califórnia São Francisco, que usa mais de 12 escalas geriátricas para estimar riscos de mortalidade e desabilidades. Essa plataforma ainda traz o recurso “time to benefit”, que mostra que exames e condutas podem ser importantes para aquele momento de vida.
Estimativas e decisões
Ter acesso a esse tipo de informação pode ajudar as pessoas a adotar hábitos mais saudáveis e não se sentir pressionada a realizar testes, exames e tratamentos que podem ser desnecessários ou até danosos para sua saúde.
No outro extremo, as tabelas e dados podem mostrar que pessoas com uma longa expectativa e qualidade de vida, eventualmente, podem ter benefícios em fazer um tipo de exame que talvez não fosse mais recomendado para a sua idade.
É claro que no melhor cenário médicos e pacientes deveriam discutir, com base nessas informações, o que é melhor para cada indivíduo, e lembrar que a decisão de fazer ou não exames e tratamentos deve ser baseada na história clínica, na realidade de cada paciente e no seu desejo. A expectativa de vida deve ser um guia, não um limitador ou definidor do que deve ser feito. E você? Como tem feito essas escolhas?
*Jairo Bouer é médico psiquiatra, comunicador e publica suas colunas no Terra Você às sextas-feiras.